SOS - 2yeon

3. Insatisfação

[Nayeon]

Decepção. Foi isso que eu ouvi dos meus pais quando alguém próximo a família se assumiu.

Eu nunca me permiti encarar minha própria verdade, sempre me escondi atrás das expectativas dos outros e dos padrões impostos pela sociedade. O medo da descoberta da minha bissexualidade me consumia por dentro e ameaçava revelar uma parte de mim que eu mal conseguia aceitar.

Quando Mingyu me convidou para sair, eu não pensei duas vezes antes de aceitar. Era uma fuga temporária, uma maneira de evitar confrontar os segredos que eu guardava tão cuidadosamente dentro de mim. Mas agora, confrontada com a perspectiva de um casamento que não refletia meu desejo.

- Ming... - minha voz vacilou enquanto eu lutava para expressar minhas preocupações. - Eu já disse que não estou pronta para um casamento agora...

Ele se aproximou, sua expressão calma e controlada contrastando com a turbulência de minhas próprias emoções. O ajuste de seu terno era um gesto mecânico, uma tentativa de manter as aparências intactas.

- Isso é importante pra mim, Nay - sua voz era suave, mas carregava uma nota de determinação. - Eu sou o único na empresa que não é promovido, apenas porque não sou casado.

Minha mente girava com a gravidade de suas palavras, mas uma sensação de desconforto se instalou em meu peito. Era difícil reconciliar a ideia de um casamento baseado em expectativas externas com a noção de um compromisso verdadeiro e significativo.

- Então vamos casar apenas por causa disso? - minha voz soou frágil, carregada de incerteza.

- Você sabe que não é isso que eu quero dizer - sua resposta veio rápida, mas sua expressão revelava uma ponta de frustração.

- É isso que tá parecendo. - Resmunguei. - Você sequer comentou disso com a minha família. Eles não podem serem pegos de surpresa assim.

Uma sensação de desamparo me envolveu enquanto eu lutava para encontrar as palavras certas. Eu queria explicar, queria fazer Mingyu entender, mas as palavras pareciam escapar de mim.

- Não vou discutir com você logo cedo - ele pegou sua pasta, sua voz soando cortante.

- Foi você quem começou... - minha resposta foi sussurrada, mas ele já havia batido a porta, deixando-me sozinha com meus pensamentos tumultuados.

[...] Dias depois

Semanas depois da discussão angustiante em meu apartamento e um dia depois do pedido decidi que precisava de um tempo para mim mesma. O caminho para casa dos meus pais era permeado por um silêncio.

Ao chegar em casa, fui recebida pela presença acolhedora de Momo, minha irmã mais nova. Seus olhos curiosos me examinaram, buscando sinais de como eu estava.

- Bom dia, Momorin - murmurei, forçando um sorriso fraco. Assim que fechei a porta.

- Oi, Nay - ela respondeu, com seus cabelos longos escuros, fechando o zíper de seu moletom. - Está tudo bem?

- Não - admiti, passando a mão pelos cabelos e exibindo o anel em meu dedo. - Isso me tirou o sono.

Momo permaneceu em silêncio, absorvendo minhas palavras com uma expressão preocupada. Ela entendia, de alguma forma, a gravidade da situação.

- Você não queria isso, né? - ela questionou suavemente.

- Nunca quis casar. Aceitei por pura pressão - confessei, sentindo o peso do arrependimento pesar em meus ombros. - Ninguém entende o lado da mulher nesse sentido.