Capítulo 1

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— Então Hefesto se casou com Afrodite, a deusa do amor, que o odiava ardentemente por ser feio e coxo. Ela o traiu com — Joguei o livro para o outro lado do quarto, odiava as histórias sobre traição, se não se gostam, por que se casaram? E por que trair por causa da aparência? — QUAL O MALDITO PROBLEMA DELE SER MANCO? — gritei e recebi de volta um grito do quarto ao lado me mandando calar a boca. Suspirei.

— Qual o problema? Ninguém é perfeito... — Me cobri inteira com o cobertor lembrando o que meu ex falou:

"Se maquie um pouco mais, sabe, essas manchas parecem doença. E perca peso, quem no mundo gosta de transar com uma gorda?"

Solucei, no começo ele não era assim tão mal, capaz de falar coisas dolorosas como se não fossem nada, ele ficou assim com o tempo, quando seus amigos começaram a reparar em minha aparência, quando nos encontramos com sua ex na saída do cinema, no fim, não era a minha aparência ou meu peso, nunca foi sobre mim.

Tudo foi sobre ele querer dar um fim naquele relacionamento para voltar com ela, mas é como dizem: "os homens não terminam, eles nos tratam mal, nos negligenciam e destroem nossa autoestima para que a gente desista primeiro da relação". Tentei, sem muito sucesso, enxugar as lágrimas que caiam desesperadas por meu rosto, meu nariz entupiu, respirei pela boca entre um soluço e outro, minhas lágrimas não eram por ele, eram por mim, por raiva de mim mesma por continuar lembrando dele e me sentindo péssima por tudo o que ele me disse antes de ir embora.

— Eu só quero sumir... — Choraminguei antes de adormecer.

***

Quando acordei, eu estava deitada no chão com um coelho branco me olhando fixamente. Me sentei, havia algumas garotas ao meu redor, usavam lençóis e diademas.

— Ai meu Deus! Eu morri? Não, não, estou sonhando, só isso — Meu humor mudou subitamente do pânico à ignorância, voltei a deitar no chão abraçada ao coelho que tentou se soltar do meu aperto.

— Quem será ela?

— Nem ideia, ela é enorme. Não deve ser uma de nós.

— Viu a pele dela? É de duas cores, por quê?

— Ela deve ser algum tipo de monstro. Vi um ogro parecido.

Não aguentei mais escutar os murmúrios e me sentei novamente. Olhei cada uma das belas jovenzinhas ao meu redor, elas recuaram como se eu fosse mordê-las.

— Vocês são tão mal educadas. Eu estou um pouco acima do peso e tenho vitiligo, e não, não sou um monstro. Que lugar é esse?

— Olimpo. Somos as náiades, viemos para a cerimônia de união da Deusa Afrodite.

— Quê? É uma pegadinha? Deve ser uma pegadinha.

— Não sabemos o que é pegadinha, só sabemos que você não é convidada — Me levantei, eu usava minha camisola branca até o meio da canela, sacudi a poeira e olhei ao redor, ao longe havia uma grande mansão de um branco amarelado, como se toda em mármore.

— Que lugar é aquele?

— O lar dos deuses. É lá que a festa ocorrerá — Falou uma das náiades. Esfreguei os olhos e tornei a abri-los, depois me dei um beliscão, gemi diante da dor.

Não podia ser uma pegadinha, pelo menos na cidade onde eu vivia não tinham mansões tão majestosas como essa, em uma mansão assim cabe a minha cidade e o Estado inteiro dentro.

"Deve ser um sonho, um puta sonho realista. Devo ter tido algum problema, fiquei em coma e agora estou tendo um sono induzido. Não se desespere. Não se desespere. Os desesperados morrem primeiro. Tu leu milhares de livros de realidades paralelas e de reencarnação para saber lidar de forma madura com isso." Disse para mim mesma, decidida.

CINCO NOITES COM UM DEUS GREGOOnde histórias criam vida. Descubra agora