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  — Aquele irresponsável do seu irmão! – Meu pai brada do outro lado da linha, com uma raiva que eu conhecia muito bem pois todas as ações rebeldes que vinham de Bernard Delyon resultavam na mesma. – Ele não sabe o perigo que corre longe dos meus olhos? Da minha proteção? Ele é filho da Unione Corse¹, como pode fazer isso com seu próprio legado?

  — Père², por favor. – Solto a fumaça, do cigarro que eu estava tragando, com uma calma característica minha. – Ficar gralhando nos meus ouvidos não vai resolver o problema, poupe suas palavras pro teimoso do seu filho!

  — Oh mon Dieu, que castigo é esse que eu mereci para ter dois filhos tão ingratos? – Se bem o conheço, ele deve estar com as mãos para o alto, olhando para o teto, como se Deus tivesse tempo para suas lamúrias e não soubesse exatamente todos os pecados que ele cometeu.

  — Certo, estou desligando. Quando tiver alguma novidade eu ligo novamente. – Reviro os olhos e desligo a chamada antes que ele tenha chance de reclamar de mais alguma coisa.

  Jogo o cigarro acabado no chão e piso em cima, encarando o prédio simples porém moderno, sabendo que meu irmão estava escondido ali.

  Na noite passada eu o deixei acreditar que tinha conseguido me despistar, para assim ele baixar a guarda e eu avançar. Sei muito bem que se eu aparecer agora, Bernard vai se negar a voltar para casa comigo de todo jeito e eu voltarei à Marselha com as mãos abanando. Porém, eu entendo meu irmão e sua vontade absoluta de fugir do meu pai e da França.

  Ter imposto a si seu destino desde criança, sem poder de escolha, é tão terrível quanto parece e eu digo por experiência própria. Antes mesmo de entrar na puberdade eu já estava em galpões aprendendo a atirar, esfaquear ou persuadir pessoas. Como futuro capu³ da Unione Corse, meu destino é esse, ser preparado para ser o melhor de todos. Mais forte, mais ágil, mais inteligente e mais cauteloso, zelando pela minha vida e de todos os meus seguidores e integrantes da máfia.

  Atento meus olhos quando vejo Bernard saindo do prédio acompanhado de duas garotas, uma delas era negra e não parecia muito contente, já a outra andava saltitando enquanto gargalhava com meu irmão. Aquela garota... Algo muito familiar exalava dela, como se eu já a conhecesse, porém não consigo me recordar de onde. Pode não ser minha primeira vez em Londres, mas das outras vezes que estive na cidade não cheguei a interagir com muitas pessoas e com certeza se eu tivesse falado com ela eu me lembraria de cada detalhe.

  — Dio mio, Dara! – Reconheço no mesmo instante o idioma, assim que a garota abre a boca para reclamar.

  Claro, ela é da Itália. Por isso sei que a conheço, mas ainda não consigo me lembrar de onde.

  — Deixa ela, italianinha. Ela sabe que uma hora ou outra cairá nos meus encantos! – Meu irmão idiota como sempre, só abre a boca pra falar besteiras e dar em cima das pessoas.

  — Aurora, pelo amor de Deus, faz esse garoto calar a boca nesse exato momento senão eu mesma farei! – A cacheada avança sobre meu irmão mas é impedida por Aurora.

  Nome tão lindo quanto a pessoa que o carrega, não posso deixar de pontuar dentro da minha cabeça.

  Os três então entram em um Audi preto fosco, com a italiana dirigindo e seguem na direção oposta à minha, acelerando rapidamente. Não perco tempo e subo em minha moto, seguindo-os um pouco mais devagar, para não levantar suspeitas. Sei que Bernard está bem atento ao seu redor, para o caso de eu aparecer de surpresa.

  A viagem não é tão longa, em 15 minutos o Audi passa pelos portões da grande Imperial College. Sigo logo atrás, quase sendo parado por um dos seguranças da universidade, mas ao falar que era irmão de um dos alunos me deixaram passar normalmente, aparentemente por conta da volta às aulas a entrada estava liberada essa semana.

Acompanho cada passo que o trio dá, recebendo alguns olhares curiosos durante meu caminho (e alguns números de telefone também), e então consigo descobrir todas as informações de que preciso, como o local exato onde Bernard ficará agora que é estudante da Imperial e o nome completo das duas garotas que o acompanhavam.

  — Adonis? – Indago assim que meu melhor amigo e braço direito atende ao telefone.

  — Ah, resolveu dar o ar da graça finalmente, abruti!⁴ – É a primeira coisa que ouço. – Você poderia ter mais consideração e avisar que está vivo mais vezes, sabia?

  — Estou fora de casa faz apenas dois dias, stupide!⁵ Óbvio que eu estou vivo. – Reviro os olhos com tédio. – Eu já tinha te avisado que viria atrás de Bernard.

  — Só não avisou que iria sumir! Esqueceu com o que você vive? Qualquer um pode te matar a qualquer momento! – Ele continua seu sermão.

  Adonis era como um irmão para mim, mais próximo até do que Bernard. Nascemos e crescemos juntos e começamos nossa jornada dentro da Unione juntos também. Eu podia contar com ele para tudo e ele também podia contar comigo, conhecíamos um ao outro como a palma da mão, o único defeito de Adonis era ser um pai de 70 anos no corpo de um cara de 26.

  — Tá, tá, tá. Eu não te liguei para ouvir sermões, Papa.⁶ – Bufo, já irritado com tanto falatório. – Preciso que descubra tudo sobre uma pessoa.

  — Sabia que você estava querendo alguma coisa me ligando, senão você nem lembraria que eu existo. – Seu drama era pior do que de algumas mulheres com quem eu tive casos de uma noite e diziam estar completamente apaixonadas por mim. – Qual o nome?

  — Aurora Di Fontana. – Seu nome único causava um formigamento estranho em minha língua, algo me puxava para ela e eu não conseguia explicar. – Preciso saber tudo sobre ela o quanto antes.

  — Di Fontana? – Adonis soa surpreso do outro lado da linha. – Ela é italiana por acaso?

  — Sim, por quê?

  — Porque se ela for quem eu estou pensando... – Sua voz fica apreensiva do outro lado da linha. – Acho que você acabou de conhecer sua futura esposa.

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¹ Máfia Francesa
² Pai
³ Líder da máfia francesa
⁴ Idiota

⁵ Estupido
⁶ Papai

Di Fontana - Caixa De PandoraOnde histórias criam vida. Descubra agora