Capítulo 17

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Enquanto Mikoto permanecia sozinha na penumbra da sala, seu olhar percorreu as linhas marcadas pelo tempo em seu rosto. Naquele instante de solidão, ela mergulhou em seus próprios pensamentos, reflexões que há muito tempo vinham sendo relegadas ao segundo plano.

Fugaku nunca fora sua primeira escolha, não representava o primeiro amor que fazia o coração acelerar. Ele foi a escolha que foi feita para ela, uma aliança traçada nos corredores da tradição e das expectativas familiares. No entanto, Mikoto não se arrependia dessa escolha, pois, nela, descobrira algo mais profundo e significativo.

Ela pensou em Itachi, o primogênito cujo sorriso iluminava sua vida desde o momento em que chegara ao mundo. E também em Sasuke, o caçula que trouxe consigo uma alegria peculiar e desafiadora. Aquelas eram dádivas que, mesmo nos momentos mais difíceis, continuavam a ser a luz em seu caminho.

Enquanto as sombras da incerteza pairavam sobre seu casamento, Mikoto encontrava consolo e gratidão nos filhos que surgiram desse vínculo. Era a experiência da maternidade que dava um significado mais profundo à sua jornada, independentemente das escolhas feitas no passado.

O sol, já cansado de iluminar o dia, deixara a residência em um manto de sombras quando Fugaku Uchiha atravessou a porta. O interior estava envolto em penumbra, mas Mikoto permanecia na sala, onde uma pequena luminária lançava sombras dançantes em seu rosto. O ranger da porta anunciou a presença de Fugaku, e Mikoto, com sua expressão serena, virou-se para enfrentá-lo. Seus olhos, no entanto, denunciavam a intricada tapeçaria de emoções que se desenrolava dentro dela.

— Cheguei mais cedo do que o esperado. — Fugaku murmurou ao adentrar a sala.

— Bem-vindo de volta.

Houve um momento de silêncio tenso, quebrado apenas pelo sutil chiar da porta se fechando. Fugaku, com um tom frio, quebrou o silêncio:

— Onde você estava?

— Fui visitar Yuli. — A resposta de Mikoto soou calma, mas carregava consigo a força de uma decisão tomada.

O nome da neta agiu como uma faísca em um barril de pólvora. Fugaku apertou os punhos, uma demonstração visível da amargura que o consumia pela impossibilidade de estar presente na vida de Yuli. As emoções, há muito reprimidas, começavam a borbulhar, criando uma tensão que pairava no ar como uma tempestade prestes a desabar.

— Não vejo Yuli há tanto tempo. Isso não é justo. — Fugaku desabafou, suas palavras carregadas de um ressentimento que se acumulava como nuvens de tempestade.

— As coisas são como são, Fugaku. Não podemos simplesmente ignorar o que aconteceu. — Mikoto manteve sua postura, tentando transmitir uma firmeza serena, mas sua voz não escapou do toque de melancolia.

Fugaku se aproximou, seus olhos encontrando os dela em um duelo silencioso de emoções. Faíscas de ressentimento ecoavam nas profundezas de seu olhar, uma mistura de mágoa e frustração.

— Você acha que é fácil para mim? — Ele questionou, a aspereza em sua voz revelando a turbulência interna.

— Não se trata de facilidade. Trata-se de responsabilidade. — Mikoto tentou manter a voz estável, mas sua firmeza continha uma tristeza oculta, como as águas profundas de um lago sereno.

A sala tornou-se uma arena de emoções não ditas, um silêncio pesado pairando entre eles como uma cortina que separa passados entrelaçados. Então, como uma tempestade que se forma no horizonte, as memórias dolorosas e os desafios não resolvidos começaram a emergir, desafiando a frágil paz que haviam construído.

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