O Funeral

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 O funeral aconteceu na segunda-feira, exatamente como Debora planejara. Durante a cerimonia, o céu tornara-se cinzento. Todo o clã Souto-Maior compareceu: primos, tios, parentes distantes que Lucy encontrara apenas no casamento. E claro, dezenas de amigos de Leda.

 Ela sabia que a situação seria difícil, mas nunca imaginara quanto. Não podia deixar de notar que todos a observavam, entre curiosos e hostis. Se chorasse, alguns a acusaria de estar fingindo. Se permanecesse quieta, com certeza diriam que era uma pessoa sem coração.

 Não pôde conter as lagrimas ao ver o caixão baixar lentamente. Bruno, parado bravamente ao seu lado, segurava-lhe mão. ela fazia questão de sorrir com simpatia para o filho a pequenos intervalos, para confortá-lo e demonstrar que ele não estava só.

 Debora encontrava-se do lado oposto. E, a despeito do que acontecera, Lucy gostaria de se apoiar em seus braços, mas Melissa incumbira-se de fazer isso, chorando copiosamente no ombro dela.

 A cerimônia finalmente terminou, e as pessoas começaram a se afastar. Algumas cumprimentavam Lucy de passagem, uma ou duas até mesmo pararam para expressar condolências, mas a grande maioria parecia disposta a simplesmente ignorá-la. 

 Ela gostaria de ser a última a sair, para sussurrar sozinha seu adeus, mas Melissa não permitiu. De braços dados com Debora, a moça soluçava exageradamente, recusando-se a partir. Lucy decidiu então, ir embora depois de trocar algumas palavras com o padre , o mesmo que realizara seu casamento.

 Teve que voltar com Roberto e Julia. Felizmente a distancia era curta. Logo depois, com a desculpa de ajudar a Srta. Sara na preparação dos salgadinhos, afastou-se e saiu a procura do filho.

 Encontrou Bruno brincando e foi para a cozinha. Ajudou a preparar o bufê de frios, e em seguida saiu para respirar um pouco de ar fresco no jardim.

 Ao sentar-se entre as rosas, em uma pequena trilha que conduzia até os estábulos, sentiu as lágrimas jorrarem incontrolavelmente dos olhos. Se não tivesse conhecido Debora, talvez não fizesse tanta reservas a conduta de Leda. E então, nada teria dado errado. Por outro lado, se  Debora não estivesse noiva no primeiro encontro, quem sabe pudessem...

 - Lucy? - A voz aguda de Melissa interrompeu-lhe os pensamentos. - Que bom encontrá-la. Eu quero conversar.

- Sobre o que?

 Melissa se aproximou, sorrindo de forma desajeitada. 

- Já faz muito tempo. Tem passado bem?

- Muito bem - Lucy respondeu secamente. - E você?

 a outra mulher enrubesceu.

- oh, bem. As coisas não tem caminhado direito para mim. Sabe que me divorciei outra vez? Eu realmente não tenho sorte quando se trata de amor. Sempre escolho as piores pessoas. Gostaria de ser como você.

 Lucy a encarou com franca surpresa.

- Como eu? 

 Melissa sorriu com simpatia

- Bem, ao menos você tem Bruninho. Eu sempre quis ter filhos.

- Quis? - Lucy retrucou com um toque de ironia. - Não é disso que me lembro.

 Os grandes olhos de Melissa pareceram atônitos.

- Como pode dizer isso? Eu adoro crianças. Sempre adorei. Deve se lembrar... eu sempre disse que queria uma família grande. 

- Sei.

 Lucy deu de ombros. Não adiantava argumentar.

- Era Carla que não queria filhos - ela continuou com tristeza. - Acho que foi o motivo principal da nossa separação. Discutíamos muito sobre isso.

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