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— Trabalhar na lavanderia?

Eu rio, me acomodando em minha cama enquanto ajeito o notebook para ver Michel melhor.

— O.k., você diz isso como se fosse a pior punição que alguém pudesse ter.

Na tela, Michel tira o cabelo dos olhos.

— É só bizarro — ele diz. — Você consegue imaginar se meter em confusão no Pecos e eles te mandarem, tipo, lavar os uniformes de educação física? Eles nunca ouviram falar em detenção na Escócia?

— Não é tão ruim, eu acho — digo a ele, e fico surpresa ao perceber que isso é verdade.

Não é que eu tenha amado botar a roupa de todo mundo para lavar durante as últimas semanas, mas ficar esse tempo com a Vanessa tem sido surpreendentemente não terrível. Seja o que for que derreteu entre a gente lá em cima das colinas permaneceu descongelado e, mesmo que eu ainda pense em Vanessa como uma Agente do Caos Elegante, tem sido até legal passar o tempo juntas, só nós duas.

— Hum, que cara é essa?

Pisco distraída para a tela.

— Quê?

— Você acabou de fazer uma cara — Michel diz, sorrindo. — Uma cara sonhadora. Pegou um highlander, Gi?

— Cala a boca — digo, revirando os olhos, mas Michel apenas ri de novo, sacudindo a cabeça.

— Não, eu conheço bem a cara de Gio Lima quando tem um crush e você fez essa cara. Eu já vi isso antes, eu conheço esse seu coração misterioso.

— Não fiz. E, não, você não conhece — respondo, mas meu coração está batendo um pouco mais rápido, e agora estou ficando corada, vermelha igual um tomate.

Consigo ver isso no pequeno retângulo no canto inferior da tela.

A porta se abre e Vanessa entra saltitando, seu rabo de cavalo castanho meio-escuro-meio-claro balançando.

— Ai, graças a Deus! — ela diz com entusiasmo, caindo em sua cama com uma distinta falta de graça real e, no meu notebook, Michel começa a berrar:

— Quem é? É a sua colega de quarto? Quero ver ela!

— Tá bom, tenho que ir, te amo, te amo, tchau! — digo apressada antes de fechar o notebook num gesto brusco.

Eu não falei de Vanessa para o Michel ou, melhor dizendo, não contei a ele que minha colega de quarto é também uma princesa, e algo me diz que, assim que ele a vir, ele vai saber.

Não que exista algo para saber, porque não tem. Eu não tenho um crush.

— Com quem você estava falando? — ela me pergunta, apoiando o queixo na mão e segurando um envelope pesado entre os dedos.

— Meu pai — minto, e então aponto para o envelope.

— O que é isso? — pergunto a ela, observando enquanto ela desliza um dedo pela aba e em seguida ouço o som do papel grosso rasgando.

— Isso, queridíssima Lima, é a liberdade — ela diz, e tento ignorar aquele “queridíssima” e como meu peito fica agitado ao ouvir isso.

É apenas o Idioma Vanessa. Todo mundo é “querido”, “amado”, “meu amor”. Às vezes acho que é porque ela não consegue se lembrar do nome da maioria das pessoas.

— Olha — ela diz, jogando o cartão pesado que veio no envelope para mim.

O cartão tem tantos selos e brasões em relevo e a caligrafia é tão intrincada que eu mal consigo ler, então seguro o cartão a distância, espremendo os olhos.

Sua Alteza Real; ginessaOnde histórias criam vida. Descubra agora