Voltando da escola, chego em casa e encontro Billie à minha espera nos degraus da entrada, sorrindo de um modo que limpa as nuvens do céu e, com elas, todas as minhas dúvidas.
— Como você passou pela portaria? — pergunto, certa de que não liguei para permitir a entrada dela.
— Charme e um carro bacana funcionam sempre. — Ela ri, fica de pé e limpa a poeira da parte de trás de sua calça preta. — Então, como foi seu dia?
Dou de ombros, sabendo que estou quebrando a mais fundamental de todas as regras: a de nunca convidar um estranho para entrar em casa, mesmo que seja sua suposta namorada.
—Ah, o de sempre — digo. — A substituta falou que nunca mais vai voltar, a sra. Machado pediu que eu nunca mais voltasse...
Olhando de relance para Billie, fico tentada a continuar inventando histórias, pois vejo que ela não está prestando a menor atenção. Embora sacudindo a cabeça como se estivesse ouvindo, ela parece preocupada, distante.
Na cozinha, enfio a cabeça na geladeira e pergunto:— E você? Fez o que o dia inteiro? — Tiro uma garrafa de água mineral e ofereço a Billie, mas ela agradece com a cabeça e dá um gole em sua bebida vermelha.
— Dei um passeio de carro, surfei e fiquei esperando o sinal tocar pra ver você de novo — ela responde sorrindo.
— Bastava ter ficado na escola — digo. — Aí você não ia ter que esperar.
— Tentarei me lembrar disso amanhã. — Ela ri.
Apoiada na bancada, fico rodopiando a tampinha da garrafa de água, aflita por estar sozinha com Billie nesse casarão vazio, com tantas perguntas pra fazer, sem a menor ideia de como iniciar.
— Quer ir lá na piscina? — digo afinal. Talvez o ar fresco e o céu aberto me deixem um pouco mais calma.
Mas ela faz que não com a cabeça e me toma pela mão.
— Prefiro ir lá pra cima — diz —, dar uma olhada em seu quarto.
— Como você sabe que meu quarto fica lá em cima? — pergunto, olhando desconfiada para ela.
— Os quartos ficam sempre na parte de cima, não ficam? — ela responde rindo.
Fico na dúvida: não sei se devo ceder aos caprichos dela ou arrumar um jeito educado de evitá-la. Mas Billie aperta minha mão e diz:
— Vem, prometo que não vou morder. — Depois abre um sorriso tão irresistível que só me resta um desejo: que Aria não esteja à minha espera no quarto.
Mas assim que chego ao topo da escada ela irrompe da minha sala de estudos e vai logo dizendo:
— Ah, minha irmã, sinto muito! Eu não queria brigar com... Ôpa! — Ela para de repente e arregala olhos de coruja para nós duas.
Mas continuo andando para meu quarto como se nada tivesse visto, torcendo para que minha irmã tenha o bom senso de dar o fora e só voltar mais tarde. Bem mais tarde.
— Parece que você deixou a televisão ligada — diz Billie, e entra na sala de estudos e TV conjugada ao quarto. Por pouco não avanço em Aria quando vejo que ela segue atrás de Billie, olhando-a de cima a baixo, e começa a saltitar, sacudindo os polegares em sinal de aprovação.
Apesar das minhas caretas de súplica, ela se esborracha no sofá e planta os dois pés nos joelhos de Billie.
Furiosa com a falta de desconfiômetro da pentelha, saio a passos firmes para o banheiro, apostando que cedo ou tarde ela fará alguma besteira, algo maluco que me deixará em maus lençóis.
Arranco o moletom e inicio minha rotina de todos os dias: escovo os dentes com uma das mãos, passo desodorante com a outra, enxáguo a boca e visto uma camiseta limpa. Depois desfaço o rabo de cavalo, passo um pouquinho de brilho nos lábios, espirro um perfume e volto à sala. Aria ainda está lá, examinando o interior das orelhas de Billie.
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Para Sempre - Os Imortais. ●Billie Eilish●
De TodoDepois de perder toda a família em um desastre de automóvel, do qual inexplicavelmente escapou, Luna Whisper tem sua vida transformada por completo. Ela muda de cidade, de escola, de amigos e precisa aprender a conviver com uma realidade atordoante:...