Sway

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Naquela manhã, Charlie reuniu Lúcifer e Alastor na antessala do hotel. A princesa se encontrava mais animada que o normal devido ao evidente progresso na relação de suas figuras paternas. As infames ameaças de morte finalmente cessaram e os dois aparentavam ter se acostumado com a presença um do outro. Era meio fofo como seu pai pedia a opinião de Alastor na cozinha, já que estava aprendendo as receitas do vermelho. Quem observasse a cena de longe, imaginaria que são recém casados.

Ela até pensou em tirar a corrente, porém, uma parte de si adorava vê-los juntos e tinha medo que terminasse sem a ligação entre eles. Adorou ver quando Alastor provou as comidas do anjo e o elogiou - comumente acompanhado de uma alfinetada travessa. Ou quando, em um dia qualquer, precisou perguntar sobre finanças do pai e entrou no quarto deles, deparando-se com ambos ouvindo uma canção antiga no rádio enquanto admiravam a paisagem. A menina sabia que aquele quarto era uma boa escolha.

Manteria eles acorrentados por mais um tempo. Não era hora ainda.

"Vocês tem uma missão do plano de ação!" Anunciou. O vermelho revirou os olhos e o loiro não se surpreendeu, afinal, eles sempre atendiam os clientes para Charlie.

"Iremos mudar de setor?" O anjo questionou.

"Não. Essa missão serve para focar em vocês!." Ela abriu os braços com um sorriso de orelha a orelha. "Hoje não precisarão ficar no hotel. Quero que foquem no trabalho que exerciam antes disso." Os orbes de Morningstar acenderam de preocupação.

"Creio que isso deva ser complicado.."

"Se fizerem isso, tiro as correntes." Ela não iria tirar, obviamente, mas precisava dar um empurrão.

Ambos aceitaram.

E por esse motivo, agora eles estão no palácio de Lúcifer, rodeados de patos dos mais diversos tamanhos.

"Então foi disso que falou naquela vez." Alastor caminha, cutucando os bichos com sua bengala. "Adorável. Qual o nome desse?" Aponta para um pato com duas metralhadoras.

"George. Ele atira." Lúcifer pega o bichano e o aperta, rugindo uma série de tiros em um alvo velho no outro lado do salão.

"Magnífico!" O demônio do rádio bate palminhas e fala como se parabenizasse uma criança após demonstrar um truque.

"Você tá amando isso." O loiro gostaria de enterrar sua face na terra. Guarda George em uma pilha de patos no canto. Ele se senta no escritório, checando uma montanha de papéis.

"Te ver constrangido é uma das minhas melhores diversões." O pecador se direciona ao lado do anjo. Inclina-se sobre o corpo dele a fim de ler os documentos e invade o espaço pessoal do outro. É possível sentir os fios vermelhos do demônio roçarem na bochecha de Morningstar.

Ele não tenta mudar de posição.

Como notado por Charlie, eles de fato estão mais próximos. Certas vezes, suas mãos se esbarram e eles seguem a rotina. Outras, o olhar de Lúcifer perdura por um intervalo grande em Alastor, que o encara de volta, envergonhando o loiro, que logo corta o contato visual. Na última semana, o radialista lhe apresentou alguns jazz de sua época, e eles apreciaram a melodia conforme a noite surgia e as luzes da cidade piscavam.

Rosie tinha razão sobre muitas coisas.

"Inadimplente." O vermelho lê o documento que Lúcifer possui em mãos. Seu hálito tem um odor acre. "Por que têm fichas de humanos?"

"São pessoas que tentaram me invocar. Escolho os mais desesperados e com maiores pecados para buscar a alma."

"Não firma contrato com eles?"

Killing me | RadioappleOnde histórias criam vida. Descubra agora