Erwin se encontra parado no meio da sala. Dali, o barulho de água é muito fraco, mas é possível ouvir através da porta aberta do quarto de Levi.
Sua mente vagueia automaticamente para a última conversa com o moreno antes de sua viagem. O sorriso que tomava conta do rosto deles, a proximidade, o olhar quase tímido de Levi - ele já havia visto o menor ficar daquela forma alguma vez na vida? Justo Levi, que era sempre tão certo e seguro de si?
Ele tinha deixado a casa dos dois com um plano muito claro: Iria para a casa dos sogros com Lilly conforme o combinado, participaria do noivado do cunhado e do dia de ação de graças e, assim que voltassem, terminaria com Lilly.
Eles não tinham nada haver.
Lilly é linda e inteligente, sem dúvidas. Também possui uma carreira brilhante como fisioterapeuta. Tudo isso o atraiu no começo e fez com que aceitasse sair com ela. Entretanto ela também é mimada e muitas vezes maliciosa, quase maldosa. Algo que foi se mostrando aos poucos, e também o incomodando aos poucos.
De repente, houve um pedido de casamento. E também um sim. Ele não não sabia dizer muito bem o motivo, porém é a partir daquele ponto que ele tinha passado a se questionar: ele a ama? Ele quer passar a vida inteira com ela? É ela que ele quer ao seu lado para criar uma família e enfrentar todos os problemas?
E cada vez que ele repetia essas perguntas, era em outra pessoa que pensava. Alguém que está ao seu lado há muito mais tempo. Que o entende sem dificuldades e compartilha tudo sem cobranças. Tinha sido assim também que ele passou a reparar na forma que essa pessoa o olhava, o tratava e até mesmo o tocava.
Por anos, Erwin tinha escutado que eles eram namorados. E eles apenas riram daquilo. Davam de ombros ou entravam na onda quando queriam pregar uma peça. Só que nos últimos meses ele passou a refletir de verdade sobre o assunto.
Levi o trata como um namorado. O escuta e aconselha como um. Cuida de suas demandas desde sempre. Deixa seu café da manhã pronto para garantir que ele irá comer direito antes de um dia cheio de trabalho. Sabe até mesmo da sua senha do banco. E em alguns momentos, foi difícil admitir, porém é real, ele olhou para o moreno dessa forma sem perceber. Ele desejou Levi antes que se desse conta de que aquilo era desejo.
Uma vez consciente disso, Erwin tinha que confessar. Ele tinha que dizer para Levi mesmo que a resposta do amigo fosse de que aquilo era um erro ou que ele entendeu tudo errado.
Só que a resposta é que ele está certo. E ele nunca viu Levi tão... Perfeito, com aquele sorriso e olhos brilhantes, e quase envergonhado por confessar também. Então ele promete que vai terminar tudo e eles ficarão juntos como deveriam ter feito há anos.
E agora eles estão ali.
Seu olhar encontra Levi na sala mal iluminada. A expressão do menor passa de surpresa para a neutralidade em segundos, mas ele não se move. Ele continua no meio do caminho, a toalha usada em seu ombro, provavelmente deixando sua camiseta branca úmida, enquanto seus pés encontram o assoalho frio, pois eles ainda não ligaram o aquecedor.
"Eu achei que você ia ficar com a Lilly", Levi quebra o silêncio entre eles, decidindo se mover em direção a cozinha, passando direto por Erwin.
Erwin o segue, "Bem... Eu ainda moro aqui, certo?".
"Sim. Seu nome está no contrato de aluguel".
Ótimo. Aquele é o Levi que ele conheceu há 13 anos. Direto, de poucas palavras, e quase defensivo. O moreno se ocupa em encher um copo com água gelada, parecendo fazer um esforço especial para não olhar Erwin nos olhos.
Erwin apenas para ali, se apoiando na ilha na cozinha. Ele pensou em tantas coisas nos últimos dias, em tantas formas de iniciar aquela conversa, entretanto nenhuma delas parece correta. Ele suspira, passando a mão pelos cabelos loiros, os bagunçando, da exata forma que Lilly odeia.
"Eu devia ter ligado e te contado".
"Você não me deve explicações".
Ouch.
"Levi...", ele fala um pouco mais baixo, meio acolhedor. Seu tom lembra a si mesmo do tom que ele usa com alguns pacientes quando precisa consolá-los e ele faz uma pequena careta para si mesmo.
Levi deixa o copo sobre a pia, sem lavá-lo, o que é bastante alarmante, e encara o loiro. Seu olhar passaria ideia de uma quase indiferença para a maioria das pessoas, porém Erwin o conhece o suficiente para reconhecer uma pontada de decepção por trás da faixa de neutralidade.
"Erwin, você não me deve explicações", a voz é tão controlada que soa artificial. Quantas vezes Levi repassou aquela fala no banheiro?, "Eu sabia que tudo poderia mudar a qualquer momento", ele dá de ombros, "Se você está certo disso, está tudo bem", o moreno termina e, sem mais, sai da cozinha.
Erwin o acompanha com o olhar, sentindo-se muito pior do que por todo caminho desde o momento que soube que Lilly está grávida.
Ele nunca esteve certo. E está menos ainda agora que viu Levi.
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Não me matem. No próximo capítulo as coisas começam a fazer sentido.
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[Eruri] Por quanto tempo?
FanficErwin e Levi são amigos desde a faculdade e compartilham uma vida próxima. Desde o começo, Levi luta para esconder seus sentimentos por Erwin, enquanto Erwin se vê questionando constantemente o que sente pelo melhor amigo. É apenas prestes a se casa...