Epílogo

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Narrador

5 anos depois..

Soraya observava a esposa através das enormes janelas da cozinha, apreciava aquele instante de silêncio pois em alguns minutos ele seria interrompido. Pegou uma xícara com chá e caminhou para fora de casa, sentiu a brisa fria da manhã abraçar seu corpo e sorriu levemente.

Os únicos barulhos presente naquele momento era o canto dos pássaros, o relinchar dos cavalos e o farfalhar das folhas com o vento. Adorava a paz daquele lugar, não se via mais morando no caos das selvas de pedras que eram as grandes capitais.

Caminhou calmamente até Simone e parou ao seu lado, estendeu a xícara para a mulher que rapidamente pegou e lhe lançou um sorriso agradecido. Observou ela levar a xícara até os lábios e fechar o olhos emitindo um grunhido satisfeito, enquanto ela estava com os olhos fechado aproveitou para apreciar sua beleza. As marcas de expressões estavam minimamente visíveis, as bochechas coradas pelo sol da manhã, os lábios levemente curvados para cima em um sorriso pequeno, os cabelos pretos balançavam com o vento revelando alguns fios brancos que a deixava ainda mais linda. Os anos só faziam bem para aquela mulher, a cada dia sua mulher estava mais linda.

- Quanto tempo de sossego ainda temos?- Simone perguntou baixinho, sua voz soou rouca devido ao tempo que estava em silêncio.

- Se muito uns 10 minutos!- Soraya falou com um sorriso nos lábios, observou a esposa assentir e tomar outro gole de chá.

- Que tal uma caminhada nesses 10 minutos?- a morena perguntou mirando os lumes castanhos claros da loira, recebeu um aceno positivo e rapidamente pegou a mão dela enlaçando os dedos.

- Só não podemos ir muito longe, sabe que não podemos deixar aquelas pestinhas sozinhas!- Soraya falou e Simone riu acenando positivamente. A morena puxou a loira para mais perto e abraçou seus ombros, beijou os cabelos loiros e aspirou levemente o perfume que provinha deles.

- Elas não estão sozinhas, acho que minha mãe consegue controlar elas por alguns minutinhos.- Simone falou afagando o ombro da loira, puxou ela mais um pouco contra seu corpo e começaram a caminhar sem uma direção específica.

Caminharam em silêncio até a cerca que dividia o piquete, Soraya se encostou no arame e Simone à abraçou por trás descansando o rosto em seu ombro. O ar campestre trazia uma paz sem igual para as duas, que sempre estiveram no caos que era Brasília, há três anos haviam deixado a capital do país e seus cargos públicos para viverem na fazenda, longe do caos e da correria.

Havia sido uma decisão em conjunto, se sentaram com a família e conversaram a respeito, foram apoiadas e acolhidas. Esperaram pelo fim de seus respectivos mandatos e se despediram da vida pública, voltando-se apenas para cuidar de sua família. Obviamente foi um choque para algumas pessoas, já que Simone era um grande nome para a presidência do país e Soraya se encaminhava para um segundo mandato promissor, houveram questionamentos e tentativas, por parte dos partidos, de que elas voltassem atrás na decisão, mas nada seria capaz de fazê-las mudar de ideia.

A vida longe do mundo político era mais tranquila e saudável, havia sido uma mudança gigantescas mas elas conseguiram lidar bem com isso. Simone estava melhor que nunca, não vivia tensa como antes, se alimentava melhor e dormia tranquilamente sem precisar se preocupar em ter que acordar cedo e ir voando para uma reunião. A única preocupação que tinha era em planejar a aula de Direito Administrativo, que dava uma vez por semana na universidade de Campo Grande. Havia voltado a fazer o que amava, havia voltado a lecionar e estava bastante satisfeita com isso.

Soraya havia voltado a advogar, vez e outra precisava ir até a cidade para alguma audiência. Gostava daquela nova vida, gostava da paz e tranquilidade que voltou a ter.

Por Acaso Onde histórias criam vida. Descubra agora