Farooq olhou atônito para Kara por um momento. Vira muitas lágrimas em incontáveis ocasiões e o único poder que tinham sobre ele era o de testar os limites de sua paciência, mas as dela...
Ya Ul ah, hadamostaheel... a maneira como o afetavam era insuportável.
Pensava que pretendia lhe tirar o bebê.
Apenas agora percebia que lhe invadira o apartamento sem saber o quê pretendia. Recebera a informação dezesseis horas atrás, estava em seu jato uma hora depois, passara o tempo do voo transcontinental sem escalas tomado de convicções e determinações. Algumas delas tinham sido referentes ao fato de que uma mãe exploradora não merecia ficar com a filha.
Compreendia agora que aqueles pensamentos haviam determinado a forma como declarara sua intenção de ter a filha, fazendo parecer que a tiraria de Kara. Uma ação drástica assim deveria ser reservada para mulheres que punham em risco seus filhos. Mas podia igualar uma mãe que usava a filha para manter um estilo de vida luxuoso com um alcoólatra ou viciado em drogas?
A raiva aumentou quando percebeu que a angústia dela lhe abalara as convicções. Quando seus olhos se encontraram, tudo em que conseguia pensar era que isto não era fingimento, era o sofrimento de alguém que temia alguma coisa pior do que a morte.
Seria verdade? Concebera Mennah por um motivo odioso, mas agora a amava? E tanto assim?
Podia lhe tirar a filha... sua filha... com tanta facilidade como roubar o doce de uma criança. Considerando o que fizera a ele, devia pelo menos pensar em se vingar. O pensamento apenas fez aumentar seu arrependimento. Ela tinha de ser uma feiticeira. Mas quando declarara que não teria meios de lutar contra ele, queria dizer apenas que não poderia lhe negar os direitos sobre a filha.
Ela dera a suas palavras o pior significado, o que combinava com o medo que, segundo ela, a fizera fugir. Então, poderia acreditar que este fora realmente o motivo por que fugira? Laa, b'Ellahi. Não podia, conhecia a verdade.
Mesmo assim, apesar de tudo o que sabia, acreditava no medo dela agora. Pior, não queria vê-la tão angustiada. Embora tivesse todo o direito de feri-la, não queria fazê-lo, não assim.
Amaldiçoando-se por ser tão tolo, por sentir que devia se ajoelhar e lhe implorar que o perdoasse por fazê-la sofrer, Farooq disse, a voz áspera:
— Não vou levá-la, pare de chorar.
Em meio a emoções que lhe partiam o coração, Kara ouviu o que ele dissera. E, de repente, houve silêncio e escuridão. De um abismo, os sons voltaram, o sangue lhe pulsando no ouvido em ritmo lento, então outro batimento cardíaco, lento, poderoso, firme. Vindo da parede de granito onde sua cabeça repousava.
Os outros sentidos despertaram, o cheiro, de virilidade e vigor, o toque, transmitindo o luxo da seda e do poder, a orientação, fazendo-a perceber que estava nos braços dele, a cabeça no peito poderoso, os braços dele em torno de seu corpo, suas pernas. Então o olhar focalizou aquele rosto, as feições cinzeladas, a névoa naqueles olhos dourados. Levava-a para mais uma daquelas sessões de delírio e êxtase. A tensão do corpo começou a se desmanchar, a se tornar o enervamento da expectativa, o corpo se preparando para seu ataque, sua posse...
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DESERT - Romance Turco
RomanceNão havia onde Kara pudesse se esconder do príncipe da Capadócia. Ele a procuraria em todos os lugares, arrombaria portas e derrubaria muros. Nada impediria Farook Aal Masood de reivindicar a mãe de seu herdeiro. Ela o traíra, e ele a faria pagar...