Capítulo 11

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Entrei em casa com a roupa molhada e tremendo de frio.

- Esse Otto... ele estuda no Santa Marta? – meu pai disse ficando desconfiado novamente já que agora estava completamente livre do controle de pensamentos. Eu teria que mentir muito bem agora para que tudo fizesse sentido para ele.

- Não...

- Então o que vocês estavam estudando? – ele me interrompeu.

- Confeitaria – eu disse sorrindo, orgulhosa da rapidez em que pensei nisso.

- Ah que coisa maravilhosa! – o rosto dele se iluminou. Era a mentira perfeita!

Abri a mochila encharcada e peguei o embrulho que Lourdes tinha feito com os Cookies.

- Ele fez esses Cookies hoje... – eu disse oferecendo para meu pai, que pegou um de aveia e canela e deu uma grande mordida.

- Hum! Tem talento esse rapaz – ele disse de boca cheia e enfiou o restante do Cookie na boca.

Minha mentira perfeita tinha acalmado Carlos e eu fui me dirigindo ao banheiro para tirar as roupas molhadas e tomar um banho quente.

-Mas onde você conheceu ele?

-Internet pai... em um grupo de confeitaria no Facebook – eu falei tentando novamente ir em direção ao banheiro.

- Mas ele dá aulas de confeitaria? É isso?

- Não pai – disse já perdendo a paciência – ele é aprendiz. E se ofereceu para me ensinar algumas receitas. Só isso.

Ele não pareceu satisfeito com a resposta, mas me deixou ir.

Fui direto para o banheiro e tirei as roupas molhadas. Vesti um roupão e andei impaciente de um lado a outro no pequeno cômodo.

Estava acontecendo de novo. Minhas mãos começaram a suar, meu coração batia tão forte que eu podia senti-lo contra meu peito. Minha respiração foi ficando acelerada à medida que o ar ficava mais escasso.

Sentei no chão abraçando minhas pernas e tentei lembrar dos exercícios de respiração que Otto tinha me ensinado. Inspirei fundo prendendo o ar e imaginando que ele estava preenchendo todo o meu pulmão. Depois imaginei o ar subindo até minha cabeça, preenchendo todos os espaços até o momento de liberá-lo lentamente pelo nariz, relaxando o corpo. Fiz isso algumas vezes até que toda aquela agonia que dominava meu corpo e mente fosse embora.

Quando saí do banheiro, depois de muito tempo e finalmente de banho tomado, meu pai me chamou na sala. Ele estava sentado no sofá, assistindo o canal de esportes e bebendo uma cerveja direto na garrafa.

- Oi Pai... – eu me aproximei exausta.

- Já bebeu cerveja?

Eu percebi que a voz dele estava engraçada e que já havia algumas garrafas vazias ao lado dele. Ele me ofereceu a garrafa.

- Não... – eu disse rindo e desconfiada.

- Você já tem quase dezoito anos... daqui a pouco vai poder beber e eu prefiro que você comece aqui comigo. Venha... tome um gole! – ele estendeu o braço me oferecendo a garrafa com insistência.

Sentei ao lado dele, peguei a garrafa com cautela, a coloquei na boca e a virei encostando o líquido nos lábios para saborear. Estava muito gelada e era bem gaseificada.

- E aí? – ele perguntou ansioso.

- Até que é gostosa...

- Sua mãe odiou cerveja na primeira vez que bebemos. Nós roubamos algumas garrafas do meu pai e fomos beber escondidos na garagem. As cervejas estavam quentes e sua mãe disse que tinha "gosto de mijo". – Ele disse com o semblante tranquilo e sorridente, envolvido por um sentimento nostálgico. Era como se ele pudesse ver a lembrança bem na frente dele.

À Flor da PeleOnde histórias criam vida. Descubra agora