𝐈𝐒𝐀𝐁𝐄𝐋𝐀 𝐏𝐈𝐓𝐎𝐍
✠
— O QUE VOCÊ' tá fazendo? — questionei a Júlia, sentada na mesa da cozinha.
— Comendo — ela apontou para o próprio prato como se fosse óbvio.
E pela cara dela, dava pra ver que o final da noite só foi bom pra uma de nós duas. E eu acho que fui eu.
Acho não, tenho certeza.
— Não. Não o que você tá fazendo agora. O que você tá fazendo na casa da mãe? Às 7:30 de um sábado? — encarei ela confusa, me sentando na mesa.
Enchi uma xícara de café preto sem açúcar, pra ver se me matava por dentro logo e arrancava essa sensação do meu estômago.
— Longa história — ela resmungou, bebericando seu café — e o que você tava fazendo que não dormiu em casa?
Gemi insatisfeita.
— Longuíssima história!
Um minuto de silêncio na cozinha.
Um minuto inteiro.
O relógio estalou no momento exato em que ela bateu na mesa, me assustando e quase me fazendo derrubar o café quente em cima de mim.
E pela camisa.
Dele.
— Isabela — ela exclamou surpresa — onde você tava?
— Cala a boca. Cala a boca — tentei calar ela, mas ela já gargalhava alto — vai acordar a casa inteira desse jeito. Fica quieta, pelo amor de Deus — choraminguei.
— Não consigo acreditar. Eu não tô acreditando — ela riu ainda mais.
— Cala a boca! Cala a boca! — tentei calar ela — Fica quieta. Por favor. Por favor.
— Eu não tô acreditando — ela riu mais e eu só abaixei a cabeça.
Entraria em um buraco agora se fosse possível.
Eu já estava quase chorando.
— Você foi mesmo com ele — ela falou alto — não tô acreditando que você foi mesmo.
— Você não viu seu celular? — perguntei em um sussurro — eu te enchi de mensagens.
Júlia gargalhou alto e eu coloquei as mãos no rosto.
É impossível ter uma manhã saudável nessa casa nas férias.
É impossível.
— Você transou mesmo com ele? Eu não consigo acreditar — ela gargalhava ainda mais.
Ela já estava ficando vermelha de tanto que ria. E eu só queria me esconder de baixo da mesa e sei lá? Sumir.
— Ela transou com quem? — minha mãe perguntou, entrando na cozinha com uma panela enorme.