Capítulo Três

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- Yoongi foi diagnosticado com transtorno dissociativo de identidade. – Ajeitou os óculos novamente sobre o nariz e empurrou sutilmente a pasta para que Yunah pudesse pegá-la, apontando a foto do rapaz ainda jovem. – Ele tem vinte e nove anos e chegou aqui com quase vinte e três. Era bem novo na época, tinha um rosto quase infantil e acho que foi exatamente isso que mais chocou a todos. – Enquanto falava, Yunah folheava os arquivos. Dentre eles, encontrou algumas reportagens com manchetes que, pela imagem do rapaz no prontuário, não conseguiu evitar a expressão de surpresa. – Yoongi foi acusado de assassinar seu pai, mãe e irmão mais velho com tiros à queima roupa durante uma crise; o irmão ainda dormia quando tudo aconteceu.
"Quando o recebemos aqui, foi realmente assustador. Meu filho tinha a idade dele e me dava arrepios ver que alguém daquela idade poderia agir dessa forma tão fria. Confesso que tentei não pegar o caso, admito que era meio pesado ver meu filho nele cada vez que o olhava. Mas como o diagnóstico já veio pronto e os advogados fizeram questão que o colocassem nesse hospital, eu fui a escolhida por ter mais tempo de experiência para lidar com toda a situação.
Ele chegou aqui praticamente mudo, com olhar completamente morto. Alguns achavam que ele escolhia não falar para não revelar detalhes do crime, outros que isso era o resultado do ponto extremo em que chegou seu transtorno... Eu nunca acreditei em nenhum dos dois. Ele simplesmente não parecia se lembrar, era genuíno como ele se esforçava para se lembrar no começo, bem característico pelo pós-traumático. Mas depois de um tempo, ele parece ter se desinteressado, desistido de tentar lembrar e me lembro que foi logo após a última vez que o advogado dele apareceu por aqui. Era tão calado quanto Yoongi, passou direto pela recepção depois da liberação, gastou três minutos com ele e saiu. Depois disso esse garoto renunciou, nem sofria mais por não conseguir se lembrar. Era como se ele realmente não se importasse."

Yunah ouvia atentamente a história que era contada, engolindo a seco, quase como se assistisse a um filme.

Aquela seria a primeira vez que lidaria com um paciente que havia chegado a um ponto tão extremo. Não pode evitar o arrepio subindo pela sua espinha ao continuar vendo todos aqueles jornais, onde eram explícitas as fotos da cena do crime. Não foi um tiro à queima roupa, foram pelo menos três em cada um.

- Levei cerca de dois anos para conseguir uma expressão genuína dele. E a expressão foi de nojo, quando brinquei que o piano em que ele tocava não tinha tido as teclas higienizadas e o paciente anterior estava com o dedo praticamente morando no nariz antes de tocar. – Riu pelo nariz.

- Como você conseguiu... Digo, como consegue agir tão naturalmente com ele? Ele é um assassino. – Yunah olhava dos papéis em sua mão para o rosto de Eun-ji, que franziu o cenho. – Quem faz uma coisa dessas? Ele devia ter sido preso ou pelo men... – Dr. Eun-ji a interrompeu, dessa vez, com uma voz e rosto firmes.

- Hwan Yunah, você é médica, formada em psiquiatria. Não tem diploma de advogada, muito menos juíza. – Yunah engoliu e direcionou seu olhar para o chão. – Seu papel durante minha ausência não é julgá-lo; ele já passou por isso no passado e o resultado é ele viver aqui. Sua tarefa é cuidar para que ele se mantenha sob controle, apenas isso. Entendido?

Balançou a cabeça imediatamente em afirmação. Sabia que Dr. Eun-ji estava certa.

Quando fez seu juramento para exercer a medicina, prometeu não julgar e guardar os segredos que lhes fossem revelados. Mas, àquela altura, não imaginava que teria que lidar com assassinos.

- Continuando, - A mais velha limpou a garganta mais uma vez e retomou. – Com o tempo fui conquistando sua confiança e ele passou a me tratar com mais consideração, se assim posso dizer. Chegou até a me contar sobre um sonho recorrente que vem tendo há um tempo, mas acredito que não tenha relevância nesse meio todo, não está associado a nada relatado até o momento. Acredito que seja apenas o subconsciente se esquivando de memórias reais. - Se curvou levemente sobre a mesa, apoiando os cotovelos enquanto juntava suas mãos, cruzando os dedos. – Essa é basicamente a história dele. Dê uma lida nos arquivos, se lembre do seu propósito aqui e saiba que sempre haverá seguranças rondando pelos corredores, para garantir que faça seu trabalho em segurança. Tenho certeza de que tudo correrá bem.

Ashes | Min Yoongi Onde histórias criam vida. Descubra agora