Perdido em copos e fumaças

16 3 68
                                    

Se o perguntasse sobre isso. Ele acharia engraçado, sem precisar pensar muito.

No entanto, Baji Keisuke, de todas as pessoas, tinha quase certeza de que jamais se veria obrigado a fazer algo assim. Mas, ali estava ele, em frente ao apartamento de um dos idiotas mais imprudentes que conhecia: Sato Ryusei.

Seu desgraçado, pensou. A raiva borbulhava dentro dele enquanto tentava contê-la apertando os punhos, controlando o impulso de socar a parede. Se Ryusei fosse um pouco mais responsável, ele não precisaria estar ali agora, enfrentando aquela bagunça.

Parado em frente à porta do apartamento do outro, Baji sabia que as próximas horas não seriam fáceis, mas era necessário. A situação de Chifuyu estava se deteriorando naquele momento, e mesmo que ele e Kazutora ou até seu intérprete substituto, Ken Ryuguji, esteja o ajudando, havia momentos em que o estado emocional de Chifuyu despencava repentinamente.

E Ryusei, com seus hábitos autodestrutivos e seu descaso pela própria vida, não estava muito longe de seguir o mesmo caminho. Baji sabe melhor disso depois de testemunhar de perto uma das crises de abstinência do amigo. E, mesmo sabendo o que o aguardava, ele estava ali, disposto a enfrentar aquilo mais uma vez.

Idiota. Estalou a língua. Idiota do caralho.

Respirou fundo, criando coragem de bater na porta, mas antes que sua mão tocasse na madeira, o cheiro forte de nicotina o atingiu. Mesmo a centímetros de distância, o odor era sufocante e o fazia querer tossir. Do outro lado, Baji conseguia ouvir sons vindos de dentro do apartamento – passos arrastados, talvez?

Antes que se desse conta, a porta se abriu, revelando uma figura desleixada de Ryusei, com suas roupas largas e amassadas, olheiras profundas como crateras e a pele opaca, sem brilho, parecia a personificação do cansaço e derrota.

Um cigarro pendia de sua mão, a fumaça subindo preguiçosa até o teto. Ele não disse uma palavra ao ver Baji, apenas sua expressão estóica e sem vida o receberam antes de virar as costas, deixando a porta aberta, como se a visita fosse irrelevante.

A mandíbula de Baji contraiu, o estalo quase audível enquanto ele reprimia a vontade de reclamar em voz alta. Ele precisava manter a calma. O estado de Ryusei não era algo que se resolveria com gritos ou frustração. Então, respirou fundo antes de seguir o outro para dentro.

Ao entrar, foi imediatamente envolvido pelo caos do outro lado. O apartamento de Ryusei era completamente seu reflexo mental – desorganizado, negligenciado e abandonado. Roupas espalhadas por todos os cantos, largadas sem nenhum cuidado. As poucas caixas de mudança ainda presentes, pareciam implorar por atenção, esperando há meses por um desfecho que Baji acreditava, por aquele instante, nunca chegar.

No entanto, o que mais chamava sua atenção não eram as caixas ou as roupas jogadas ao acaso, mas sim, as latas amassadas de cerveja espalhadas pelo chão que dominava o ambiente, junto com garrafas vazias – e algumas ainda pela metade – de uísque e vodca. Não só isso, como também as cinzas de cigarro cobrindo praticamente todas as superfícies visíveis, e o cheiro impugnante de álcool misturado com tabaco impregnava o ar de forma insuportável.

O odor era denso, quase palpável. Baji enrugou o nariz, sentindo a náusea subir em sua garganta enquanto tentava se adaptar à atmosfera tóxica daquele lugar.

Um pensamento de repente, atravessou sua mente: Então você decidiu voltar de volta para a merda Ryusei? Não havia dúvidas que, aparentemente, Ryusei decidiu se entregar a tudo que não fosse bom para esquecer, seja lá o que ele tenha pensado ultimamente.

Dias atrás Baji já havia reparado em alguns sinais preocupantes no bronzeado, piorou depois do que soube o que aconteceu com Chifuyu no hospital.

A princípio, Baji queria socá-lo, sacudi-lo até que acordasse daquele espiral destrutivo. No entanto, ele sabe que não adiantaria a nada e seria apenas perda de tempo para qualquer coisa que tentasse fazer Ryusei acordar. As respostas que ele buscava por hora, não seriam encontradas através de gritos e tentativas inúteis que não chegariam a lugar algum.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Oct 14 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Vibrações no Silêncio | RyufuyuOnde histórias criam vida. Descubra agora