The MidnightRed

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Após uma longa viagem contornando o Bosque Noturno, eles estavam finalmente a poucas horas de distância da ponte. Porém, o tempo estava contra eles, pois se escurecesse antes, seria um sério problema. Eles passaram boa parte da viagem conversando sobre os mesmos assuntos da noite passada, porém de uma forma mais descontraída e analisando coisas que ainda não haviam percebido. Após alguns momentos de silêncio, quando não havia mais assunto, Deny afinando seu alaude, perguntou: — Vocês já ouviram falar sobre o Oráculo?
Todos conscientemente responderam que não. Helv curioso, perguntou: — E o que seria o Oráculo?
— Ninguém sabe ao certo. É uma lenda, um boato entre as tavernas, um conto qualquer. Dizem que em algum lugar do continente existe um portal que leva as pessoas para um ser que pode responder qualquer pergunta.
— Qualquer pergunta? — perguntou Knight.
— Pelo que as lendas dizem, sim, mas ninguém sabe ao certo. E mesmo que você soubesse, dizem que só o destino pode abrir esse portal.
— E como você sabe disso? — perguntou Kenneth.
— Nunca duvide de um cara com lábia, e no meu caso, consigo desenrolar qualquer coisa.
— Sério? Não sabia que você tinha uma magia que desenrola as coisas — disse Knight.
Todos riram e Senka deu um soco fraco no ombro de Knight.

Em poucas horas, ainda de dia, o que era um milagre, depois de uma travessia rápida correndo com os cavalos, eles finalmente chegaram ao início da ponte. Deny então disse: — Bem-vindos à nossa travessia para Clock Town.
Era uma ponte extensa e com uma largura enorme. Havia várias carroças, pessoas e charretes passando, além de uma variedade de tendas e construções em suas extremidades laterais.
— As pessoas se hospedam aqui? — perguntou Kenneth.
— Mais ou menos, geralmente é porque elas não conseguiram fazer a travessia.
— Por que elas não conseguem? — questionou Senka com uma voz curiosa.
— Vocês irão ver — falou Deny com um semblante um pouco triste.

