𝐅𝐈𝐋𝐋 𝐓𝐇𝐄 𝐕𝐎𝐈𝐃

🝮.•𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎 𝟐𝟒...𝑹𝒆𝒄𝒐𝒎𝒆𝒄̧𝒂𝒓

                          𝐂𝐋𝐀𝐑𝐈𝐒𝐒𝐄.𝘃𝗶𝘀𝗶𝗼𝗻

Os nós de meus dedos doíam de tanto bater no saco cheio de areia. Eu não sabia a quanto tempo estava lá, mas com certeza perdi o treino das crianças e o jantar. Eu não queria parar. Eu não podia parar. A cada golpe, todos os acontecimentos dos últimos dias passavam em looping em minha mente. Bella me perdoou, mas de que adiantava se eu a perdi? Mesmo que temporariamente. Eu vou matar Dahlia. Eu vou espanca-lá até a morte por toda essa merda que está me fazendo passar, por me fazer correr o risco de perder a pessoa que mais amei em toda a minha existência.

Meus braços tremiam e doíam, meus músculos gritando de dor. Eu me sentia tonta pela falta de comida, e o ar já não entrava mais em meus pulmões direito, enquanto o suor me deixava encharcada. Mas eu não podia parar. Se parasse, eu iria desmoronar. A simples ideia de não ter Bella ao meu lado fazia minha garganta de fechar por desespero.

Pude ouvir alguém adentrando a arena, mas não me dei ao trabalho de ver quem era. Passos se aproximaram, e logo pude ver Aaron ao medo lado pelo canto dos meus olhos.
- Clarisse que merda aconteceu? Você está aqui o dia todo, não saiu nem para jantar!
O olhei de relance, sem parar de golpear o saco de pancada. Voltei minha atenção ao treino, sem me dar o trabalho de lhe responder. Aos poucos, pude sentir algo molhar minhas mãos mal enfaixadas, e conforme eu continuava a golpear, o sangue começava a atravessar as camadas da faixa, deixando uma mancha vermelha que começava a crescer.
Aaron chamava por mim, mas sua voz estava distante. Podia ouvir meu sangue bombeando em meus próprios ouvidos, o coração tão rápido que eu achei que ele fosse parar a qualquer minuto.
As grandes mãos de meu irmão seguraram em meu braço, me jogando para longe do saco de areia. Cambaleei, o encarando com raiva. O garoto tinha um olhar preocupado, esperando por resposta.
- Sai da minha frente! - Rosnei para o mesmo, tentando desviar dele. Mas ele continuou a barrar meu caminho.
- Clarisse mas que inferno! O que por Hades aconteceu!?
Esfreguei o rosto sem me importar com o sangue em minhas mãos, ou com a faixa arranhando minha pele. Um silêncio se instaurou, por alguns minutos, até que Aaron liberou meu caminho, me olhando a espera de explicações. Voltei a socar o saco de areia, mesmo que meus golpes escorregassem.
- Onde está seu colar? - Ele questionou.
Senti um nó se formar em minha garganta, as lágrimas enchendo meus olhos.
- Dei para Bella.
Murmurei com a voz rouca. Ele ergueu as sobrancelhas, me olhando esperançoso.
- Então vocês se resolveram?
Segurei o saco, parando de golpeá-lo. Encarei o couro sujo, tentando conter as lágrimas. Aaron esperava pacientemente, sem me pressionar. Finalmente, eu encarei meu irmão, que logo notou que havia algo errado, murchando.
- Ela pediu um tempo. Ela não confia mais em mim.
Aaron franziu o rosto, me encarando com pena. Tive vontade de socar sua cara por aquilo. Até que ele se aproximou, me abraçando com força. Por um momento, fiquei sem reação, completamente estática, até que me permiti desmoronar.

Deixei que as lágrimas se libertassem, enquanto ficava na ponta dos pés e passava os braços em vontade de seu pescoço, retribuindo o abraço com força. Aaron não disse nada enquanto eu chorava em seu ombro, apenas acariciou minhas costas, demonstrando apoio. Ficamos assim por bons minutos, até que eu me acalmasse, o cansaço me fazendo ficar mole em seus braços.
Aaron me ajudou a ir até as arquibancadas, onde nos sentamos. Coloquei meus braços sobre minhas coxas, apoiando todo meu corpo ali e segurando a cabeça enquanto fechava os olhos. Meu irmão continuava a acariciar minhas costas, em silêncio. Suspirei por fim, ergueu a cabeça e secando as lágrimas.
- Chega dessa merda, alguém pode entrar.
Murmurei, desfazendo a amarração da faixa. Franzi o cenho para os nós de meus dedos machucados, a dor sendo muito bem vinda enquanto eu tentava tirar toda aquela bagunça de minha mente.
- A Bella te ama, Clarisse. Eu tenho certeza que as coisas vão voltar ao normal em breve.
Suspirei profundamente, encarando minhas mãos machucadas.
- Eu espero que esteja certo. - Murmurrei fraco.