30º CAPÍTULO

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Espero que esteja fácil de entender as partes da história que se passam no presente e as partes que eles contam sobre o passado. Me avisem se estiver confuso.

Por favor, se você for vítima de algum tipo de violência (física, emocional, psicológica, material etc.) não hesite em pedir ajuda. Você não está só! 💜

Não esqueçam de deixar estrelinha no capítulo (⭐) se estiverem gostando da fic.

☀️


Atendendo aos pedido de Aimy, comecei a contar.


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Depois que nos despedimos no aeroporto da Austrália, Taehyung retornou a Córeia e eu ao Brasil. O sentimento era de estar algo imcompleto. Vivemos em função do fuso horário. Quando eu acordava, ele estava indo dormir, e vice versa.

Não sei o que realmente esperavámos que fosse acontecer, não fizemos planos e estavámos vivendo um dia após o outro, com uma falsa promessa que nos veriámos em breve. Nesse percurso, nos apegamos às nossas inumeras conversas e chamadas de aúdio e vídeo.

Passávamos o dia todo, e às vezes também as madrugadas, trocando mensagens ou fazendo video chamadas. Não tinhámos hora certa e aproveitávamos cada minuto que estivessemos livres, chegando ao ponto de conversarmos até quando estavámos no banho.

Nos esforçamos para fazer parte da vida um do outro, apesar da distância.

Durante um bom período isso funcionou muito bem, mas as coisas foram ficando complicadas. Taehyung tinha uma agenda muito lotada e caótica, e minha privação de sono estava começando a me trazer problemas no trabalho. Além de que após a finalização da turnê do BTS, fui escalada para ser tradutora de vários outros artistas em seus turnês mundiais. Nosso fuso horário mudava constantemente e nosso tempo livre raramente coincidia.

Aos poucos nossas chamadas foram diminuindo, assim como os assuntos em comum. As pessoas romantizam relacionamentos à distância, mas não sabem o peso e dificuldade de manutenção que eles têm. Inevitavelmente começa a ser difícil contextualizar a pessoa sobre as coisas que aconteceram no seu dia a dia, algumas coisas engraçadas não são a mesma coisa quando explicadas, os problemas demandam tempo e contexto. E isso é intensificado ainda mais quando as pessoas vivem em países, bolhas sociais e universos diferentes.

O nosso "término" foi algo que aconteceu gradativo e sem muita conversa e explicação. Simplesmente, em um belo dia, acabou. Restando apenas belas lembranças e carinho pelos momentos juntos.

A vida seguiu, as coisas mudaram e depois de uns meses acabei cedendo aos incessantes convites de minhas amigas para sair e conhecer pessoas novas. O mesmo aconteceu com ele, seguidos dos vários rumores de namoro com artistas famosas.

Em uma destas festas de minhas amigas, acabei conhecendo uma pessoa. Ele era muito gentil e me tratava muito bem. E passado alguns meses, começamos a namorar. Foi como todo começo de namoro, cheio de paixão e sem defeitos, mas ao decorrer de um tempo as coisas foram mudando.

Pouco a pouco, fui me afastando dos meus amigos e da minha família, segundo meu namorado, ninguém se importava realmente comigo a não ser ele. Brigávamos constantemente, mas a culpa sempre era minha ele dizia, e me convencia a pedir desculpas. Comecei a me sentir pisando em ovos, sempre com medo de causar uma nova discussão.

Um dia, por algum motivo que não lembro bem, sem que eu soubesse, ele apagou todos os contatos de homens da agenda do meu celular. Um desses números foi o de Taehyung.

Por mais que eu e Taehyung já não tivéssemos mais contato nessa época, eu me senti muito mal por isso. E claro que por também ele fazer aquilo sem minha permissão.

Em meu relacionamento, as coisas aconteciam em um padrão, estava tudo bem, brigávamos, ele me fazia acreditar que era por minha culpa, eu me desculpava, ele me tratava como a melhor mulher do mundo, tudo ficava bem de novo, até tudo acontecer novamente.

