Capítulo XIII - Lampejos Do Futuro

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No subterrâneo de uma fortaleza esquecida, onde o silêncio era cortado apenas pelo ocasional gotejar da umidade nas pedras, um corredor longo e sombrio se estendia com várias celas para prisioneiros. A luz era escassa, vinda de pequenas tochas que lançavam sombras dançantes nas paredes de pedra. O ar estava carregado com o cheiro de mofo e desespero.

Dois homens caminhavam pelo corredor. O mais velho, de meia-idade, possuía uma barba grisalha bem aparada e olhos que carregavam a sabedoria de anos de batalha. Seu nome era Seraphin, um veterano com uma reputação temida. Ao seu lado, um homem mais jovem chamado Niegel seguia com passos firmes. Niegel, com cabelos escuros e curtos, mantinha uma expressão de curiosidade misturada com apreensão.

— Estive ouvindo rumores, Seraphin — disse Niegel, quebrando o silêncio pesado. — Dizem que alguns homens voltaram da Ilha da Ponte, mas a maioria pereceu lá. O que aconteceu?

Seraphin olhou de relance para Niegel, sua expressão impassível.

— A Ilha da Ponte não é um lugar para fracos. Aqueles que voltam são... mudados, de uma forma ou de outra — respondeu Seraphin, sua voz grave ecoando pelas pedras. — O que lá reside é algo selvagem, algo que transforma os homens. Os poucos que retornam, retornam mais fortes e obedientes.

— Selvagem? Como assim? — perguntou Niegel, sua curiosidade aumentando enquanto passavam por uma cela onde um prisioneiro de olhos vazios murmurava para si mesmo.

Seraphin fez uma pausa, olhando para as profundezas da cela escura.

— Selvagem no sentido mais puro da palavra. É uma força primitiva, uma energia bruta que quebra a vontade dos homens e os refaz. Aqueles que sobreviveram foram forjados novamente, suas almas temperadas pelo fogo da loucura e da dor. Não há espaço para dúvida ou fraqueza depois de passar por isso.

Niegel franziu a testa, absorvendo as palavras de Seraphin. Eles continuaram andando, suas vozes abafadas pelas paredes de pedra.

— E você acha que isso é necessário? — perguntou Niegel, finalmente quebrando o silêncio novamente.

Seraphin parou e se virou para ele, seus olhos penetrantes fixos nos de Niegel.

— Em tempos de guerra, a força bruta muitas vezes não é suficiente. Precisamos de soldados que não questionam, que seguem ordens sem hesitação. A Ilha da Ponte oferece isso, uma transformação que nos dá a vantagem necessária para proteger nossa nação.

Niegel ficou em silêncio, ponderando sobre as implicações das palavras de Seraphin enquanto continuavam seu caminho pelas celas sombrias.

Eles se aproximaram de uma porta no final do corredor, onde Seraphin se virou para Niegel mais uma vez, uma expressão sombria no rosto.

— Aqueles que sobreviveram trouxeram com eles uma lealdade inabalável, mas a um custo. Eles não são mais os mesmos homens que foram. E nós, que não entendemos completamente o que acontece lá, devemos decidir se essa transformação vale o preço que pagamos.

Niegel assentiu lentamente, sentindo o peso das palavras de Seraphin. Eles estavam prestes a entrar em um território moralmente complexo, onde a linha entre a necessidade e a crueldade se tornava cada vez mais tênue

Seraphin abriu uma porta, revelando um quarto pequeno e mal iluminado. No fundo, duas silhuetas estavam visíveis, ambas em celas opostas, enquanto uma conversa em voz baixa se misturava ao som distante de gotas de água caindo das paredes úmidas.

— Se duvida de mim, veja o que consegui — disse Seraphin, conduzindo Niegel para mais perto das celas. Ele parou em frente a um homem robusto, de olhar vazio e semblante inexpressivo.

O Crepúsculo Das CorujasOnde histórias criam vida. Descubra agora