Capítulo VI - Os Outros

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Um ano havia passado desde os eventos tumultuados na vila, e Arda agora se encontrava imersa nos estudos na casa de Elara, mais especificamente na vasta e sombria biblioteca que servia como seu santuário de conhecimento. A luz fraca das velas lançava sombras sobre seu rosto, agora marcado por uma expressão mais dura e resoluta, uma testemunha silenciosa do amadurecimento forçado pela adversidade.

Arda estava sentada à mesa de madeira robusta, cercada por pilhas de livros antigos e pergaminhos desenrolados. Seus olhos percorriam as páginas com uma intensidade que refletia a seriedade de seu propósito. Cada palavra e símbolo eram absorvidos com uma fome voraz por poder e compreensão.

— Você tem progredido bem, Arda. — A voz de Elara interrompeu o silêncio da biblioteca, sua figura emergindo das sombras como um espectro familiar.

— Estou tentando. — Arda respondeu sem levantar os olhos dos livros. Sua voz era firme, mas carregada de um peso que só o conhecimento das profundezas das trevas poderia conferir. — Cada dia, cada palavra que leio, sinto que estou mais perto... e ainda assim tão distante.

Elara aproximou-se da mesa, observando a jovem que havia se transformado sob sua tutela. Ela podia sentir o poder crescente dentro de Arda, um caldeirão fervilhante de potencial e perigo.

— É o caminho daqueles que buscam verdadeiramente o poder. Nunca se sente perto o suficiente, pois as profundezas do saber são insondáveis. — Elara disse, colocando a mão sobre uma pilha de pergaminhos envelhecidos. — Mas você está aprendendo não apenas a procurar poder, Arda, você está aprendendo a dominá-lo. Isso é essencial.

Arda finalmente olhou para Elara, seus olhos revelando um brilho de determinação misturado com a sombra da responsabilidade que agora carregava.

— Eu sinto... às vezes... que estou perdendo parte de mim mesma nesse processo. — Arda confessou, a hesitação em sua voz traía a inquietação interior.

Elara assentiu, compreendendo a complexidade dos sentimentos de sua aprendiz.

— É o preço, Arda. Aqueles que se moldam para serem instrumentos de grande poder muitas vezes têm que sacrificar partes de si mesmos. Mas lembre-se, você está se forjando para algo maior do que a soma de suas partes.

Com um suspiro pesado, Arda voltou sua atenção para os livros. As palavras de Elara ressoavam em sua mente enquanto ela continuava a estudar, cada página virada uma etapa em sua jornada rumo ao desconhecido, armada com a promessa e o perigo do poder que buscava dominar.

Enquanto Arda mergulhava em seus estudos na biblioteca, batidas ressoaram na porta da casa, interrompendo o silêncio concentrado. Elara desceu as escadas rapidamente para atender, enquanto Arda continuava imersa em seus pergaminhos e tomos antigos.

Ao abrir a porta, Elara se deparou com uma figura enigmática e surpreendentemente familiar. A visitante era uma mulher de aparência muito velha, com longos cabelos grisalhos que caíam desordenadamente sobre seus ombros e um manto escuro que parecia absorver a luz ao redor. Seus olhos, penetrantes e astutos, brilhavam com um conhecimento antigo.

— O que você está fazendo aqui, Morana? — Elara perguntou com uma voz firme, surpresa com a súbita visita de alguém de seu passado.

— Tenha bons modos, Elara. Não é assim que se recebe uma velha amiga. — Morana respondeu com um tom repreensivo, mas sua voz carregava um leve traço de diversão.

Elara respondeu de forma sucinta, ainda de pé na porta, bloqueando a entrada:

— Estou ocupada, Morana. O que você quer?

O Crepúsculo Das CorujasOnde histórias criam vida. Descubra agora