Cinco anos

81 12 6
                                    

Casados há cinco anos, Juliette e Rodolffo sempre foram um casal dentro dos padrões de felicidade.

Não tinham filhos e aparentemente tufo ia bem na relação.

Digo aparentemente porque algo aconteceu quando ele chegou  um dia acompanhado de Letícia.

- Juliette,  está é minha prima Leticia.   Vai viver uns tempos connosco.

Juliette mirou a tipa de alto a baixo e não gostou.  Foi cordial,  mas nem tanto.

Chamou Rodolffo ao quarto para conversar.

- Não entendi, Rodolffo.   Como é que trazes uma mulher para casa sem me pedir opinião?

- E minha prima, Juliette.   Não podia dizer não.

- E de onde surgiu essa prima de repente?  Nunca ouvi falar dela.

- Agora não interessa.  Vai ficar aqui e não se fala mais disso.

- Não é assim, Rodolffo.   Esta casa não é só tua.

- Já decidi, Juliette.   Sem drama, disse ele saindo do quarto.

Leticia era uma jovem com boa aparência.   Alta, loira e bem vestida, aparentava ter um estilo de vida refinado.

Rodolffo voltou à sala e foi indicar o quarto onde ela ia ficar.  Juliette demorou para deixar o seu e de seguida foi preparar o jantar.

Enquanto ela cozinhava, os dois conversavam na sala, na maior intimidade, como se se conhecessem há décadas.

- O jantar está pronto.

- Ah!  Esqueci de dizer, Juliette.   Sou vegetariana.   Não como carne, nem peixe nem ovos.

- Pois hoje só temos carne, mas ali na geladeira alface, cenoura e couve.  Fica à vontade.

- A Juliette está a brincar, disse Rodolffo.   Claro que ela vai preparar alguma coisa para ti.

- Nem pensar.  Eu fiz o jantar, não quer comer, paciência.  Se ela não quer, está à vontade para fazer.

- Eu faço uma salada.  Não precisam discutir por minha causa.

Rodolffo ficou empurrado o resto do jantar.  Só respondia ao que Leticia perguntava e ignorava-me completamente.

Os dias passaram e o ambiente em  asa não era dos melhores. 
Eu recusava-me a fazer qualquer coisa para aquela lá.  Nunca seria criada dela.

Ela revelou-se de um cinismo atroz.  Comigo ela implicava com tudo e tentava diminuir-me.  Na frente de Rodolffo era a melhor pessoa do mundo.

Quando eu contava ele não acreditava.  Dizia que era implicância minha.

Rodolffo tinha sido diagnosticado com insuficiência renal há cerca de um ano.  Duas vezes por semana fazia hemodiálise e quando regressava de cada sessão vinha muito abatido.

Por conta disso eu tentava não o incomodar muito, mas esta história de prima eu não consigo engolir.

Passámos a discutir muito mais e eu era acusada de insensível e conflituosa.

Cansei, e hoje  passados seis meses desde a chegada da prima eu estou saindo da nossa casa para parte incerta.

Ele nem fez questão de me impedir.
Peguei minha mala com poucos pertences, chamei um carro de aplicativo e fui até ao terminal dos comboios.

Olhei para a lista dos destinos e escolhi um.
Comprei o bilhete  e lá fui eu entrar no comboio.

Acomodei-me no meu lugar junto à janela e esperei a partida.

Duas horas depois, o comboio continuava no seu trajecto lento.  Pensei que nunca chegará ao destino,  mas também não interessava, eu não sabia qual era.

As àrvires corriam no sentido contrário e dei por mim a pensar que estava na direcção errada.

O comboio parou pouco tempo depois numa das estações e eu decidi sair e comprar o bilhete de regresso.

Mudança de estação Onde histórias criam vida. Descubra agora