EPILOGO

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- Vamos, Pequitito! - Kelvin ouviu a voz grossa o chamar e sorriu com o apelido.

- Já tô indo, amor! - Terminou o delineado perfeito, passou gloss rosa com glitter nos lábios e estava pronto.

Hoje era a inauguração do Restaurante Night&Day, o maior sonho de Kelvin estava se realizando.

Depois de passar alguns perrengues ao logo da graduação, se dividindo entre o namoro, o estudo e o trabalho, finalmente havia conquistado o que merecia.

Não foram poucas as discussões novas que vivenciaram até ali, muitas vezes porque ele estava muito cansado ou Ramiro estava estressado por alguma coisa no trabalho. No entanto, eles tinham uma dinâmica: jamais dormiriam brigados.

Mesmo que para isso precisassem conversar horas a fio e dormir quase de manhã, pois a reconciliação sempre vinha acompanhada de uma tórrida noite de amor.

- Nós vamos nos atrasar para sua própria festa, Pequitito. - Ramiro sussurrou ao deixar um beijo no pescoço alvo do outro, ao mesmo tempo em que o abraçava pela cintura.

Kelvin sorriu, voltando de seus pensamentos. Nem havia percebido a aproximação do homem de sua vida.

- Eu tava pensando em tudo o que nos trouxe aqui e em como a gente sempre conseguiu dar a volta por cima. - Estava emocionado, mas se recusava a borrar a maquiagem recém feita.

- Você se arrepende? - Buscava os olhos de Kelvin pelo espelho, mas este se virou e buscou os seus de forma direta.

- Não mudaria absolutamente nada. - Afirmou sem um pingo de receio.

- Podia melhorar a forma que nos conhecemos, né? - Brincou, sabendo que aquele assunto não mais machucava seu amor.

- Nem isso eu mudaria, sabe? - Sua mente viajou longe por alguns segundos e logo voltou, o fazendo sorrir sincero. - Foi graças a isso que o acampamento foi desmascarado, meu progenitor preso e minha mãe livre de tudo aquilo.

Ali estava, a única cicatriz que ficara em Kelvin. Ele nunca mais pronunciou o nome ou chamara o homem de pai, novamente. Agora apenas se referia ao dito cujo como “progenitor”.

- Eu fico feliz em ver como o meu grande amor se tornou um homem pelo qual eu me orgulho de me apaixonar um pouco mais todos os dias. - Sorriu bobo, se aproximou e beijou o pescoço alvo.

- Amooor! - Deu um tapinha leve no ombro do outro. - Você vai me fazer chorar e borrar toda minha maquiagem. - A voz já embargada e as mãos abanando os olhos que fitavam o teto, na tentativa de impedir as lágrimas de se derramarem.

- Uhum! - Um pigarrear foi ouvido. - Atrapalho?

- Mamis! - Kelvin correu para acolher a mãe nos braços e a erguer, girando feliz. - Eu achei que a senhora não conseguiria vir.

Após anos de terapia, tanto de Verônica, quanto de Kelvin, agora os dois entendiam que ambos eram vítima de tudo o que aconteceu e o perdão aconteceu entre filho e mãe.

Desenvolveram uma ótima relação e Verônica amava ver o filho feliz ao lado do genro, que tinha como um segundo filho no coração.

- Eu perdi a sua formatura, bebê, jamais deixaria de vir comer o delicioso macarrão Santana. - O abraçou uma vez mais.

- Que bom te ver aqui, Dona Verô. - Ramiro se aproximou e abraçou os dois, que não haviam se largado ainda. - Não quero ser o chato, mas estamos os três atrasados agora.

- Você ainda é cricri com horário, meu amor? - Acariciou o rosto de Ramiro, que foi interrompido antes mesmo de ter a chance de responder.

- Militar, né Mamis. - Kelvin alfinetou e revirou os olhos em falso enfado. Então Sorriu largo e beijou os lábios de um Ramiro que o olhava com os olhos semicerrados. - Mas eu amo tanto esse chato.

Aos risos, todos partiram para a inauguração que, surpreendendo zero pessoas, foi um sucesso total.

Kelvin era um Chef de mão cheia e toda comida que fazia era deliciosa.

Anos mais tarde o sucesso seria tão grande, que pediriam por filiais em outros estados e até mesmo uma palestra no exterior.

Kelvin seria reconhecido mundialmente, juntamente de seu marido, Comandante Neves, não só pelo restaurante, mas pelas inúmeras campanhas contra a homofobia, principalmente a religiosa, e a abertura de uma casa que acolhia membros da comunidade sem apoio dos familiares ou mesmo em situação de rua.

O Espaço Santana Neves era famoso em cada canto do mundo e recebia pessoas de todos os países. Fora um refúgio para muitos que por ali passaram.

Ah! É importante citar que, no dia da inauguração do restaurante, Kelvin entendeu mais tarde o porquê de tanta pressa vinda de Ramiro.

No meio da festa um tilintar foi ouvido, Kelvin fora chamado na área de alimentação do local e encontrará seu amor fardado e ajoelhado o esperando com um grande ramalhete de flores amarelas nos braços.

Caminhou até ele, que segurou sua mão e falou.

- Nada mudou: o magnetismo ainda existe, seguimos sendo a alma dos lugares, vivemos o momento e o agora intensamente. - Ramiro se segurava para não chorar. - É Pequitito, eu acho que você tinha razão: foi mesmo um alinhamento milenar. - Arrancou risos de todos, principalmente de seu amor, que chorava de alegria. - Eu demorei muito pra aceitar que te amava, Kel, mas depois que ficamos juntos, eu apenas lamentei não ter aproveitado aquele ano.

- Tá tudo bem. - Kelvin balbuciou entre soluços, meio rindo, meio chorando.

- Tá sim… - ergueu-se, entregou o buquê para Kelvin e então enlaçou a cintura do mesmo em um abraço confortável. - Até porque de todos os meninos e meninas que eu já amei, eu escolhi você.

- Eu te amo, Ramis. - Conseguiu falar em meio a emoção.

- Eu nunca mais quero perder tempo e hoje eu estou aqui, pra você e com você, Pequitito, para saber uma única coisa: Kelvin Santana, você aceita se casar comigo e dividir toda sua vida com este homem que te ama além de qualquer compreensão?

- É claro que eu aceito! - Jogou-se contra o outro, tomando-lhe os lábios em um beijo emocionado. - E em todas as novas vidas que eu for viver, vou escolher você.

Kelvin fora erguido no colo e girado algumas vezes em pura alegria.

A gargalhada dos dois se mistura, soando como a mais bela canção de amor.

Não interessa como, mas quando almas gêmeas se encontram, elas sabem se reconhecer e jamais se afastam novamente.

O casamento dos dois foi um verdadeiro conto de fadas, digno de dois príncipes, mas isso, caros leitores, é outra história.

FIM

Cantareira (kelmiro)Onde histórias criam vida. Descubra agora