O início de tudo

118 11 9
                                    

Ele ouviu. Ruídos de sapatos batucavam contra o chão de madeira, cada batida mais próxima que a anterior em sua direção, até que uma mão de repente se esticasse sobre seu campo de visão.

Ryusei não precisou levantar os olhos do celular para saber quem era. Reconheceria o som daqueles passos em qualquer lugar, e a mão que se projetava diante dele apenas confirmava a identidade da pessoa. Mesmo assim, em hipótese alguma ele desviou o olhar da tela, mantendo sua atenção completamente focada no dispositivo, ignorando a presença do outro.

Demonstrações de indiferença nunca pareceram afetar Hishi Kojiro de uma forma ou de outra, mas Ryusei gostava de usá-las de qualquer maneira. Era uma de suas armas favoritas, especialmente contra alguém como Kojiro.

Apesar disso, acabou tendo seu celular bruscamente roubado de si, e, antes que pudesse protestar, um soco leve o atingiu no braço. Uma audácia que o irritou.

Perfeito.

Ryusei suspirou e finalmente olhou para cima. Como ele imaginava, Kojiro estava ali, sorrindo com uma intensidade insuportável, seu rosto iluminado por uma expressão tão aberta e cheia de energia que Ryusei sentiu a vontade de xingar toda a sua existência até que desaparecesse.

"O que?"

Polegar e indicador juntos. O sinal claro indicava a pergunta sem qualquer entusiasmo. A expressão de Ryusei fortaleceu a ideia da pergunta, mas também demonstrava que não se importava nenhum pouco com a presença alheia. Embora tentasse reunir todo o autocontrole que possuía para não mandar Kojiro ir embora.

Kojiro, como sempre, não se importou com a irritação alheia, colocando as mãos nos bolsos enquanto saltava nos calcanhares. Ryusei soube de imediato, nada de bom poderia vir a seguir.

"Soube sobre as propostas dos médicos em Shibuya?" O loiro perguntou com inocência, suas mãos se movendo brevemente.

Como Ryusei previu, nada de bom.

"A menos que envolva alguma mudança dentro da comunidade surda, não estou interessado."

"Nada disso, mas haverá um contrato entre uma empresa que fornece treinamento de empatia. Para médicos e intérpretes do Hand Talk."

O mais novo fez uma pausa e mordeu o lábio, com um pequeno brilho divertido nos olhos, sinalizou: "Você está tão ferrado."

Ryusei suspirou pesadamente. "Há um programa de treinamento sobre como se tornar um bajulador falso e manipulador?"

Kojiro cruzou os braços. "Sim. A conexão humana é tão falsa." Sorriu de forma irônica.

"A ideia de treinamento de empatia é idiota. Você nasce naturalmente sensível ou não." Ryusei bufou. "Adivinhe onde me encaixo?" Perguntou, arqueando uma sobrancelha, entrando na diversão do amigo.

Kojiro puxa uma cadeira ao seu lado. "Você realmente não acha que a empatia pode ser aprendida? Estudos sugerem o contrário."

Ryusei revirou os olhos. "Estudos feitos por pessoas que ministram cursos de 'treinamento de empatia."

Kojirou assentiu, compreendendo o ponto de vista do bronzeado. Parando para analisar o contexto do que dialogavam antes de pontuar mais créditos a conversa.

"Como os testes de drogas contra o câncer que são feitos por pessoas que tratam o câncer."

Ryusei se inclina, virando a cabeça para a direção do outro. "E seus medicamentos contra o câncer são uma droga. Obrigado por fazer o meu ponto de vista." Respirou fundo.

Vibrações no Silêncio | RyufuyuOnde histórias criam vida. Descubra agora