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Seis messes atrás...

Bela acreditava que quando começasse a fazer suas malas toda aquela confiança que vinha a mantendo firme em sua decisão seria minada, e ela então estaria desolada prestes a desabar em seus próprios pés. Era o que todos esperavam, e com certeza era o que Lena aguardava enquanto a ajudava a fazer suas malas sempre prestando uma atenção maior em cada um de seus movimentos.

Mas surpreendendo até ela mesma Bela estava entusiasmada e animada, ela estaria do lado de fora do território de Dravos pela primeira vez. E ela não estaria presa mas sim livre, talvez ela pudesse conhecer algumas lojas de doces que ela costumava ver nos filmes. Quem sabe experimentar seus sapatos antes de os comprar, talvez assim ela nunca mais errasse seu número. Chega de sapatos grandes de mais ou pequenos de mais, ela se daria isso como presente. Comprar seus próprios sapatos como uma pessoa normal faria, como todas as leoas faziam. Não esperar mais pelas roupas estranhas e muito infantis que Lena sempre escolhia para ela, talvez ela pudesse se vestir menos parecido com os filhotes se pudesse escolher por si mesma daquela vez.

Era difícil para Bela lembrar a si mesma e a sua leoa que elas não estariam indo de férias para lugar algum, ela estava indo pela primeira vez a trabalho e não podia decepcionar Arya. Não a única pessoa que confiava que ela não estava prestes a fugir como uma gatinha assustada.
E Bela não fugiu, quando sua mala estava pronta e Lena a manteve em um abraço longo de mais para se despedir ela apenas sorriu acenou de volta e entrou no carro junto com Arya.

- Eu não vou te dar uma chance de mudar de ideia viu.- Arya disse enquanto o carro acelerava para longe do único lugar que já conheceu em sua vida.

- Eu não vou mudar de ideia.- Bela respondeu firme apesar de saber que se desejasse verdadeiramente voltar para casa Arya seria a primeira a lhe resgatar.

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Zander esperou pelo carro ao lado de alguns sentinelas, era uma medida de segurança depois de todos os ataques sorrateiros que ele já havia recebido nesses últimos messes. Ele também havia prometido total segurança para Dravos em seu território, mas quanto ao trajeto que a leoa percorreria até ali não estava sobre sua responsabilidade e o atrasso estava começando a lhe preocupar.

Ele não gostaria que a leoa tivesse sofrido qualquer tipo de ataque ou dano até seu destino, ele não conhecia bem Arya, apenas havia visto ela algumas vezes. A fêmea parecia forte e letal, ela era a assassina de Dravos e ele odiaria que qualquer dano fosse causado a leoa, seria péssimo para os negócios se Arya tivesse sofrido algo no meio do caminho.

Quando o seu lobo começou a se agitar em seu interior, um carro finalmente começou a surgir na estrada. Mas não demorou para que ele notasse que algo estava estranho, quando a fêmea parou o carro e desceu ela não veio diretamente até ele, Arya deu a volta no carro e abriu a porta para que outra fêmea saísse.

Algo gélido percorreu sua espinha quando a pequena fêmea pisou em seu território, Ela sorria timidamente para ele, seus olhos repletos de curiosidade e inocência. E ele não pode evitar as lembranças que corriam até ele outra vez...

" O ar estava tomado por fumaça e o cheiro de carne apodrecida, ele já deveria estar do lado de fora daquela maldita casa mas seu lobo se recusava a sair, o guiando em meio a destruição até uma passagem que ele sabia que os outros haviam ignorado. O lobo de Zander entrou em um porão escuro onde um pouco dos gritos lá fora agora estavam abafados, mas os soluços que ele ouvia estavam ali em algum lugar.

