Catorze

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A festa já tinha acabado há muito tempo, todos os convidados já tinham ido embora, quando, deitada em minha cama, fiquei pensando em Ava, no que ela disse sobre Aria estar presa por aqui, em como eu era culpada por isso. Sempre achei que minha irmã já tivesse seguido em frente e viesse me visitar por vontade própria. Porque, tipo assim, não sou eu quem a convida para vir me ver: é ela que aparece, quando bem entende. E quando não está comigo... bem, provavelmente fica batendo perna em algum lugar no Céu. Sei que Ava só está querendo ajudar, como uma espécie de irmã mais velha mediúnica, mas o que ela não percebe é que não quero ser ajudada; que mesmo que eu deseje voltar a ser uma garota normal e levar a vida que eu levava antes, compreendo também que tudo isso faz parte do meu castigo. Esse dom terrível é o que mereço por todo o mal que causei, pelas vidas que interrompi. Agora só me resta aceitar isso — e fazer o possível pra não prejudicar mais ninguém.

    Quando, enfim, caí no sono, sonhei com Billie. Um sonho tão forte, tão intenso e tão movimentado que parecia real. De manhã, no entanto, só restavam fragmentos desse sonho, imagens fugidias, sem pé nem cabeça. A única lembrança clara era de nós duas correndo por um vale gelado, varrido pelo vento — na direção de algo que eu não podia ver muito bem.

— Que deu em você hoje? Por que tanto mau humor? — pergunta Aria, empoleirada na beira da minha cama, vestindo uma fantasia de Zorro idêntica á que Eric usou na festa.

— O Halloween já acabou, sabia? — digo, olhando para o chicote que ela bate contra o chão.

— Dã. — Aria faz uma careta e continua a açoitar o carpete. — Gostei da fantasia, e daí? Acho que vou me vestir assim todos os dias.

    Diante do espelho, coloco os dois pequenos brincos de brilhante que sempre uso e prendo os cabelos num rabo de cavalo.

— Não acredito que você vai continuar se vestindo assim — observa Aria, contorcendo o nariz de desgosto. — Achei que tivesse descolado uma namorada. — Ela larga o chicote, pega meu celular e começa a bisbilhotar quais músicas estão gravadas.

    Olho para trás, me perguntando o que exatamente ela tinha visto.

— Alô-ou? Na festa? Na piscina? Ou será que você estava só ficando?

    Arregalo os olhos, mais vermelha que um tomate.

— O que você sabe sobre ficar, garota? Só tem doze anos! E que história é essa de me espionar?

    Ela revira os olhos e diz:

— Me poupe, vai. Como se eu fosse perder meu tempo espionando você quando tenho coisa muito melhor pra ver. Pra sua informação, apenas cheguei na piscina exatamente na hora em que você estava empurrando a língua pra dentro da garganta de Billie. Preferia mil vezes não ter visto aquilo, pode acreditar.

    Balanço a cabeça e abro a gaveta da cômoda, transferindo minha irritação com Aria para os moletons lá dentro.

— Bem, sinto muito decepcionar você, mas a garota não é minha namorada porcaria nenhuma. Nem falei com ela desde... — digo, odiando os embrulhos que sinto no estômago. Depois, pego um moletom cinza e visto pela cabeça, destruindo completamente o rabo de cavalo que acabei de fazer.

— Posso espionar ela se você quiser. Ou assombrá-la! — Aria ri.

    Olho para Aria e exalo um suspiro. A ideia até que não é má; por outro lado, sei que preciso tocar minha vida adiante, virar a página e esquecer tudo que aconteceu.

— Fica fora dessa história, tá bom? — digo por fim. — Se você não se importa, prefiro ter uma experiência normal no colégio.

— É você quem sabe. — Ela sacode os ombros e deixa o celular de lado. —Mas, para seu governo, Brandon está disponível de novo.

Para Sempre - Os Imortais. ●Billie Eilish●Onde histórias criam vida. Descubra agora