Quinze

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Já estou caída de sono quando Billie liga. Embora eu tenha passado os últimos dias tentando convencer a mim mesma de que não gosto dela, tudo muda assim que ouço sua voz.

— É muito tarde? — ela pergunta.

    Apertando os olhos para enxergar os números verdes do despertador, vejo que é muito tarde, sim, mas respondo:

— Não, tudo bem.

— Você estava dormindo?

— Quase. — Ajeito os travesseiros contra a cabeceira da cama e me recosto neles.

— Eu estava pensando... Será que posso dar uma passadinha aí?

    Novamente olho para o despertador, apenas para confirmar a insanidade da pergunta.

— Acho que não é uma boa ideia — digo.

    Segue-se um silêncio tão demorado que chego a pensar que ela desligou.

— Desculpe não ter te encontrado no almoço — ela diz finalmente. — Nem na aula de arte. Fui embora logo depois da aula de inglês.

— Hmm... sei. — resmungo, sem saber direito o que falar, já que não somos um casal nem nada. A garota não me deve satisfação alguma.

— Tem certeza que não é muito tarde? — ela pergunta, a voz grave e persuasiva. — Quero muito te ver. Não vou demorar.

    Sorrio, felicíssima ao perceber essa pequena mudança; é ótimo saber que, só pra variar um pouco, agora sou eu quem está dando as cartas.

— A gente se vê amanhã na aula de inglês — digo, e mentalmente me cumprimento com um tapinha nas costas.

— Que tal se eu passar aí pra buscar você? — ela sugere, quase fazendo com que eu me esqueça de Stacia, de Daniela, daquela estranha fuga da festa, de tudo. Por muito pouco não me disponho a passar uma borracha em tudo e recomeçar do zero.

    Mas não vou desistir assim tão facilmente. Portanto, obrigo meus lábios a dizerem:

— Axel vai de carona comigo. A gente se vê na aula de inglês.

    E, antes de correr o risco de mudar de ideia, desligo e arremesso o celular para o outro lado do quarto.

(...)

Na manhã seguinte, Aria pipoca na minha frente e diz:

— Ainda mal-humorada?

    Reviro os olhos.

—  Estou vendo que sim. — Ela ri e se empoleira na cômoda, os calcanhares batendo contra as gavetas.

— E essa roupa aí, o que é? — pergunto enquanto guardo os livros na mochila. Hoje minha irmã apareceu de saia rodada, corpete justo e uma longa cabeleira de cachos castanhos.

— Elizabeth Swann — ela responde sorrindo.

    Aperto os olhos, demorando um tempo para ligar o nome à pessoa.

— Aquela de Os Piratas...?

— Claro, quem mais poderia ser? — Ela levanta os olhos e faz uma careta. — Então, como estão você e a Conde Fersen?

    Finjo que não ouvi. Jogo a mochila nas costas e vou embora em direção à porta do quarto.

— Você vem? — pergunto.

— Hoje, não. — Ela nega com a cabeça. — Tenho um compromisso.

— Como assim, "um compromisso"?

Para Sempre - Os Imortais. ●Billie Eilish●Onde histórias criam vida. Descubra agora