Anahí voltou as aulas naquela segunda. Ainda não se sentia bem, mas precisava continuar a vida. Ela poderia imaginar quanta matéria teria que colocar em dia, e o tanto de livros que teria que ler por conta da ultima semana em que tinha ficado sem aparecer, e assim mesmo aconteceu.
Os professores não a pouparam e passaram tudo o que ela tinha perdido, tudo o que teria que estudar e ler, e deram a ela um prazo de uma semana para colocar tudo em dia, estava perdida, pensou ela. Mas um professor em particular não se contentou apenas em enche-la de matéria, ele queria antes de mais nada entender o que havia acontecido.
O professor Fred, um senhor de cabelos já brancos, que aparentava seus 50 e poucos anos, de óculos e que só e olhar já podia se notar que se tratava de um homem muito inteligente, mesmo que você não soubesse de imediato que se trata de um professor. Esse senhor sábio queria saber o que havia acontecido com sua melhor aluna, não a mais exemplar, pois se tratava de uma jovem com seus caprichos e que as vezes aprontava das suas, mas a melhor aluna; aquela que entendia a matéria rapidamente, a que adorava os livros e que tinha como ídolo grandes autores. Por que parecia agora tão alheia a tudo isso? O que poderia ter acontecido para que a paixão pela literatura e vontade de aprender houvesse morrido em seus olhos? Não era correto um professor se meter assim na vida de uma aluna, mas era de uma aluna com futuro brilhante que se tratava, uma aluna da qual os trabalhos entregues sempre lhe renderam boas discussões, uma aluna que futuramente poderia se tornar uma autora ou editora de livros, quem sabe?! Então seria ainda pior se ele deixasse para lá.
Ele chamou Anahí no final de sua aula, as vezes ele fazia isso a fim de saber mais sobre alguma observação que ela tinha feito sobre algum livro, querendo saber mais de como ela tinha chegado a tais conclusões, mas dessa vez seria diferente. Ela que sabia que não tinha prestado a atenção devida na aula, teve medo de tomar uma bronca:
- Pegue uma cadeira e se sente, Anahí! - Ele ordenou e assim ela fez.
- Aconteceu alguma coisa? - Ela perguntou apreensiva.
- Andou doente, Anahí?
- Não, professor. Por quê?
- Você se ausentou a semana passada praticamente inteira, achei que estivesse doente. Pensei que fosse me entregar um atestado médico. - Anahí não soube o que dizer. - E então? - Ele insistiu.
- Foram problemas pessoais, professor.
- Então foram problemas familiares, creio eu.
- Não exatamente. - Ela estava ficando nervosa com aquela conversa. Não queria tocar no assunto, muito menos com um professor.
- Oras, Anahí. Eu preciso entender o que aconteceu, ou vou acabar sendo obrigado a abaixar sua média por conta de tantas faltas seguidas.
- Todos os outros professores me passaram a matéria perdida e me deram um prazo para colocar em dia, o senhor poderia fazer o mesmo.
- Isso aqui é uma universidade, Anahí. Você não está mais no colegial, não pode faltar só porque te deu na telha e achar que pode repor as aulas depois ou recuperar a matéria. Existem outros alunos dispostos a dar 100% de si aqui, se você não se importa o suficiente deixe a sua vaga para alguém realmente disposto. - O queixo de Anahí caiu. Não acreditava no que estava ouvindo.
- O senhor está sendo injusto. Eu sempre entreguei meus trabalhos, sempre me dediquei a esse curso tanto ou mais do que os outros. Foram apenas quatro dias de ausência.
- Quatro dias de uma ausência sem sentido, que colocou seus colegas mais à frente do que você. Os colegas que querem estar aqui! Eu preciso saber o que aconteceu para conceder ou não uma exceção e te passar a matéria atrasada.
- Eu já disse que são problemas pessoais. - O professor então percebeu que ela não falaria, logo uma ideia lhe ocorreu.
- Se eu te pedisse um titulo e um livro, qual seria?
- Como? - Anahí ficou surpresa com a pergunta. Não entendia aonde ele queria chegar.
- Um livro, Anahí. Está lenta hoje... Me fale o nome de um livro qualquer, agora! - Anahí o encarou por um instante e então respondeu.
- O Primo Basílio. - O professor então sorriu.
- Um clássico.
- Sem dúvidas.
- Esse livro se trata de traição. É isso Anahí, andou traindo por ai? Isso realmente explica as faltas. - Anahí então se irritou. Professor mais atrevido aquele, quem ele pensava que era?
- Não, professor. Nesse caso me encaixaria mais na posição de Jorge.
- Entendo. Mas agora suas faltas já não são mais justificáveis. Não que antes fosse, claro...
...
Alfonso simplesmente não conseguia trabalhar. Por mais que tentasse se concentrar ele estava tão completamente devastado por dentro que não conseguia pensar em nada. Tinha um trabalho importante, teria que criar um comercial para uma marca de tênis, e se conseguisse poderia ser promovido na agência. Ele tinha esperado por aquela conta há tempos, mas agora que tinha finalmente conseguido de nada adiantava, pois não tinha mais com quem dividir essa alegria.
...
Anahí já estava tão irritada com seu professor, ele estava passando dos limites com ela. Ele não tinha o direito de julga-la, muito menos de se intrometer em sua vida daquela forma:
- Traição não é algo fácil de se digerir. - Disse ela.
- Eu não disse isso. Mas seja quem for que te traiu, conseguiu mais do que só isso, não? Conseguiu te tirar do foco!
- Eu tenho um foco! - Ela se defendeu - Achei que poderia concluir meus objetivos ao lado da pessoa que amo, estou aprendendo a viver com essa decepção. Não é fácil acabar com o amor da sua vida! - Ela disse já irritada. O professor tinha conseguido a fazer falar.
- Amor da vida? - Ele riu - Você é jovem demais para ter um "amor da sua vida". Não chegou nem na metade do que tem pra viver ainda, e quem foi que disse que na vida basta um amor?
- Eu realmente não quero falar com isso com o senhor, professor. Acho melhor eu ir. - Pediu tentando manter o controle. Não era o lugar nem a pessoa certa para isso.
- Como quiser, mas antes vou dizer o que eu quero que você faça para recuperar sua média. Tenha outros amores, amores menos românticos, amores reais. Essa semana você vai experimentar coisas que nunca experimentou, dar novas chances para coisas que não gosta e escrever sobre cada experiencia. Me entregue um relatório completo ao final dessa semana e veremos o resultado!
Ela não entendeu o objetivo dele, mas achou melhor concordar logo, ou ele não deixaria ela sair dali tão cedo.
Professor maluco, pensou ela ao sair da sala.
...
Mas e Alfonso? Como lidaria com seu atual estado de tristeza? Queria ele ter alguém que lhe aconselhasse também, e talvez ele tivesse uma ou duas pessoas dispostas a ajudar... Assim como talvez fosse melhor não ouvir certos conselhos...
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New Love.
RomanceAnahí, 23 Anos, estudante no último ano da faculdade de letras. Alfonso, 25 anos, formado em publicidade. Trabalha em uma pequena agência local. Se conheceram ainda adolescentes, na época do colégio. Descobriram muitas coisas juntos, poderiam ter...