Parte I

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ESTAVA CHOVENDO QUANDO saí de Port Angeles e peguei a rodovia 101, rumo a Forks. Grossos pingos de chuva caíam do céu acinzentado, trovões podiam ser ouvidos ao longe e ventos fortes vindos do mar anunciavam a chegada de uma tempestade. Embora a neve já tivesse há muito derretido, a rodovia estava perigosamente escorregadia, e, volta e meia, a caminhonete derrapava na pista.

Por sorte, a estrada estava tranquila naquela tarde de quinta. Não havia caminhões trafegando por ela, só uns poucos carros.

Se concentrar no trajeto para casa seria algo fácil de fazer — afinal, esse é o meu percurso duas vezes por semana —, se meus pensamentos não fossem tomados pela lembrança de uma certa mulher.

Desde que a vi pela primeira vez pela vitrine da floricultura de minha irmã, há pouco mais de um mês, eu não conseguia parar de pensar nela e em seus sedosos cabelos azeviche, em seus brilhantes olhos negros e em seu belo sorriso.

No instante em que nossos olhares se encontraram, eu senti algo diferente. Foi como se — sei que isso vai soar piegas, mas é a verdade — uma corrente elétrica percorresse todo o meu corpo e aquecesse meu peito. Nunca, em toda a minha vida, havia sentido isso antes. Muito menos depois de uma simples troca de olhares.

Confesso que isso me inquietou a princípio, contudo, quando a vi pela segunda vez, essa inquietação sumiu e a vontade de vê-la novamente tomou conta do meu ser. Não só de vê-la, na verdade, mas de sentir o sabor de seus lábios rosados, de sentir a maciez de sua pele e de, principalmente, sentir seu aroma novamente. Uma mistura de rosas, de gotas de chuva e de algo só dela. Um aroma diferente. Totalmente inebriante. Algo... indescritível.

Infelizmente não consegui falar com ela. Não encontrei minha voz tamanho o nervosismo que sentia. Mas eu consegui sorrir. E isso foi uma coisa boa, eu acho, já que ela sorriu também.

Ah, e que sorriso! Parece que todo o seu rosto se iluminou quando sorriu, se é que isso é possível.

Quando entrei na trilha por entre as árvores, a pouco menos de um quilômetro de Forks, a chuva já havia cessado. Porém, o céu ainda estava fechado.

Estacionei a caminhonete em frente à casa que herdei dos meus pais, desci, descobri a carroceria, jogando a lona preta para o lado e comecei a retirar os caixotes de madeira. Após guardar todos os caixotes dentro de casa, ao lado da porta, decidi cortar um pouco de lenha para alimentar o fogo da lareira durante a noite, visto que ainda fazia muito frio e as madrugadas vinham registrando temperaturas ainda menores do que costumava marcar o termômetro.

Caminhei até o bosque que ficava perto de casa. Como já havia separado algumas madeiras no dia anterior, só me restava cortá-las.

Eu já estava a aproximadamente uma hora cortando lenha, e a cada investida do machado contra a madeira, sentia meu corpo se aquecer, vibrar com o exercício, e isso chegava a ser empolgante. Passei a golpear o tronco à frente com mais força e agilidade quando senti meu celular vibrando em meu bolso.

Havia esquecido completamente que ele estava ali.

Era uma mensagem de Jules. Eu não queria, mas sentia que precisava ler o que quer que minha irmã tivesse enviado.

E tenho que confessar que o pedido de Jules me surpreendeu: ela perguntou se eu poderia fazer uma coroa de flores para entregar amanhã com os outros arranjos. De acordo com minha irmã, uma jovem tem apresentação de ballet amanhã à noite e não consegue encontrar uma coroa de rosas, mais especificamente vermelhas, para completar seu figurino.

"Ela está desesperada, Colin! Precisa ajudá-la! Ela não pode se apresentar sem a coroa! Você é ótimo com arranjos, tenho certeza que vai conseguir fazer uma coroa de rosas maravilhosa!"

Amores através do Tempo (coletânea de contos românticos)Onde histórias criam vida. Descubra agora