3650 Dias Depois de Nós

Aquele do "We can be heroes"

5 anos antes

Emma entrava num bar de esquina em Arbury, Inglaterra. Queria esquecer o dia complicado e exaustivo de trabalho. Naquela manhã havia enviado os documentos para, mais uma vez, tentar a vaga de professora na universidade de Cambridge. Já tinha uns dois anos que estava tentando e tinha certeza que dessa vez conseguiria sua vaga como professora de Arquitetura.

Entrou no bar e sorriu na direção de Tinker, ou melhor, Rose -a mais nova detestava o apelido. Emma esticou os braços na direção da amiga e lhe deu um beijo estalado na bochecha, arrancando um revirar de olhos da outra loira.

-Ei, como foi?

-Bom, Abigail quer que eu refaça todo o projeto. Eu me recusei! Desde o começo avisei que aquela merda de programa que eles pagavam não ia funcionar e apresentar coisas desconexas com a realidade. Na hora de projetar a maquete para o cliente deu tudo errado! -Swan passou as mãos pelos fios loiros e respirou fundo. -Eu só não pedi demissão porque ouvi a voz de alguma entidade falando "calma aí, sapatão. Temos contas!".

-Eu ainda acho que a Aby faz isso pelo término. -Tinker deu de ombros e bebeu sua cerveja. Emma ergueu uma sobrancelha e negou com a cabeça. -Ah, pelo amor! Você não vê que ela faz essas coisas de propósito? Não é possível...

-As vezes acho que sim e as vezes que não. Eu sempre torço para que não. Não quero acreditar que ela seja tão babaca a esse ponto. -Swan levantou a mão para uma garçonete e pediu uma cerveja. -Já faz mais de um ano, Tinker. Não pode ser que ela seja tão maluca assim...pode?

-Não só pode como eu tenho certeza! -McIver sorriu em condolências pela amiga. -Ela ainda não superou que você fode bem e é uma desalmada sem coração e amor.

-Você não tem um pingo de vergonha na cara, né? -Swan riu. -Eu gostava dela.

-Mas não amava.

-Eu nunca amei ninguém, Rose. -Emma pousou a cerveja na mesa e se ajeitou no estofado. -Você sabe que eu não amei.

-Eu sei, mas ela deve ter achado que seria diferente dessa vez. Vai ver ela achou que o chá de buceta resolveria seus problemas de relacionamentos...

-Pois achou errado! -Emma bufou. -Não gosto da ideia de me ver presa a ninguém.

-Aham... -Rose concordou apenas para não discutir com Enma. Discordava de todas as falas de Swan sobre sua incapacidade de amar, achava apenas que ela não tinha achado a pessoa certa. Pelo menos, não até aquela noite. -Fiquei sabendo que hoje vai cantar uma garota nova aqui. Disseram que ela era boa.

-Se for boa igual a última vamos embora e não pagarei taxa de cover! -Swan falou e ouviu a risada de Tinker. -O que tinha de bonita a garota tinha de desafinada.

-Tadinha, Emma! -Rose riu mais uma vez. -Pegou pesado.

-Eu fui sincera só. -Swan se encostou no estofado do banco e sorriu contra o copo ao notar as luzes diminuindo a claridade e uma mulher indo até o palco.

Rose virou o corpo na outra direção para observar a nova cantora e Emma, bom, Emma estava em transe.

Pela primeira vez na vida estava comprovando que existia paixão à primeira vista. Naquela noite ela denominou o sentimento dessa forma, mas algum tempo depois sabia que era amor.

-Boa noite, gente! -a mulher no palco falou perto do microfone e Swan sentiu seu corpo se arrepiar inteiro com o tom de voz mais rouco. -Meu nome é Regina e hoje é meu primeiro dia aqui. Então peguem leve! -ela sorriu e deu uma piscadinha para o público.

Emma não tinha reação. Regina era a mulher mais linda do mundo. Era a mulher mais linda do universo. Se Deus existia e criou cada um, bom, nela ele tinha se demorado mais. Os fios pretos e brilhantes na cabeça de Regina combinavam perfeitamente com a calça preta e a camisa social branca aberta que revelava boa parte do seu sutiã rendado. A mulher pendurou a jaqueta preta na cadeira e voltou ao microfone.