Capítulo V - De volta a casa

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BERNARDO


Eu observei-o enquanto ele dormia, no avião.

Porra, eu amava tanto aquele gajo!

Estávamos quase a chegar a Portugal, e eu mal podia esperar para viver definitivamente com o Gabi.

Passado umas horas, estávamos na nossa casa. Na nossa casa... Aquilo soava-me bem.

Arrumámos as nossas coisas e começámos a desfazer as malas. Adorava estar naquele casarão, com o Gabi. Sentia-me feliz por estar ali com ele.

Estava ansioso por me voltar a encontrar com o meu filho, o Tomás. Desde os últimos dois meses que eu não o via, e queria levá-lo a passear comigo e com o Pinto.

No dia seguinte fomos a casa da Gertrudes buscá-lo, à tarde.

Estranhei não ser a Ger a abrir a porta, visto que, no dia anterior, eu tinha-a avisado de que ia buscar o Tomás a casa dela, mas, até aí, tudo bem. O Tomás abriu a porta e saltou para os meus braços!

- Papá! - gritou ele, abraçando-me.

- Tiveste saudades, minorca? - perguntei-lhe, pegando nele ao colo.

- Muitas! - respondeu ele, desta vez, indo para o colo do Pinto.

- Onde está a tua mãe?

- Ela saiu.

- Saiu? - questionei, estranhando?

- Sim, saiu.

- Foi há muito tempo?

- Sim, ela saiu de manhã, com um rapaz.

- E entretanto já comeste alguma coisa?

- Ainda não, papá, mas ela deixou uma mala para eu levar para tua casa. Ela não costuma deixar uma mala quando se vai embora com ele.

- Não é a primeira vez?

- Não, papá. Eu fico sozinho muitas vezes. A mamã diz que eu já sou um menino crescido.

Eu não estava a achar graça nenhuma àquilo. Sempre confiei na Gertrudes para tomar conta do nosso filho, mas, afinal, ela deixava-o sozinho em casa para sair com um homem. O Tomás só tinha quatro anos, não podia ficar sozinho em casa.

Peguei nele e sentei-o no banco de trás do meu Mercedes, antes de me sentar no banco do condutor e dirigir até à minha casa.

Já em casa, o Gabriel alimentou-o, enquanto eu ligava á Gertrudes, furioso.

Para mal dos meus pecados, ela não atendeu. Naquele momento, só me apetecia atirar o telemóvel contra a parede. Estava com tamanha fúria que não queria ver ninguém à minha frente.

Para recompensar isto, ao me lado tinha o Tomás e o Gabi, as pessoas que eu mais amava nesta vida. Não ia fazer nada de muito mal enquanto os tivesse ao meu lado. Eram eles que faziam com que a minha paz interior voltasse.

Passaram mais umas horas e nada. A ansiedade que eu sentia para discutir, por fim, com ela, sobre o Tomás não é descritível em palavras.

Finalmente, por volta das onze e meia da noite, quando o Tomás já estava a dormir, ouvi o meu telemóvel a tocar. Era ela.

- Gertrudes, temos de falar - disse, num tom frio.

- De que precisas, Berna?

- De que tomes conta do nosso filho como deve ser, e que não o deixes sozinho em casa enquanto sais com mais um dos teus namorados! Ele só tem quatro anos

- A culpa não é minha! Eu tenho vida para além desse pirralho, e quero aproveitá-la!

- Ele depende totalmente de nós os dois, Ger!

- Mas agora preocupas-te? - perguntou, num tom sarcástico. - Não parecias muito preocupado com ele, quando tiraste férias com o teu namoradinho!

- Como não me importei com ele? - gritei, de forma descontrolada. - Eu mandei-te dinheiro mais do que uma vez para comprares comida e coisas para ele! Eu nunca deixei que vos faltasse nada!

- O dinheiro não é tudo, Bernardo.

- De qualquer maneira, não podes deixar uma miúdo de quatro anos em casa sozinho, ainda por cima sem lhe dares comida!

- A comida estava lá, ele é que não a comeu!

- Ele é uma criança, Gertrudes! Que autonomia esperas que ele tenha? Eu estava a confiar em ti para tomares conta dele! Como é que é suposto eu deixá-lo em tua casa agora, sem me sentir preocupado?

- Se te incomodar muito, não o deixes cá. Até é um favor que me fazes.

Eu não consegui deixar de me sentir extremamente irritado com a situação. A Gertrudes estava a revelar o seu lado mais frio e insensível. Porra! O Tomás também era filho dela!

A discussão não durou muito mais, e vi o pequeno Tomás a espreitar por detrás da porta, aparentemente a chorar.

Eu fui até ao pé dele e peguei-o ao colo, com delicadeza. Logo de seguida, sentei-me na minha cama, e acariciei-lhe os cabelos longos.

- O que se passa, Tomás? - perguntei-lhe.

- Não gosto que tu e a mamã discutam.

Vi as lágrimas a escorrerem pelo seu rosto delicado, e senti-me muito mal por aquilo estar a afetá-lo daquela maneira. Não era minha intenção magoá-lo. Eu detestava vê-lo assim.

Naquela noite, ele adormeceu no meu colo, e custou-me voltar a deixá-lo sozinho na cama.

Eu adorava aquele miúdo.

Eu, ele e os outros IIOnde histórias criam vida. Descubra agora