Depois de uma hora de travessia, finalmente eles conseguiram enxergar o final da ponte e os inúmeros guardas nela. Havia duas filas, uma de pessoas com carruagens ou cavalos, sendo a maioria delas com um semblante imponente, com vestes de nobres ou armaduras e mantos chamativos e deslumbrantes. Enquanto a outra fila era de pessoas mais humildes, com vestes rasgadas e sujas e semblantes totalmente apáticos. O rosto de todos ao verem essa cena era de completa descrença.
— Por que, caralho, isso está acontecendo? —Senka perguntou com uma voz irritada e frustrada.
— Infelizmente, não temos o que fazer. Clock Town, caso vocês não saibam, é a cidade que possui maior avanço mágico e tecnológico do continente, é uma potência avassaladora. Isso faz com que os filhos da puta dos governantes desse lugar achem que têm o direito de expulsar qualquer pessoa que não seja "avançada" o suficiente. — respondeu Deny.
Quando faltava apenas um grupo para eles entrarem nos portões da cidade, eles viram, na outra fila, uma draconata com seu filho no colo implorando para os guardas deixarem eles passarem.
— Senhor, por favor, deixe apenas meu filho passar. Ele está doente e precisa de ajuda, não temos nenhum clérigo no nosso vilarejo.
O guarda então respondeu friamente: — Não podemos ajudar, senhora. Se você não possui uma insígnia de comerciante, precisa ir embora.
— Senhor, por favor, eu não... — antes que ela pudesse terminar a frase, o guarda desferiu um tapa em seu rosto que a fez cambalear para trás.
— Vá embora! A senhora não pode mais impedir o trânsito — o guarda gritou.
Os olhos da mulher marejados eram uma mistura de vergonha e ódio. Ódio daquela situação e ódio daqueles que não faziam nada para ajudá-los. Kenneth, Senka e Knight vendo aquilo, se enfurecem completamente.
— Eu vou matá-lo — disse Knight enquanto tirava sua espada da bainha. Porém, Deny o interrompeu.
— Está maluco? Quer ser procurado pela guarda do reino inteiro?
— Não precisa ser o Knight, Senka e eu matamos esse filho da puta — disse Kenneth puxando seu deck de cartas e Senka sua adaga. Então, Deny falou: — Vocês só devem estar malucos, porra. Helv me ajuda aqui.
Helv segurava as rédeas do cavalo com força, indicando a sua raiva diante de toda aquela injustiça, mas falou — Não podemos intervir. Se fizermos isso, podemos ser pegos e nos atrasarmos para a missão. Isso pode comprometer tudo.
Então, Kenneth respondeu seu irmão — E você acha que eu ligo? Não vou deixar alguém ser tratado assim na minha frente.
— Mas Kenne... — Helv é interrompido antes que pudesse completar.
— Mas Kenneth, porra nenhuma. Se você é covarde o suficiente para não fazer nada, então fica sentado e cala a boca — respondeu Kenneth de forma afiada.
— Parte do que seu irmão disse não está errado. Não podemos matar o guarda, mas dá para ajudar a mulher. Dessa vez, vou precisar que você não participe, você pode chamar muita atenção, grandão. — falou Senka.
— Porra... Beleza — respondeu Knight fazendo birra enquanto cruzava os braços.
— Aí, Kenneth, por quantos segundos você consegue parar o tempo?
— Uns quatro segundos.
— É o suficiente. Eu vou colocá-los dentro da carroça e você, grandão, a esconde, beleza? —
disse Senka. Knight apenas respondeu com um murmúrio.
Rapidamente, Kenneth lançou várias cartas de parar o tempo no chão embaixo dos guardas, e uma bolha temporal tomava conta daquele lugar específico em um piscar de olhos. Senka correu em direção à moça, a pegou no colo com o bebê e os colocou rapidamente na carroça, enquanto Knight usava seu manto para escondê-los.
— O que aconteceu? — perguntou a moça, completamente confusa, após o tempo voltar ao normal.
Kenneth e Senka então se aproximaram e a acalmaram, explicando a situação. Até que chegou a vez deles.
— Boa tarde, senhor. Só estamos de passagem para visitar essa incomparável parte do continente. Se puder nos liberar a passagem, serei eternamente grato — disse Helv com formalidade.
— Mostrem sua insígnia. Sua carroça não parece ser da nobreza — disse o guarda, não expressando nenhum reconhecimento.
Rapidamente, Deny pegou algo no bolso e o mostrou — Sou um comerciante, senhor, não há nada de errado aqui — disse Deny enquanto suava frio. O guarda analisou a licença e também rodeou a carroça, o que deixou todos tensos, mas o homem apenas assentiu e proferiu: — Podem passar.
Todos na carroça ficaram aliviados e seus ombros relaxaram. Eles entraram nos portões da cidade e viram como tudo aquilo era deslumbrante. A cidade possuía construções altas que nunca tinham ouvido falar, tornando-as incomparáveis. A qualquer lugar que olhavam, conseguiam ver vários tipos de tecnologia diferentes trabalhando em conjunto com a magia. Mas o que chamava mais atenção que tudo era o que dera nome à cidade, a enorme torre no meio da cidade com um grande relógio no meio. Com uma estética cyberpunk, se formava a visão de Clock Town. Eles aprofundaram um pouco mais a cidade a fim de ganhar espaço dos guardas e liberaram a senhora draconata.
— Não sou capaz de expressar tamanha a minha gratidão. Obrigada por me darem uma última chance de salvar a vida do meu filho.
— Não precisa agradecer, era o mínimo que poderíamos fazer — disse Helv humildemente.
A mulher assentiu e logo saiu em direção ao centro da cidade.

Contos de ElísiaOnde histórias criam vida. Descubra agora