Caminhos desfeitos

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Não mais de uma semana havia se passado e as coisas não pareciam melhores desde a última vez em que Ryusei esteve tão próximo de Chifuyu, e mesmo assim, aquela uma semana para ambos parecia que muito mais tempo havia se arrastado.

Cada dia era marcado por uma sensação constante de perda e arrependimento, como se ambos estivessem caminhando sobre cacos de vidro, sentindo a ausência um do outro como uma ferida aberta que se recusava a cicatrizar. A conexão entre eles, que antes parecia agir tão nova e intensamente, agora era frágil, quase quebrada.

Naquela noite no pub, algo havia mudado. Os beijos trocados, as mãos explorando o corpo um do outro, ansiavam por algo mais, o calor que emanava de ambos e a embriaguez falando mais alto que qualquer outra coisa, levando o melhor deles. Todas essas lembranças ainda estavam gravadas na memória de Chifuyu como um ferro em brasa. Ele podia sentir a presença de Ryusei em cada parte de si, como uma sombra que se recusava a desaparecer.

Mas, junto com o desejo, havia a culpa.

Chifuyu não conseguia afastar a lembrança de ter empurrado Ryusei para longe, de ter rompido o que poderia ter sido algo mais.

A conexão estava lá entre eles, viva e quente, mas agora parecia que algo havia se partido tão rapidamente quanto se formou ao se conhecerem pela primeira vez. Cada um estava preso em sua própria rotina dispersa e a inquietação do formigar em suas mãos vazias, sem saber como lidar com tudo o que aconteceu na última noite.

Era como se cada toque ainda estivesse gravado sobre suas peles. Mesmo agora que fisicamente separados, Ryusei e Chifuyu podiam ainda sentir a presença quente um do outro. A presença fantasma que se recusava a desaparecer de suas mãos.

Por um lado, a memória era boa, muito boa para falar a verdade. A paixão e o desejo que haviam compartilhado eram inegáveis. Mas, por outro, a memória de afastar Ryusei ainda batucava na cabeça de Chifuyu, como um martelo pontiagudo, perfurando a caixa de boas lembranças em sua mente.

Ryusei, por sua vez, compreendia que sua presença havia, de alguma forma, desbloqueado algo profundamente guardado dentro de Chifuyu: o amor e a capacidade de amar. Por isso, era compreensível o afastamento de Chifuyu, embora fosse um golpe doloroso para ele ter que lidar.

Ele sabia que o loiro não estava pronto para lidar com o tipo de relacionamento que parecia ter se insinuado entre os dois. Para ser honesto, nem Ryusei tinha certeza se estava para investir algo sério entre eles. Ele não achava que poderia confiar em alguém que estivesse ao seu lado, não depois de tantas desilusões.

Estando em muitos compromissos com várias pessoas, nenhum de fato funcionou e prosseguiu de forma normal como a maioria dos relacionamentos eram vistos. Essa repetida traição e desconfiança moldaram sua visão completamente sobre vínculos com outro alguém.

Afinal, em todas as suas experiências, ele foi o único a sair machucado ao invés de ser aquele quem machucava – não que ele gostaria de machucar alguém, mas talvez a desconfiança pudesse ser a mesma para Chifuyu.

Não sinto que esteja verdadeiramente bem, acho que preciso de ajuda. O email do mais novo de repente, veio à tona. Agora o loiro teria que lidar com o que já o carregava e mais com as suas ações irresponsáveis.

Talvez, pela primeira vez em sua vida, Ryusei conseguiu perceber que poderia ser, ou já estava sendo, alguém que pudesse machucar seu companheiro.

No entanto, havia algo diferente em Chifuyu, algo que o fazia querer tentar, apesar de tudo. Mas ele não tinha certeza se Chifuyu sentia o mesmo. Provavelmente não. Pensou, relutante em aceitar que realmente poderia ser isso.

Vibrações no Silêncio | RyufuyuOnde histórias criam vida. Descubra agora