A sombra por trás da angústia

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Tudo mais levou praticamente uma hora até que aquela noite pudesse enfim se acalmar de alguma maneira. Os interrogatórios já haviam se encerrado e algumas papeladas extras foram assinaladas.

Eles estavam exaustos, muito mais do que seus corpos pudessem suportar.

Chifuyu ainda estava dentro do hospital, preso na recepção assinando os maquinários para que sua mãe pudesse continuar viva e respirando, nem que fosse por aparelhos –, ele fará de tudo para que ela ainda permaneça ao lado dele.

Enquanto isso, Ryusei esperava pelo loiro no grande estacionamento, próximo a sua moto que horas antes derrapava com desespero e às pressas pelo chão escorregadio. Ele olhava para o horizonte com um olhar vago, sua mente perdida em pensamentos sombrios.

Sentindo como o ar atmosférico inconsistentemente adentrava-o e amenizava por dentro sua ansiedade incomoda e incontrolável. Parecia que respirar ao ar livre fora do hospital era como fazer seus pulmões ganharem vida outra vez, pintando em colorido por dentro dele.

Era como se ele estivesse com a respiração presa na garganta antes mesmo de tudo aquilo ter iniciado e finalmente o caroço havia começado a se desfazer.

A noite é uma criança, Ryusei sorriu com o pensamento não mais que comum para muitos. As pessoas costumam dizer muito isso, e de fato, esta curta expressão se relaciona com diversos acontecimentos naturais dentro da sociedade, não há como negar.

Contudo, para os dois, ou mesmo apenas para ele, Ryusei entende o quanto a noite não havia passado de adulto, quase como um senhor na meia idade, rodando e rodando em torno de um caixão.

Por vez, ele deixa outro de seus suspiros escapar dele. Respirando fundo enquanto afastava o ar frio da manhã junto ao suspiro por meio de fumaças brancas.

Com seus pensamentos vagando para longe não demorou muito para que Ryusei começasse a sentir seus dedos doerem e uma estranha sensação de formigação correr pelo seu corpo. Ele sabe que estava ansioso e precisava se controlar, tem toda e completa ciência disso.

O difícil era fazer com que seu corpo obedecesse ao seu comando.

Por horas a fio ele tem se mantido em constante adrenalina, não se lembrando de fato onde tudo aquilo havia se iniciado. Todo o nervosismo e ansiedade que vem carregando consigo todos esses anos, não o deixam nem ao menos recordar do ponto chave para que pudesse se recompor antes mesmo de chegar na situação atual.

Ele morde o lábio inferior e segura o caroço na garganta mais outra vez. Ele sente que poderia chorar a qualquer momento.

Olhando para o céu sobre sua cabeça, Ryusei tenta dispersar tudo mais que possa estar lhe matando por dentro.

Seu ombro latejava e o fez recordar juntamente de sua mão pouco machucada de que havia levado um tiro.

Sim, merda, uma bala quase havia ultrapassado seu maldito ombro. Por Deus, uma bala de cobre com pólvora química poderia ter arruinado sua carreira completamente, porque claro, nem isso ele poderia fazer com competência. Então não parecia haver o porquê dele ter a merda dos dois braços funcionais.

Não apenas isso, claro que não, mas as consequências de seus atos caíram como chuva de granizo sobre sua cabeça. Seu nome estava na justiça, e não importa o quanto o delegado Kaito tenha tentado lhe tranquilizar, ele temia que sua imagem profissional fosse manchada como um rato sujo em um begueiro lutando para sobreviver.

Em algum momento a ansiedade e o tremor desses pensamentos lhe atingiram como um baque.

Ele se esforça para respirar fundo outra vez, ainda olhando para a pouca claridade do amanhecer. A brisa fresca batia em seu rosto e arrastava seus fios para trás sutilmente. Seu peito batia forte com as pancadas que seu coração trazia.

Vibrações no Silêncio | RyufuyuOnde histórias criam vida. Descubra agora