Parte I

16 3 0
                                    

CURITIBA, 1902...

O BAILE BENEFICENTE oferecido pela família Rodrigues na noite de Natal era o mais aguardado evento do ano. Nenhum outro evento se igualava em elegância e beleza.

Decorada com bolas coloridas, anjos brancos, estrelas douradas, laços vermelhos e pequenos embrulhos prateados de presentes, uma imensa árvore-de-natal recebia os convidados logo na entrada. A comida era preparada pelo chef mais renomado da cidade. A música era tocada pela melhor orquestra do Estado. O salão, com seu piso preto e branco, lembrava um tabuleiro de xadrez; as cortinas vermelhas, com seus bordados dourados, estavam presas para que a luz da lua entrasse pelas altas janelas, que estavam entreabertas para dar passagem à brisa suave da noite. Nas colunas brancas, como o mármore, pendiam pequenos castiçais com três velas acesas. Um grande lustre dourado estava suspenso no teto, exatamente no meio do salão e em cima das cabeças dos casais dançando.

Os cavalheiros presentes usavam seus melhores trajes e as damas trajavam seus melhores vestidos. Mas nenhuma das senhoritas presentes se comparavam à bela e inteligente Helena Rodrigues, a filha mais velha de Theodoro Rodrigues.

Helena tinha vinte e seis anos, tez pálida, bochechas levemente coradas e lábios rosados. Os longos cílios faziam com que seus olhos verdes parecessem duas esmeraldas. Seu cabelo, da cor do mel, estava preso apenas por uma fita azul. Um delicado colar de pérolas estava preso ao seu pescoço. Seu vestido era de um tom de azul-escuro, sem mangas, e com um decote discreto. Suas mãos delicadas, sem luvas, retorciam o leque de cetim azul.

Helena sempre fora uma mulher atenta a tudo e a todos, contudo, nessa noite, seus pensamentos estavam em outro lugar. Uma sensação estranha tomara conta de seu coração desde que tivera aquele estranho sonho.

— Algum problema, querida? — perguntou Eleonor, sua tia.

— Não, nenhum — respondeu Helena, com um sorriso.

— Você está um pouco inquieta — reparou a tia.

— Não é nada. Eu só estou um pouco cansada. Não consegui dormir direito ontem à noite por causa de um sonho que tive.

— Oh! Quer se recolher mais cedo? Posso avisar Theo...

— Não, tia, prefiro ficar. Além disso, quero ver a reação de Carlos quando der meia-noite.

— Ah, sim! Seu irmão vai ficar eufórico quando o Papai Noel aparecer! — Eleonor sorriu. Ela nunca se casou, por isso não tinha filhos, contudo, depois da morte de sua cunhada no parto do jovem Carlos, ela resolveu "adotar" os dois sobrinhos e ajudar o irmão na educação de ambos.

Quando Umberto, o mordomo da família, anunciou a chegada de mais um casal de convidados, Helena olhou para a porta do salão na esperança de encontrar um par de olhos de um azul intenso vasculhando o salão à sua procura. Ela queria vê-lo sorrir mais uma vez, queria ser tomada nos braços dele de novo e, principalmente, queria ser beijada outra vez pelo seu estranho cavalheiro.

"Pare imediatamente, Helena, foi só um sonho. Nada mais."

— Mas parecia ser tão real...

💘💘💘

HELENA DORMIA TRANQUILAMENTE em seu quarto quando alguém cobriu sua boca, impedindo-a de gritar. Contudo, ao fitar aquele par de olhos azuis, um sentimento de segurança apossou-se de seu coração e ela parou de se debater na cama.

— Shhh — disse o estranho.

Helena não conseguia parar de encará-lo. Ele era lindo. O homem mais bonito que vira em sua vida! E mesmo ali, na escuridão de seu quarto, ela pôde perceber que seus cabelos eram negros como a noite e um pouco compridos; seus olhos eram de um azul intenso e penetrante; seus lábios eram levemente carnudos; uma barba rala cobria seu rosto e uma cicatriz atravessava seu olho esquerdo. O tecido negro da camisa se ajustava perfeitamente em seus braços.

Amores através do Tempo (coletânea de contos românticos)Onde histórias criam vida. Descubra agora