Capítulo 2

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Nelly se assustou quando ouviu o sininho da porta da loja soar, interrompendo sua concentração nos mangás que estava lendo. Ela ergueu os olhos e seus lábios se entreabriram em surpresa ao ver Lia entrar. A amiga parecia uma versão desgrenhada de si mesma, e um nó se formou em seu estômago ao notar a sujeira que cobria seu corpo e os cabelos bagunçados. Os adornos do cabelo de Lia estavam quase escapando, dando-lhe uma aparência ainda mais selvagem. No entanto, mesmo diante do estado desalinhado da amiga, Lia pareceu não se importar, avançando pela loja com uma expressão descontraída, como se não fosse nada demais.

"Você está bem?" Nelly perguntou, preocupada, enquanto Lia se aproximava.

Lia deu de ombros, um sorriso irônico brincando em seus lábios. "Apenas mais uma noite na cidade", ela respondeu, tentando minimizar a gravidade da situação.

Nelly franziu a testa, percebendo a tensão subjacente na voz de Lia. Ela sabia que sua amiga estava envolvida em coisas perigosas nas ruas, mas nunca esperava vê-la em tal estado de desalinho.

"Venha, sente-se", Nelly disse, levantando-se e indo em direção ao balcão da loja. "Tenho algumas coisas na geladeira que posso esquentar para você."

Lia assentiu com um aceno de cabeça, a gratidão brilhando em seus olhos. Ela se deixou cair em uma cadeira, sentindo o peso do cansaço pesar em seus ombros. Apesar de sua bravata, ela sabia que precisava descansar e recarregar suas energias antes de enfrentar o que quer que viesse a seguir.

Enquanto Nelly se movia pela pequena cozinha nos fundos da loja, Lia observava ao redor, notando os detalhes familiares do espaço que compartilhavam. Os posteres de mangá nas paredes, as prateleiras repletas de coleções de quadrinhos, tudo isso trazendo uma sensação de conforto e familiaridade em meio ao caos de sua vida nas ruas.

Nelly sorriu e assentiu. "Claro, vou preparar um delicioso ramen para nós. Enquanto isso, você pode cuidar do balcão por um momento, Lia?"

Lia concordou prontamente, compreendendo a situação. "Sem problemas, Nelly. Ficarei de olho aqui."

Enquanto Nelly se dirigia à cozinha para preparar o ramen, Lia se aproximou do balcão da loja, pronta para receber os clientes que pudessem entrar. Ela observou atentamente a rua movimentada através da janela, garantindo que não perderia nenhum cliente em potencial.

Nelly estava ocupada preparando o ramen na cozinha, e Lia tagarelava animadamente com a amiga. A pequena distância entre elas, separada apenas por uma janelinha, não impedia a troca de conversas.

"Você sabe, Nelly, que quando eu era pequena, vendia balas na rua?" Lia começou, sua voz carregada de nostalgia. "Acho que tenho o jeito com as pessoas. E se eu viesse trabalhar com você aqui? Tenho certeza de que o senhor Tanaka iria adorar!"

Lia imaginava a possibilidade de trabalhar ao lado da amiga na loja, compartilhando não apenas o espaço físico, mas também os desafios e as alegrias do dia a dia. A ideia lhe parecia reconfortante, uma oportunidade de construir uma nova fase de sua vida em meio à segurança e ao apoio de Nelly e do senhor Tanaka.
Nelly riu afetuosamente, mas foi sincera.

"Eu não duvido de você, mas meu avô acha que você é muito... selvagem. Ele te tolera porque você compra muitos remédios alternativos, mas quando deixar de fazer isso, provavelmente vai começar a dizer o que pensa."

Lia fez uma careta brincalhona. "Bom, então seu avô está perdendo uma ótima vendedora. Eu me sairia muito bem trabalhando em loja de antiguidades do Japão."

Enquanto a água ferveu na panela, Nelly continuou a conversa com um sorriso. "Você sempre teve esse espírito livre, Lia. Eu admiro isso em você. Mas às vezes você precisa aprender a jogar de acordo com as regras, pelo menos um pouco."

A Guerreira da Alma Onde histórias criam vida. Descubra agora