O tempo voou. Lucy sentou-se a penteadeira, examinando-se no espelho. Um mês se passara, não faltava ne vinte e quatro horas para o casamento. nenhum milagre tinha acontecido, nenhuma fada tinha colocado um cheque debaixo de seu travesseiro, nem Debora havia mudado de ideia.
Ainda bem que ela fora obrigada a viajar nas ultimas semanas, primeiro para os Estados Unidos, depois para a Europa. Chegara somente naquela manhã, e depois do lanche, resolvera dormir. Passara a tarde inspecionando a instalação de um sofisticado sistema de computadores, sob o olhar fascinado de Bruno.
Lucy tivera esperanças de que Debora saísse naquela noite, para a habitual despedida de solteiros, mas ela resolvera ficar em casa para jantar. Isso significava que, se ela se atrasasse para descer, com certeza seria recebida com algum comentário sarcástico.
Levantando-se, checou a aparência pela última vez, notando que perdera um pouco de peso. O rosto parecia mais pálido e os olhos castanhos não tinham o brilho de costume. Saiu do quarto e começava a descer as escadas quando Bruno irrompeu pelo hall, desesperado.
- Tia Deb! - O menino passou por Lucy sem notá-la.
- Bruno? O que aconteceu?
- É o Sorte... Subiu numa árvore e não consigo fazê-lo descer. o tia, ainda bem que você chegou. Venha, ele está num galho alto e está chorando.
Debora o encarou com tolerância.
- Certo meu querido, não precisa ficar em pânico. ele provavelmente está bem. Gatos sobem em árvores o tempo todo.
- Mas ele é só um filhote! - Bruno insistiu, tentando conter as lágrimas. - E está chorando. Por favor, tire ele de lá.
com um sorriso, Debora concordou deixando-se conduzir pelo garoto através da sala de estar. Acompanhou-o até o Ipê-Amarelo que ficava ao lado da janela da biblioteca. A cena era patética. o gatinho, em pânico, estava em um galho que ficava cerca de quatro metro do chão.
- Provavelmente ele descerá sozinho - disse Lucy, na esperança de acalmar seu filho.
- Mas já está lá há muito tempo. E está ficando escuro. Se não o tirarmos agora, ele vai ficar a noite toda lá. Pode pegá-lo tia Deb? - O menino encarou-a com um olhar suplicante que dificilmente poderia ser ignorado.
Debora fitou Lucy, bem humorada. Não tinha outra opção a não ser satisfazer o desejo do garoto.
- Vou pegar aquele malandrinho.
Não foi uma tarefa fácil. Debora teve que subir na arvore, escalando uma escada apoiado no muro de pedras que cercava o jardim. Lucy ficou nervosa.
Um miado agudo, seguido de um palavrão, anunciou que a missão estava cumprida. A despeito do ferimento na mão da salvadora que chegava ao chão carregando o gatinho. Debora entregou o filhote a Bruno, que agradeceu comovido e saiu correndo para alimentá-lo.
- Muito obrigada - Lucy murmurou. Não desejava ficar muito próxima dela naquela noite... nem em qualquer outra.
- De nada.
- Acho melhor passar um antisséptico no arranhão.
- Não precisa se preocupar. Não é muito profundo. Acho que vou sobreviver. - olhou para o relógio no pulso. - É melhor andar depressa, o jantar pode esfriar.
Depois daquele incidente, foi impossível manter o silêncio. Principalmente porque Bruno ficava correndo o tempo todo pela casa , feliz da vida. O menino estava excitado porque iria para uma colônia de férias com alguns amiguinhos da escola.
- o que acontece numa barraca quando chove? - perguntou. O semblante demonstrando ávida curiosidade.
- Ela fica seca... desde que você não toque na lona.
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A Proposta
FanfictionLucy se apaixonara por Debora Souto-Maior à primeira vista. Quando soube que ela era comprometida, casou-se com outra mulher, mesmo sem amá-la, apenas para esquecer Debora. Apesar da infidelidade da esposa, Lucy manteve-se fiel, ainda que em suas...