We could call it even

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O sol a saudou quando saiu do JFK*, o dia em Nova Iorque estava surpreendentemente quente, mesmo assim um arrepio percorreu seu corpo, uma sensação de gelo emanando do que parecia ser um poço vazio em seu estômago. Estava esperando seu carro quando viu uma silhueta conhecida. Por um momento pensou realmente ser ele passando pelo ponto de ônibus do outro lado da rua, mas o homem virou o rosto e ela entendeu não ser nada mais que sua mente pregando peças. Àquela altura, seu trabalho como atriz era notável e Romanoff podia se dizer relativamente conhecida, não a ponto de ter um exército de fãs a esperando ao lado de fora. Talvez um paparazzi ou dois, mas lidaria com isso mais tarde. Ter deixado West Reading foi essencial para sua ascensão, haviam sido anos e anos se dedicando ao teatro e a chance de chegar ao topo, ou pelo menos os primeiros degraus para alcançá-lo, não poderia ser recusada. Deixar sua família, seus amigos e o amor de sua vida para trás, principalmente após a morte de Peggy, não havia sido fácil. Mas Natasha havia garantido para si mesma que aquela seria a virada de página que precisava para deixar o passado ser apenas isso, passado. No fundo, sabia que não seria tão simples, mas negava com veemência seu coração e o calava usando a razão até onde era capaz.

Seu telefone já havia começado a tocar constantemente, mensagens de seus colegas de trabalho, amigos, todos tentando chamar sua atenção agora que suas pequenas férias haviam chegado ao fim. Com um suspiro, ela percorreu as mensagens e finalmente ligou para sua agente, grata pela chance de voltar ao trabalho e se livrar do frio incessante que parecia segui-la até ali.

Em casa, Natasha desfez as malas, juntou as roupas sujas e começou a tirar o pó acumulado de todas as superfícies. Se envolveu com os afazeres e coisas pendentes para mantê-la ocupada, para deixar sua mente o mais longe possível da imagem de olhos azuis, cabelos castanhos dourados e lábios macios e rosados que agora se encontravam a quilômetros de distância. Finalmente tirou os sapatos desconfortáveis e abriu o zíper do vestido, abandonando a tensão. Instintivamente, ela entrou em uma ducha escaldante. A ardência da água quente lavou e ferveu qualquer outra coisa em sua mente. Vestindo um roupão fofo, sentindo-se limpa e renovada, ela olhou para o horizonte de Nova York, uma visão que conquistou para si mesma, e viu novamente em sua mente a silhueta no ponto de ônibus, um sorriso afetuoso refletiu-se no vidro da janela. Era um pouco solitário ali no topo. Ela pensou consigo mesma com uma tristeza calorosa enquanto subia em sua cama grande e vazia.

O resto da semana a partir daquele dia passou o mais normal possível. Sempre havia algo a ser feito, alguém para ligar ou encontrar, um roteiro para ler, falas para aprender ou aulas de ginástica para fazer. Isso a mantinha ocupada, permitindo uma distração. Mesmo com o passar dos dias seu foco nunca se estreitou totalmente, e havia um limite para o que ela poderia fazer antes que as memórias começassem a penetrar nas bordas de sua imaginação. Eles não se falaram muito. Natasha não tinha certeza de qual seria o protocolo correto a ser seguido agora, então apenas lhe deu espaço, imaginando se ele ainda estava se recuperando do reacender das últimas semanas tanto quanto ela.

Romanoff foi a festas, saiu com amigos, mas havia uma fenda ali, como se todos olhassem através dela. Podia sentir a falta de sinceridade em seus sorrisos e nas frases fabricadas. "Senti sua falta, baby!" ou "É tão bom ver você!" ou "Melhor amiga, como você está!?". Ela não queria nada mais do que contar a alguém, qualquer pessoa, sobre Steve e sobre o que estava passando, mas não sentia que podia confiar em ninguém. Era verdade que tinha sua amiga e agente Hope Van Dyne, mas achava que seria demais compartilhar essa parte de sua vida.

Então Natasha trabalhou. Deu seus próprios sorrisos falsos e cumprimentos que não foram além do superficial. Lançou alguns trabalhos dos quais estava muito orgulhosa. Estava recebendo ofertas de forma consistente agora, e já sentia-se capaz de ser mais seletiva sobre o que queria trabalhar. Não se tratava mais de sobrevivência.

'Tis The Damn Season - ROMANOGERS #CONCLUíDAOnde histórias criam vida. Descubra agora