Carta número V

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Ao abrir seu olho, olhou em volta e notou alguns feridos e homens indo de um lado para o outro sem parar. Ainda estava atordoado, mas a dor excruciante que começou a sentir assim que recobrou a consciência o fez permanecer acordado. Ficar naquela posição doía, mas qualquer movimento era infinitamente mais doloroso. Levou a mão direita  até seu rosto e o tocou de forma leve, apenas o suficiente para sentir as ataduras que estavam em seu rosto com as pontas dos dedos. Olhou para seu braço esquerdo que também estava enfaixado, mas a dor era menor e mais suportável em relação ao que sentia em sua cabeça.

Fez de tudo para não gritar de dor assim que acordou, mas seus grunhidos foram o suficiente para chamar atenção. Logo um homem veio até ele, o checou e deu uma breve explicação. Ele levou três tiros e esteve desacordado por alguns dias. Obito achou o suficiente aquela breve explicação e tentou se manter o mais imóvel possível para não sentir dor.

Kakashi se aproximou do Uchiha com o ombro enfaixado e uma expressão de tédio.

— Até que enfim acordou. Estamos em uma guerra e não de férias pra você ficar dormindo tanto.

— Vai se ferrar, Kakashi— o moreno falou e sorriu— Cê também tirou um tempo— falou e apontou de leve para o ombro dele.

— É, mas você foi mais esperto. Levou foi logo três tiros e um foi bem na sua fuça. Da próxima vou te imitar pra tirar mais tempo— os dois riram juntos— Falando sério agora, que bom que acordou, seria horrível ter que dar uma notícia dessas pro seu pai.

— Vaso ruim não quebra, Kakashi. Um pedregulho gigante podia cair em mim que eu ainda ficaria vivo— falava com um sorriso idiota nos lábios. Ficaram em silêncio por um tempo— Não precisa se preocupar tanto em informar meu pai se eu morrer, tem muitos soldados e o exército vai se encarregar disso. Vou só te pedir pra avisar ao Deidara pra mim e entregar as cartas que escrevi pra ele por mim caso alguma coisa aconteça comigo. Você faria isso por mim?

— Não vou precisar fazer isso, você acabou de dizer que vaso ruim não quebra.

— Estou falando sério, Kakashi. Eu posso agir de forma infantil muitas vezes, mas eu não sou criança. Porra, nós estamos em guerra, eu sei que a qualquer momento minha vida pode acabar. Aqui um mínimo detalhe é a diferença entre a vida e a morte. Tudo que posso fazer é contar com a sorte e nem tanto assim porque não tenho muita disponível. Tudo que eu te peço é que você entregue minhas últimas palavras ao Deidara.

— Eu não posso fazer isso, não vou ter forças pra fazer isso. 

— Eu sei que é um pedido muito egoísta da minha parte, mas eu não poderia pedir isso pra mais ninguém. Você é meu amigo mais próximo e mais confiável.

— Tudo bem, vou fazer isso— suspirou e disse derrotado— Só não me peça mais nada.

— Na verdade…

— Que foi agora?

— Pode me ajudar a escrever uma carta? Eu dito e você escreve pra mim.

Kakashi não negou, pegou logo os papéis e o lápis e começou.

“Ei, Senpai

Você vai perceber que a letra está diferente, isso é porque quem está escrevendo é o Bakakashi”.

Kakashi parou de escrever e o olhou com uma sobrancelha arqueada.

— Deixa disso, vai. Continua escrevendo.

“Bom, ele está fazendo isso porque aconteceu um acidente que me imobilizou por um tempo (Não foi nada grave, não se preocupe). O lado positivo é que isso deve fazer com que eu seja mandado de volta para casa em breve. 

Mas chega de falar sobre mim, quero saber como está sua saúde. Espero que não tenha tido crises com o inverno chegando aí. Por favor, se cuide até que eu volte e possa cuidar de você.”

— Quem diria que, de todas as pessoas, você seria tão carinhoso com alguém— Kakashi disse quase sussurrando e recebeu uma careta como resposta— Principalmente com um amigo…— O Hatake falou sugestivo e Obito apenas grunhiu em resposta.

— Só continua escrevendo a carta.

— Sabe que não precisa esconder nada de mim, não sabe?— se voltou novamente para o papel em sua mão— pode continuar.

“Acho que já deve ter saído muitos volumes do quadrinho que estávamos lendo, espero que não esteja lendo sem mim. 

Bom, eu não tenho muito o que te escrever aqui dessa vez. O que eu mais queria era mesmo te dizer que provavelmente vou ser dispensado e vou voltar pra casa. Então, espere por mim.

Tobi.”

Deidara terminou de ler a carta com um sorriso nos lábios. Estava preocupado com Obito por ele ter se ferido a ponto de ser mandado de volta, mas estava feliz por ele voltar. Poderia cuidar dele e de seus ferimentos quando ele estivesse de volta em casa. A carta nitidamente era diferente das que havia recebido antes, tanto a escrita com letra certinha quanto a forma breve e menos carinhosa estavam diferentes. Mas sabia do fundo de seu coração que Obito transmitia seu amor através daquela carta mais simples e curta. Olhou para a enorme pilha de quadrinhos que estavam  acumulados em cima da mesa de cabeceira ao lado da sua cama. Estava ansioso para poder ler para o Uchiha quando ele voltasse.

Deixou a carta junto com as outras, trancou seu quarto, pegou uma mochila e saiu com a bicicleta do Obito. Foi até a casa de Madara e chegou lá com um jornal do dia e com um pote com pedaços de broa. Passava a maior parte dos seus dias com o Uchiha e começou a ajudar ele em algumas tarefas da casa e até mesmo deixava alguns de seus remédios lá. Ao chegar não conseguia esconder seu contentamento e sorriso. 

— Madara, ficou sabendo?— o moreno apenas o olhou com uma sobrancelha arqueada— O Obito mandou uma carta pra mim e disse que sofreu um acidente e acabaria sendo dispensado.

— Ele te falou o que aconteceu com ele?— Madara também havia recebido uma carta do filho onde ele detalhava exatamente o que tinha acontecido e como era seu estado e, na mesma carta, o filho o pediu para não dizer nada ao loiro.

— Ele não me disse, ele nunca me diria algo assim. Tudo que falou era que estava voltando.

— Acho que o que nos resta é esperar até que ele volte— o moreno falou e tudo que o loiro fez foi concordar com ele.


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Esse é o penúltimo capítulo, aproveitem.

Obrigado por ler!

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A uma carta de distância (Obidei - TobiDei)Onde histórias criam vida. Descubra agora