PRÓLOGO

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— Segure a respiração... foque no alvo... solte a corda.

A flecha passou ao lado da árvore.

— Você precisa se concentrar Ratonken!

— Desculpa pai...

— De novo.

Ratonken era um menino de sete anos que vivia em uma pequena tribo Arawak que contia cerca de cem pessoas entre homens, mulheres e crianças. Seu pai, Tantte, era o melhor caçador da tribo, um índio respeitado por todos, e o principal homem por trazer comida a todos. Ele estava ensinando seu filho a caçar, mas o menino não levava jeito para a coisa.

Eles estavam a quilômetros da tribo, seu pai o levou para a caçada, ele já havia pego um grande Caititu* e já fazia um tempo que estava ensinado seu filho a usar o arco e flecha. Ratonken removeu outra flecha da aljava, posicionou em seu arco e puxou a corda, concentrou-se, mirou seu alvo e soltou a corda, esta passou mais longe do que a anterior, seu pai baixou a cabeça e bufou, mas não disse nada. Mais uma vez ele removeu outra flecha, a última da aljava. Com o arco em sua mão esquerda e a flecha na outra ele olhou para seu pai, Tantte não olhava para ele, não olhava para o alvo, mas seus olhos estavam abertos e parecia que ele olhava para algo inexistente.

— Pai?

— Shhhh — Exclamou ele levando o dedo a boca.

Agora ele entendeu, seu pai não estava olhando, mas estava escutando, porém Ratonken não escutava nada, ele começou a olhar em volta procurando por algum animal, mas não havia nada ali, nenhum som que ele pudesse escutar, então de repente seu pai escuta, não entende direito o que está acontecendo, parece como gritos e farfalhos de queimada.

— Algo não está certo... Ratonken! Recolha suas flechas e depois volte, você sabe o caminho, eu preciso voltar.

— Pai o que houve?

— Eu não sei — ficou quieto escutando por mais alguns segundos — recolha suas flechas e volte antes do anoitecer.

Dito isso ele se foi. Deu as costas e tentou voltar o mais rápido que pode.

Ratonken que estava segurando sua última flecha na mão direita posicionou-a no arco, respirou fundo, mirou, puxou a corda e dessa vez escutou em sua mente as palavras de seu pai "quando soltar a corda, você guiará a flecha até o alvo, continue posicionado e olhando para ele, até que flecha chegue lá" Ele sempre se perguntou como aquilo era possível, como guiar uma flecha, nunca entendeu de fato aquela frase, até hoje, sem a presença de seu pai, sem sentir sua pressão ao lado, o menino soltou a corda, não piscou, não se moveu, olhou atentamente o caminho e guiou sua flecha até o centro da árvore na área descascada.

— Isso!

Ele comemorou, olhou para o lado e se lembrou que estava completamente sozinho, seu pai não estava presente para ver seu primeiro acerto, para poder sentir orgulho de seu filho.

Ratonken apesar de ter se distraído pela sua conquista rapidamente se lembrou das palavras do pai, ele precisava recolher suas flechas e voltar para tribo. Ele foi até a árvore onde acertou sua flecha, mas quando foi retirá-la, pensou melhor, não, vou deixá-la para mostrar ao meu pai que eu consegui. Então contornou a árvore e seguiu em linha reta para procurar as flechas perdidas, se tinha algo em que ele era bom era em encontrar objetos, na sua tribo as crianças tinham uma brincadeira onde uma delas pegava uma pedra marcada, e jogava no meio do mato sem que as outras olhassem, e depois os outros iam procurá-las, Ratonken sempre achava a pedra, mas nunca gostava de jogá-la.

RatonkenOnde histórias criam vida. Descubra agora