Depois dos acontecimentos na árvore dos rebelde, eles saíram em direção ao norte de Magic Park, a fim de deixarem aquela floresta para trás o mais rápido possível. Restavam apenas três dias para a reunião da Ruína que Baltazar havia dito, então eles avançaram rapidamente entre a imensa floresta mágica. Com o decorrer das horas, houve uma mudança no cheiro do ambiente, que começava a ficar estranho, como se tudo ao redor estivesse em decomposição. Onde antes havia árvores grandes e frondosas, agora não passava de um pântano largo e extenso, que impedia a carroça de andar com a mesma velocidade de antes. Mesmo com dificuldade e lentidão, eles chegaram em uma área que parecia ser habitada, ou havia sido, já que ao longe eles avistaram casas entre as árvores. Um pequeno vilarejo tomou forma, mas o que os surpreendeu foi haver pessoas vivendo ali mesmo em condições de habitação que eram as piores possíveis devido ao estado decadente do lugar. Eles foram adentrando o vilarejo e viram apenas miséria e desolação entre os elfos que ali viviam. Era um lugar onde a esperança não punha mais os pés a muito tempo. Os garotos só conseguiam se sentirem mal por aquelas pessoas e abalados pela visão que testemunhavam.
- O que aconteceu aqui? - perguntou Kenneth um pouco incrédulo.
- A natureza desse lugar não deveria deixar um pântano se formar nessa parte. Isso é realmente estranho - ressaltou Helv.
Helv continuou guiando a carroça até passarem em frente a uma casa que chamou a atenção. Não a casa decrepita em si, visto que todas as casas apresentavam o mesmo estado, mas sim a menina élfica que estava debruçada na escada. Ela devia ter por volta de seis anos, senão mais, já que o nível de magreza e desnutrição poderiam esconder a sua verdadeira idade. A fome pouco a pouco a consumindo. Senka vendo aquela cena não demorou um segundo em pular da carroça para chegar a menina. Ele correu um pouco até chegar na criança e a segurou delicadamente com tristeza e amargura após ela começar a cambalear em direção ao chão devido à fraqueza extrema. Ela emitiu pequenos grunhidos de dor, o que fez Senka comprimir os lábios em uma linha fina e dizer - Ei, não precisa se esforçar, querida. Vai ficar tudo bem, ok?
Nesse momento, uma senhora, ouvindo barulhos em um lugar que normalmente era tão silencioso quanto um cemitério, abriu a porta de sua casa e Senka olhou para uma versão mais velha da menina, mas infelizmente também tinha a mesma aparência definhada. Era difícil acreditar em como a mulher conseguia se manter de pé, mas Senka sem hesitar logo perguntou - O que está acontecendo com esse vilarejo?
Ela piscou meio sem acreditar que havia forasteiros ali, porém o respondeu de forma sucinta com uma voz baixa e roca - A fome tomou tudo... nossas plantações foram tomadas pela praga. Ela tomou nossa floresta e consumiu tudo.
Todos acompanharam a atitude de Senka e desceram da carroça a fim de tentarem entender o que estava acontecendo, e Deny perguntou - Tem algum motivo para isso estar acontecendo?
Helv logo o interrompeu dizendo - Tem. Consigo sentir que essa parte da floresta não está em si com pouca magia, mas sim algo a está sugando para outro lugar. Isso é um feitiço.
A mulher o respondeu - O rapaz está certo. Há alguns anos, um feiticeiro se alojou por essa parte da floresta, desde então tudo começou a ruir. Como nossos pedidos de ajuda não foram atendidos pelo reino, não tivemos força suficiente para pará-lo.
Senka rangeu os dentes de raiva e Knight então pôs uma mão em seu peito e disse - Não se preocupe, senhora, apenas mantenha suas forças e eu pessoalmente irei matar esse desgraçado.
Helv apenas o interrompeu - Você quer jogar essa responsabilidade para gente? Foi mal, lata velha, mas não temos tempo. Faltam três dias para chegarmos em Ponte Profunda e a viagem até lá vai durar a mesma quantia, não podemos perder mais tempo.
- E você acha que a gente vai deixá-los passando fome, caralho? - falou Senka com raiva, sem acreditar no que Helv estava insinuando.
- Nisso ele está certo. Não podemos deixá-los passando fome aqui, sendo que podemos ajudar - disse Kenneth.
- Nossa cota de boas ações nos últimos dias só estão nos atrasando do nosso objetivo. Vocês não querem o dinheiro por acaso? - disse Helv.
