CAPÍTULO 1 - SAVE HIM

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Tudo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida.
- A Hora da Estrela, Clarice Lispector.

Salve Ele

Midori Akame caminhava para fora da estrada Herrick em direção à Hwy 101, quando estrondos ecoaram terrivelmente, adentrando metros e metros de mata fechada.

Midori era uma moça que aparentava ter dezenove anos, apesar de ter mais de quatrocentos anos de existência. Era alta, magra, de cabelos pretos na altura dos ombros arrepiados para lados que burlavam as leis da simetria, e um tom de pele branca, como neve alva. Isso não se devia somente à imortalidade vampiresca, mas sim também à sua genética e nacionalidade. Filha de pais japoneses, ela também tinha lindos olhos dourados - outrora pretos - puxados para as extremidades de sua face.

Dizem que os asiáticos - e quando digo asiáticos me refiro aos mais conhecidos: coreanos, japoneses e chineses - são todos iguais, mas sabe-se que isso não passa de um comentário ignorante. Pode ser que tenham, em sua maioria, os cabelos pretos e lisos, olhos puxados e suas peles em tons de branco e amarelo, porém, todos sabemos que não importa o quanto sejamos parecidos com alguém, ainda somos diferentes. E é isso que faz a humanidade ser tal como é.

Midori Akame poderia ser parecida com centenas de outras garotas asiáticas se vista de um ponto de vista de uma pessoa preconceituosa ou ignorante, mas ela era diferente não somente na posição em que seu nariz ou sobrancelhas estavam, mas em seu interior, na pessoa que ela era.

E ela era aventureira: adorava conhecer novos lugares. Era aspirante à pesquisadora há mais de trezentos anos. Ela descobria novas espécies, "anomalias", como sempre chamava. Não era do tipo dissecadora. Preferia analisar, escrever suas descobertas e dar suas notas finais.

Midori amava admirar a natureza e os cantos das aves.

Era fascinada com o concertos de pianos e com o oceano.

Dançava ballet quando sentia que precisava se expressar. Rodopiava com mais sutileza que qualquer outro ser podia rodopiar.

Gostava de ler; gostava muito de ler! Também tentava escrever em seu tempo vago, mas nunca achou que tivesse verdadeiro talento para tal coisa. Tinha ideias incríveis, mas não conseguia colocar no papel.

Ela também era uma pessoa curiosa, coisa que achava ter puxado de sua mãe. Não que ela se lembrasse dela, mas haviam pequenas coisas que estavam marcadas em sua memória como tatuagens na carne humana. E por isso, ou talvez por uma jogada do destino, sem nem pensar duas vezes ela correu e pulou em meio à tempestade, pelas árvores, deixando de lado a proteção da natureza contra a chuva.

Raios e trovões cintilavam e se expressavam de forma triunfante no céu.

E quando ela enfim chegou na copa da última árvore na beira da estrada, ela viu uma viatura capotada.

A lataria estava toda amassada. Havia respingos de sangue para todo o lado, principalmente uma poça sanguínea saindo do lado do motorista, sangue esse que era levado pela água da chuva. Quade todos os vidros do carro estavam quebrados. Pedaços e lascas de madeiras estavam espalhados. O cheiro forte de gasolina pairava no ar, não sendo oculto pela forte tempestade, mas Midori não o sentia. Ela prendera o ar desde antes mesmo de ouvir os sons que anunciavam o acidente.

O carro derrapou, bateu a lateral em algumas árvores e capotou diversas vezes.

Midori não foi capaz de ouvir os dois corações que ainda batiam, pois não ampliou sua audição. Ela nem sequer acreditava que as pessoas envolvidas estivessem vivas.

Antes que ela virasse e continuasse andando para Cabo Flaterry, no topo da Península do Olímpico, a porta do banco do passageiro voou longe, e uma garota, de não mais de cinco anos de idade - aparentemente - saiu de dentro do carro se arrastando com uma mão na barriga, e cortes por toda a face e corpo. Seu pequeno e magro corpo sangrava, mas Midori observou atentamente enquanto os ferimentos também se curavam com rapidez inigualável. Foi questão de poucos segundos até que ela pudesse andar novamente.

Midori & JasperOnde histórias criam vida. Descubra agora