Descoberta

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 Seis semanas depois, Lucy ouviu um ruído inconfundível. O carro de Debora subia a alameda que cruzava o jardim. Ela, que estivera decorando o salão para uma festa de casamento, ergueu a cabeça para ver o brilho prateado do veículo.

 Não sabia que ela chegaria naquele dia. Debora não se preocupara em informá-la. Mas também, não se incomodara em avisar que partiria. Não a via desde o funeral. Só ficara sabendo que aquela mulher viajara para o exterior uma semana depois, quando Julia comentara o assunto.

 As últimas semanas tinham sido as mais ocupadas da vida de Lucy. Além de decorar os salões, passara dias inteiros na prefeitura, para obter a licença de funcionamento da empresa. Depois acompanhara a impressão dos folhetos e aprovara os anúncios, além de cuidar da compra de talheres e louças, da troca das toalhas e da reforma dos móveis. Sem contar que também fora até sua antiga casa, para colocá-la à venda e pegar suas coisas. 

 O que Debora pensaria do progresso dela? Aparentemente não parecera levá-la muito a sério antes de partir. Bem, teria que engolir que estivera errada e não era o tipo de mulher que gostava de errar.

 Não fora nada fácil parar de pensar nela durante aquele período. Uma vertigem a dominava sempre que se lembrava dos encontros furtivos.

 Meneando a cabeça, como se quisesse afastar esses pensamento, Lucy voltou a concentrar sua atenção no vaso de violetas. Não havia por que se preocupar com a reação de Debora Souto-Maior. Daria prosseguimento a seus planos e ponto final. Além disso, ela ja devia ter esquecido da proposta absurda que fizera.

- Mas que progresso!

 Lucy virou-se e viu-a à porta, com uma expressão polida e distante.

- Obrigada.

  A mulher entrou no salão, examinando o papel de parede e os novos móveis.

- Muito bom. Parece que você tem talento para esse tipo de coisa.

- Eu sei, gosto muito desse trabalho.

 O olhar de Debora fixou-se no bolo de três andares, no topo no qual havia pequenos bonecos representando os noivos.   

- Que romântico! - comentou com cinismo.

- Tem razão. Acontece que o casal é muito jovem e inexperiente. Ainda esta na fase cor-de-rosa da vida. Tomara que o amor os mantenha sempre assim.

- Que tocante! - ela insistiu sarcástica.

- E é mesmo - disse Lucy, ignorando a provocação. - Claro que não espero que você entenda. Afinal, não sabe nada sobre o amor.

- Quanto a você, é uma expert, certo?

- Eu nunca disse isso.

Os olhos verdes brilharam de maneira provocante. Debora caminhou pelo salão, examinando a prataria, a porcelana e as taças de cristal.

- Você está se saindo muito bem.

- Estou - ela confirmou com uma ponta de orgulho. - Fiz dois casamentos na semana passada, além de uma recepção e dois aniversários. E estou planejando organizar um baile fantasma. Sabe que as pessoas desse lugar comentam que a casa é mal assombrada, não sabe? Já comecei a vender ingressos.

- Ótimo. E está obtendo um bom lucro?

- Sim - Lucy desconversou. Não estava ganhando o suficiente para cuidar de tudo, mas pelo menos era um bom começo.

- Você parece muito determinada. 

- E estou. Essa casa pertence a Bruno, e pretendo manter as coisas assim.

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