Havia uma fêmea pequena acorrentada contra uma parede de pedra, ela estava suja e machucada, e tudo que tinha por perto era um pequeno pote imundo que devria levar água mas agora estava vazio e ele desconfiava que se encontrava seco por um bom tempo. Quando os olhos da fêmea encontraram os seus não havia nada ali que indicasse que ela o via de fato, ele mudou para a sua forma humana. Tanto o homem como o lobo preocupados em não assustar ainda mais a fêmea.

- Sei que está ai.- a sua voz rouca chamou sua atenção.

- Eu vou tentar soltar você por favor não se mexa.- ele analisou a corrente em volta do corpo dela, seus braços estavam muito machucados mas era a pele do seu pescoço que o preocupava mais. Ele tiraria aquela corrente primeiro.

- Vai me levar para a mesa?- a pergunta assutada o deixou desconfortável, seu lobo odiando o cheiro de medo na mulher que de alguma forma pesava em seu peito mais do que qualquer outra violência que ele presenciou naquela tarde.

- Não tem mais mesas.- ele garantiu sentindo seu lobo rosnar dentro de si com um misto de ódio e raiva dentro de seu peito.

- Você vai me matar?- a pergunta soou mais como uma conclusão triste em que ela havia chegado. - Vai me levar para o lago? Mason prometeu que me deixaria tocar o lago quando ele decidisse me descartar.

As mãos de Zander falharam por um instante, havia um sentimento tão grande de derrota em seu lobo quando ele notou que aquela pequena fêmea não iria lutar com ele mesmo acreditando que ele estava ali para mata-lá, ela estava entregue, submissa, e recebia o que achava ser seu destino sem lutar por si mesma. Tão impotente e derrotada que seu lobo queria rosnar para ela despertar, mas aquilo provavelmente a faria se enconlher ainda mais.

Ele segurou o pequeno rosto da fêmea em suas mãos sem conseguir entender de onde vinha toda aquela necessidade de toca-lá, a pequena mulher não ofereceu nem uma resistência enquanto ele tirava o cabelo de seu rosto para vê-la melhor. Ela tinha traços tão delicados que a fazia parecer frágil de mais para as mãos grandes dele que a segurava, frágil de mais para ter sobrevivido a todo aquele terror. E ela ainda era linda mesmo coberta de sujeira e sangue, ela brilhava naquele lugar imundo como um diamante jogado na lama.

- Não tem mais mesas!- seu lobo rosnou impacaz de se conter. - Mason nunca mais vai tocar em você, ninguém nunca mais vai te machucar.

As pequenas mãos dela tocaram seus joelhos, o máximo que ela conseguia alcançar dele presa em suas correntes, com uma expressão intrigada em seu rosto a fêmea o farejou sem disfarçar seu movimento. E ele se aproximou ainda mais dela, permitindo que ela o cheirasse, que o conhecesse.

- Você não cheira como eles, eu não conheço o seu cheiro...- ela sussurou.

- Qual é o seu nome?- ele questinou ignorando suas últimas palavras porque ele precisava desesperadamente saber como chamar a fêmea a sua frente.

- Nome?- ela soou confusa.

- Como chamam você.- ele disse mas logo se arrependeu de suas palavras quando a ouviu responder.

- Coisa, cobaia,  traste, suja...

Ele colou um dedo em seus lábios para a silenciar, seu corpo inteiro tremia de raiva e nada nunca havia indignado ou ofendido tanto o seu lobo como agora.

- Isso não são nomes pequena.- gruniu irritado enquanto acariciava seu rosto, ele estava com raiva mais precisava que ela soubesse que não era dela. Que nunca seria dela.

- Eu não tenho um nome...é assim que eu sempre fui chamada...é assim que me vêem.- sua voz trêmula continou.

- Quer saber como eu vejo você?- ele questinou recebendo um aceno de cabeça dela.

- Como?- sua voz o embalou em um calor desconhecido que ele não pode entender na época e talvez não entendesse até hoje..."

- Bela.- ele disse em voz alta voltando a realidade em sua frente.

Perigo ArrebatadorOnde histórias criam vida. Descubra agora