Isto estava se tornando tão frequente que comecei a questionar minha sanidade mental. E como uma medida de auto cuidado comecei a fazer terapia escondida, durante meu horário de almoço no trabalho. Posso dizer que isso que me ajudou a ver e entender o buraco que eu estava.

Apesar de ter ajuda, só consegui sair desse ciclo três meses depois, quando a violência estava dando sinais que ia deixar de ser "apenas" psicológica e emocional.

Quando decidi que ia por um fim a esse relacionamento, tive muito medo das consequências que aquilo poderia me trazer, tanto profissional como pessoal. Eu não sabia mais quais os limites que ele iria ter.

Cogitei a possibilidade de terminar e ir morar com a minha mãe na França, mas ele sabia onde ela morava. Pensando bem, para evitar a possibilidade que ele me perseguisse, minha saída seria me mudar para um lugar que ele não imaginasse.

Ao contrário do outro, este meu término foi algo planejado e preparado com cautela. Em uma semana, atualizei meu currículo e apliquei para vagas de tradutora em vários lugares do mundo, fiz várias entrevistas escondida, e rezei, para que me fosse enviado o melhor caminho.

Quando recebi meu primeiro e-mail de contratação, tive que tapar minha boca para não gritar de euforia. Fui contratada pela Big Hit para trabalhar na Córeia do Sul.

Tentei ao máximo evitar meu namorado durante o período de trâmites de documento e organização da minha mudança. Meu estranho comportamento fez com as brigas se intensificassem, e que eu parecesse uma pior namorada do que já era aos olhos dele.

Deixei ele acreditar que eu queria me desculpar, mais uma vez, e o chamei para conversar. Fiz isso em meus últimos dias de estadia no Brasil, somente quando já estava instalada em um hotel, para que ele não pudesse me localizar.

E aquele foi o fim. Claro que foi acompanhado de vários insultos e acusações que eu o estava traindo. Mas ainda sim foi o fim, era isso que importava.

Soube que no dia seguinte ele foi me procurar na minha casa. Como não me encontrou, entrou em contato minha mãe e meus amigos dizendo que eu estava desiquilibrada e que ele precisava me encontrar para me ajudar. E como eu temia, ele também foi me procurar no meu já antigo trabalho.

Neste mesmo dia embarquei para meu destino. Só me senti segura quando finalmente pus meus pés na Coreia. Aqui estava meu recomeço, onde ninguém me conhecia, e eu podia me restruturar e juntar meus pedaços quebrados até que eu ficasse bem novamente.


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Conforme eu narrava os acontecimentos do passado, meus amigos expressavam várias reações diferentes, como sons de indignação, irritação e alguns palavrões. Todos também disseram que sentiam muito pela minha má experiência.

ㅡ Eu sempre vou te proteger. ㅡ Taehyung disse me dando um beijo quando parei de falar.

Tae ficou o tempo todo abraçado comigo, me reconfortando. Ele sabia que isso não era algo fácil de contar, não era com todo mundo que eu me abria assim.

ㅡ Quando chegou aqui, você esperava que ia encontrar com Tae novamente? ㅡ perguntou Namjoon.

ㅡ Sinceramente, no começo sim. Mas depois que vi como funcionava a estrutura organizacional da empresa, eu perdi as esperanças.

ㅡ É tão dificil encontrar com vocês assim pelos corredores?! ㅡ perguntou Aimy inconformada.

ㅡ A empresa é muito grande. Dificilmente saímos do estudio ou das salas de treino. ㅡ justificou Yoongi.

ㅡ Eu não tinha nenhum contato com o BTS. Por isso, costumo pensar que ter encontrado Tae novamente foi um acaso do destino. ㅡ sorri para ele, que retribuiu.

ㅡ Por favor, continue! ㅡ pediu Aimy ansiosa. ㅡ Preciso saber como isso aconteceu.

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