Capítulo 20.

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2024.

Lena.

Receber aquela ligação foi menos assustador do que eu achei que seria. Minha mãe estava internada e a última vez que conversamos ela virou um tapa na minha cara e nós discutimos feio. Antes de decidir sair, eu pensei muito se deveria ir até lá. Talvez Lilian não quisesse me ver nunca mais. Ainda assim, decidi que precisava ir para garantir o bem estar de Kara. Não podia deixá-la sozinha no hospital.

Depois de ver a minha loira encolhidinha naquela cadeira, abraçando o próprio corpo, tive a certeza que fiz a coisa certa. O jeito que ela simplesmente aceitou o jantar que trouxe mostrou que eu estava certa em achar que ela não tinha comido nada. Minha alimentação nunca foi das melhores mas eu queria garantir o bem estar dela.

Só depois de me certificar que ela estava bem e se alimentando que eu parti em direção ao quarto que uma das enfermeiras me informou que minha mãe estava internada.

Vê-la desacordada naquela maca de hospital me deixou nervosa. Minha vida toda eu dividi minha mãe com aquele restaurante, passei por coisas inimagináveis em casa só porque ela não estava lá para me proteger, perdi festas na escola porque nunca tive nenhum parente para me assistir. Ela só sabia me cobrar de forma doentia para que eu fosse perfeita em tudo, como se garantir que eu fosse bem sucedida na vida fosse compensar sua ausência e falta de afeto. Bom, estava claro que ela não tinha conseguido nenhum dos dois.

Eu ainda não era ninguém na vida, minha carreira acabou quando eu estava prestes a virar uma estrela, o coma me impediu de continuar a faculdade e me formar, não construí nada. Não casei, não tive família, nem posses, tudo que tinha agora era um emprego com salário baixo, um chalé pequeno no meio do nada em meu nome e muitos traumas reunidos em uma só mente.

—  Você fez isso consigo mesma. Se afundou e me levou junto, Lilian.  —  Engoli em seco, esfregando os olhos na tentativa de evitar as lágrimas.  —  Mas, por mais que tenha sido uma mãe incompetente e me deixado na mão em todas as vezes que precisei, eu não sou um monstro como você. Eu não vou te largar aqui. Você vai ficar bem. Sei que vai acordar, e sem sequelas.

Mesmo que tivesse muita mágoa guardada, eu segurei sua mão e respirei fundo, fazendo uma reza silenciosa que havia aprendido quando criança. Eu não sabia rezar espontaneamente porque as palavras fugiam de minha cabeça, por isso forcei minha memória e ditei aquelas palavras silenciosamente, desejando por sua melhora.

Aquela noite eu não sai dos hospital em nenhum momento depois de deixar Kara em casa. Os médicos me informaram que haviam chances da minha mãe acordar com sequelas devido a idade e suas condições de saúde, e que por isso optaram por deixá-la em coma induzido por danos cerebrais que foram identificados depois de uma série de exames, mas era impossível saber ou prever o tempo para recuperação. Eu já sabia bem sobre tudo relacionado a lesões no cérebro, afinal, tive duas bem sérias que quase me mataram. E agora, era com minha mãe. Eu devo ter sido alguém muito ruim em uma vida passada para que meu karma me alcançasse dessa forma.

Ainda que eu esperasse que ela acordasse logo, isso não aconteceu. Os médicos me disseram que ela não estava progredindo, que não estava pronta para ser acordada, e então três semanas haviam de passado como meses. Nas primeiras duas semanas Kara e eu estávamos mais juntas do que nunca.

Ela esteve de suspensão do treino, e como eu era sua chefe agora, também lhe dei um pouco mais de tempo livre do trabalho do que deveria. Eu agora tinha que me dobrar entre o trabalho, ficar no hospital com Lilian, e administrar o restaurante. Também tomei algumas medidas lá, e a principal delas foi promover minha garota a gerente do restaurante. Assim eu a tinha para mim mais vezes ao dia, e ela não chegava tão cansada.

Recomeço. - SUPERCORP.Onde histórias criam vida. Descubra agora