O vento gélido cortava os campos que cercavam a vila de Seredon, à sombra do imponente reino da Brivetreria. O sol há muito tempo havia abandonado aquele lugar, deixando para trás uma atmosfera carregada de desespero. À medida que o cerco da Brivetreria apertava, as rações escassas eram um eco amargo da fome que assolava a pequena aldeia.
Arda, de doze anos, caminhava ao lado de sua irmã mais nova, Lirael, de apenas seis. Seus passos pesados eram abafados pelo barulho das botas dos soldados Brivetrerianos, cujos olhares frios vasculhavam as poucas almas que ainda ousavam resistir. A vila, outrora vibrante, agora era uma sombra de desesperança, cercada por muralhas de pedra que pareciam encolher a cada dia.
O céu, antes azul e radiante, agora estava coberto por nuvens pesadas, refletindo a angústia que pairava sobre Seredon. A mãe de Arda, uma mulher de feições cansadas chamada Elowen, passava os dias em indiferença, cegamente ignorando as necessidades das filhas. Seu pai, um homem perdido em garrafas de vinho barato, era uma presença ausente na vida da família.
Arda, forçada a amadurecer precocemente, encarava a difícil tarefa de garantir a sobrevivência da irmã e, por extensão, da família despedaçada. Seus olhos, marcados pela tristeza e determinação, varriam os campos em busca de algo comestível. A tensão no ar era palpável, cada passo era como se fosse acompanhado pela batida cadenciada do coração, anunciando uma ameaça iminente.
— Irmã, fique perto de mim. — Sussurrou Arda, envolvendo Lirael em um abraço protetor. — Vamos procurar algo para comer.
As ruas estavam vazias, as casas fechadas como se temessem que a simples presença dos Brivetrerianos pudesse arrancar a última esperança que restava. A cada esquina, os olhos da garota observavam atentos, enquanto Lirael agarrava-se à saia surrada da irmã, inocência e medo entrelaçados em seus olhos.
À medida que Arda e Lirael vagavam pelas ruas desoladas, suas esperanças despedaçavam-se a cada porta fechada. O cheiro de fumaça pairava no ar, e a neblina se acumulava entre os becos estreitos da aldeia, como se as próprias sombras estivessem se preparando para devorar qualquer resquício de esperança que ainda pudesse existir.
Ao se aproximarem de uma casa modesta, Arda bateu timidamente à porta. Uma voz rouca e cansada respondeu de dentro, revelando um homem de aspecto áspero e olhos assombrados.
— O que vocês querem? Não temos nada para oferecer aqui. Vão embora!
Arda, olhando fixamente nos olhos do homem, tentou transmitir a urgência de sua situação. Lirael, apertando a mão da irmã, permanecia silenciosa, seus olhos grandes e cheios de inocência fixos no chão.
— Por favor, senhor. Qualquer coisa que possamos levar para casa. Minha irmã está com fome, e nossa família está desesperada. — Suplicou Arda, mantendo-se firme apesar da rejeição iminente.
O homem soltou um riso amargo e cínico, como se a desgraça alheia fosse sua piada particular.
— Fome? Todos estão com fome! Acham que são especiais? Vão embora, antes que chame os soldados para lidar com vocês duas.
A porta foi fechada com brutalidade, e as palavras cruéis ecoaram nas mentes das irmãs. O mesmo cenário se repetiu em cada casa que ousaram abordar. O desespero tornou-se tangível enquanto eram expulsas, humilhadas e rejeitadas.
— Arda, por que as pessoas são tão más? — Sussurrou Lirael, seus olhos marejados.
Arda a abraçou com força, tentando proteger a irmã da frieza do mundo exterior.
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O Crepúsculo Das Corujas
FantasyEm meio à desolação de uma cidade sob cerco, onde a fome e o terror semeiam o desespero, Arda, uma jovem afligida por uma família problemática, se depara com uma presença misteriosa - uma bruxa. Enquanto o caos na região se instaura, Arda inicia um...