Depois de um longo descanso, todos acordaram ao serem iluminados por dourados raios de sol. E Kenneth, como sempre, já começava o dia reclamando.
— Estou morrendo de fome. Não comi nada desde a festa.
E Deny respondeu, acrescentando — Precisamos também é de uma cama. Dormir na carroça é horrível.
— Você roncou a noite toda — disse Knight.
— Isso não quer dizer nada.
Helv que apenas olhava para seus companheiros, percebeu de repente que Senka não estava na carroça, porém logo ouviu algo sendo arrastado pela grama ao lado. Ao direcionar seu olhar para onde o som estava vindo, viu Senka arrastando um cervo abatido em suas mãos ensanguentadas.
— Serve essa comida aqui?
Os olhos de Kenneth brilharam com entusiasmo, olhando o seu café da manhã.
— Eu te amo, orelhudo.
— Não força a barra, cara.
Após a refeição em silêncio devido à fome exagerada, eles retornaram à cavalgada e viram as florestas de Magic Park se distanciando aos poucos. Senka observava as árvores passando ao seu entorno com um pouco de amargura em seu olhar, e Deny possuía o mesmo pesar, porém olhava para seu alaude constantemente. Helv estava com um leve sorriso no rosto, pois finalmente estava perto de seu destino, e Kenneth se distraia embaralhando suas cartas. Knight, não surpreendente, estava de braços cruzados.
— Aí, Helv, o que a gente vai fazer quando chegar lá? Na teoria, a reunião já deve ter acontecido e perdemos informações sobre a Ruína — perguntou Senka enquanto jogava sua lâmina para o alto.
— Eu tenho que encontrar uma pessoa lá. Devemos conseguir abrigo falando com ela.
— Ela? É sua pretendente? — disse Deny rindo um pouco.
— Não. É uma ex-aluna do meu pai. Ela pode nos fornecer ajuda. E sobre a reunião, acho que podemos pelo menos visitar o lugar onde aconteceu.
Kenneth confuso, transparecia isso em suas feições, enquanto se virava para seu irmão segurando as rédeas, perguntou: — Como a gente vai saber o local da reunião? O Baltazar não falou absolutamente nada.
— Eu tenho um jeito. Além de que, a Ruína supostamente é uma seita oculta, que age de baixo dos panos. Deve ter pessoas importantes e influentes dentro de organizações para conseguir mais recursos e poder de fogo. Eles devem se encontrar em algum lugar remoto. Porém, a floresta seria inadequada para pessoas da nobreza. Ou seja, precisariam de um lugar "foda" e digno de sua grandeza. Por mais que eu não ache que os líderes reais dela estejam ligando de sujar suas roupas no mato. Essa minha conhecida talvez possa saber de algo.
— Nisso eu posso ajudar — falou Senka alongando seus braços — Eu tenho outras formas de conseguir informações, dependendo posso descobrir o local rapidinho.
Deny pensativo, respondeu: — Até que faz bastante sentido a reunião ser em Ponte Profunda. Uma cidade turística, focada no comércio e poder financeiro, localizada quase no centro do continente. E provavelmente, como o mercado lá tem poder, deve ter um submundo maior ainda.
— O que significa que boatos sobre uma reunião grande ter acontecido já devem ter se espalhado — enunciou Knight.
— Bom, deve ficar ainda mais fácil para mim. Só preciso encontrar a Guilda dos Ladrões dessa cidade e tudo pronto.
— Pera, Guilda dos Ladrões? — questionou Kenneth.
— Exatamente. Toda cidade tem uma. Sem exceção. O único problema é que vou ter que ir sozinho. Só ladrões entram.
— Tomara que valha a pena todo esse trabalho —disse Kenneth.Após uma viagem longa e cansativa, quando o sol já estava se pondo, eles começaram a subir gradativamente um morro íngreme com a carroça. Ao chegarem a seu cume, o horizonte se formava com a imagem de Ponte Profunda. Uma cidade em formato circular era banhada pelos últimos raios de sol do dia. E, por mais que não tão grande em si, a enorme fenda que dividia a cidade e um cristal gigantesco que emergia do centro da fenda a tornava imponente.
Juntos de várias outras carroças e multidões de seres, eles entraram pelos portões da cidade, feitos inteiramente de pedra da lua. Pontes se cruzavam de um lado para o outro da fenda, indicando a forma de locomoção daquele lugar. As construções se iniciavam nas bordas da abertura, que iam descendo e acompanhando o estreitamento da própria fenda. Todas as edificações eram simples e aglomeradas, mas ainda assim exalavam estabilidade. As pontes pareciam como teias de aranha, que só pareciam se adensar quanto mais se olhava para dentro da fenda, levando cada ser vivo de uma ponta a outra da cidade. Todos ali estavam impressionados como uma civilização conseguiu se instaurar e prosperar naquele lugar.
Deny disse, surpreso: — Nunca vi tantas raças diferentes no mesmo lugar. Aqui deve ter bordéis maravilhosos. Já gostei daqui.
— Temos coisas mais importantes para fazer —ressaltou Helv.
— Essas pontes não acabam, não? Esse buraco é grande mesmo — afirmou Kenneth após engolir seco, olhando para a imensa profundidade.
— Você sabe onde essa sua conhecida mora Helv? — questionou Senka.
— Tenho uma ideia. Ela faz parte da Ordem dos Escribas. É uma Ordem de magos que se conecta pelas cidades, armazenando conhecimento através dos livros. Ou seja, vamos para a biblioteca da cidade.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Contos de Elísia
FantasíaEm uma aventura, no continente de Elisia em 1310. Kenneth um cronomancer, Helv um mago, Senka um ladino e Knight um bárbaro terão que enfrentar um culto antigo jamais antes visto que ameaça o continente. A fim de saber os mistérios que percorrem por...