Senka enfurecido o respondeu entre dentes - Como se você por acaso se importasse com o dinheiro, né? Quer dizer, com qualquer coisa além das suas respostas. Você não merece a porra de resposta nenhuma se for tê-las às custas da morte de inocentes.
Knight completou - Se está com medo, Helv, vai embora. Ninguém aqui precisa de você... além dele - então apontou com a cabeça para Kenneth. O irmão impacientemente puxou Helv pelo braço e se afastaram dos outros quatro a fim de não começarem uma briga em um local tão inapropriado.
- Não podemos deixá-los passando fome quando podemos fazer alguma coisa - disse Kenneth segurando o braço do seu irmão.
Helv então puxou seu braço com força se livrando do aperto do irmão e disse - Você sabe que não podemos parar a cada esquina que pedem nossa ajuda, né?
- Se temos o poder de ajudar, então devemos fazer isso. O nosso pai iria querer assim - disse Kenneth com uma voz firme.
- E por acaso você sabe o que ele iria querer? Ele me pediu para proteger você, e não eles! - retrucou Helv com raiva.
- Você tem que parar de se culpar pelo que aconteceu naquele dia, antes que você me leve junto para o fundo do poço que você está, onde não consegue ver nada além de você e sua busca sobre o que aconteceu!
- Pensei que você mais que ninguém entenderia que eu preciso proteger você daquelas pessoas, e se eu não souber nada sobre elas não vai adiantar porra nenhuma!
Kenneth olhou o irmão nos olhos e vendo que aquela conversa não levaria a lugar algum, apenas deu as costas e disse com uma voz afiada - Não adianta me proteger enquanto você vê o resto do mundo queimando a sua volta sem fazer nada. Nosso pai nos ensinou que ajudar é a coisa certa a se fazer. Você pode ir à frente se quiser, eu encontro com você em Ponte Profunda. Não preciso de você aqui se remoendo pelo que não sabe. Até logo, irmão.
Kenneth saiu andando em direção aos outros, enquanto Helv apenas o olhava partir sem acreditar que estava sozinho nessa, sem nem mesmo o apoio do irmão. Mas logo se recompôs, porque ele sabia que não precisava de ninguém para ir até Ponte Profunda, bastava a si mesmo. Então pegou carroça e partia em direção à floresta sem olhar para trás por mais que seus instintos ainda o dissessem para ficar.
- É... separação pica, parece minha 103° ex e eu, é difícil, mas você supera - disse Deny.
Senka falou a Kenneth - Obrigado por ficar aqui, de verdade.
- Relaxa, orelhudo. Essa é a única escolha possível, não vou deixar isso continuar acontecendo - disse Kenneth.
- Pelo menos o irmão mais útil ficou para ajudar - falou Knight rindo.
- Não liga para ele, é a forma dele agradecer - completou Senka.
Então Deny perguntou a senhora - Onde esse tal feiticeiro fica?
A senhora com os dedos envelhecidos e secos, sem mais forças para continuar falando, apontou para uma direção no pântano. Senka guardou a informação e se levantou da escada com a menina no colo. Colocou-a gentilmente na cama de palha mais próxima e afastou seus cabelos opacos e sem vida da testa. Ele pegou o resto de comida e água que ele tinha para si e a deu enquanto observava e disse - Pode ficar tranquila, ok? O tio Senka vai trazer várias comidas gostosas para você. Sei que essa comida é ruim e tem pouco, mas prometo que vou fazer o meu melhor para trazer algo digno de uma princesa.
Ele deu um beijo em sua testa e ela sorriu genuinamente, um sorriso quente e acalentador que apenas as crianças são capazes. Então com muito esforço ela disse em uma voz rouca indicando que não falava muito - Obrigada, tio.
Ele a respondeu - De nada, querida. Agora descansa, está bem?
Senka saiu daquela casa determinado, com uma aura forte e firme, e falou nada ao começar a andar em direção aonde a senhora havia apontado. Nessa hora Knight gritou com emoção - Vamos acabar com a raça desse mago 2.0!
- Dessa vez eu não vou levar para o coração. Disse Kenneth.
Deny pegou seu alaude em mãos enquanto tocava uma nota e disse - Vamos comer esse cara com farofa!
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Contos de Elísia
FantasyEm uma aventura, no continente de Elisia em 1310. Kenneth um cronomancer, Helv um mago, Senka um ladino e Knight um bárbaro terão que enfrentar um culto antigo jamais antes visto que ameaça o continente. A fim de saber os mistérios que percorrem por...