A descoberta

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A partir daquela noite eu resolvi dar uma nova chance a Rodolffo.  Voltei para o seu quarto e vivemos como um verdadeiro casal.

Rodolffo vendeu a casa antiga e conseguiu com o proprietário comprar esta onde moramos pois tanto eu quanto ele gostamos dela.

Faz já um ano que realizámos a cirurgia.  O rim de Rodolffo tem-se portado bem até agora  mas nós sabemos que é um dia de cada vez.

Eu também,  depois daqueles meses hospitalizada nunca mais senti nada.

Hoje tivemos a nossa consulta de rotina e fizemos diversos exames.

Quando vieram os resultados das análises eu estava com Rodolffo.   O médico foi logo dando a notícia sem preparação.

- Juliette,  você está grávida de 2 meses.

- Eu o quê?

- Grávida, amor.  O doutor diz que estás grávida.

De início fiquei apavorada por não saber quais as implicações que resultavam do facto de só ter um rim.

- Está tudo normal, Juliette.   Isso não é impeditivo de ser mãe.

Saímos dali.  Eu apreensiva e Rodolffo eufórico.

- Amor, um bébé.   Dentro de meses temos um bébé aqui em casa.

-  Como eu não dei conta?  Realmente o meu período tem falhado nos últimos meses, mas não associei a gravidez.

- Vamos começar a comprar as coisinhas de bébé.

- Ainda é cedo.  São só dois meses.  Ainda faltam pelo menos 7.

Sete meses que passaram com uma rapidez assustadora.

Juliette grávida era a coisa mais sensual.  Não teve enjoos nem desejos especiais.   Daqueles que fazem a gente levantar de madrugada para procurar coisas esquisitas.

Hoje voltamos para casa com a nossa Ana Filipa.  Uma bébé rechonchuda, cabelinho preto e olhos da cor de mel.

Rodolffo e Juliette estavam apaixonados pela princesa deles.

Tudo caminhava muito bem, mas nunca está tudo bem.

Até parece maldição.   Quando nos livramos de um problema, logo outro aparece.

Era mais um dia de exames rotineiros.  Rodolffo foi fazer as análises de rotina e ficou admirado quando lhe pediram para fazer uma ecografia.

Perguntou porquê? 
Era para ver o estado do rim, respondeu a enfermeira.

Na consulta o médico alertou-o para uma pequena infecção no rim e que ia tentar reverter a situação.

Rodolffo voltou para casa e não quis preocupar Juliette.   Diria depois, caso não tivesse solução.

15 dias depois, Rodolffo regressou ao médico e o diagnóstico foi o mais arrasador possívelvel.  O seu rim tinha parado completamente.

Ele não sentia dor, mas tinha o peso a aumentar e a ficar mais inchado.

- É isso mesmo.  Voltamos à Hemodiálise.

- Sério,  doutor.   Não há outra possibilidade?

- Não,  Rodolffo.   É a única solução.  Pode ser que apareça novo dador, mas já não é tão garantido uma vez que já foi transplantado uma vez.

Saiu dali arrasado.  Demorou para voltar para casa.  Queria tempo a sós para pensar na vida.

- logo agora com uma bébé.   Porquê meu Deus?

Como desta vez queria fazer as coisas certas entrou em casa e sentou- se para conversar com Ju.

Ela chorou por ele.  Sabia o quanto ele sofria após cada sessão  e o quanto sofreram os dois para que ele tivesse um rim.

- Eu sabia que estava certo em não querer o teu sacrifício.

- Não comeces com bobagens.  Deu certo, só não sabíamos que era tão pouco tempo, mas ainda assim valeu a pena.  Temos que ter fé.  Já superaste uma vez, vais superar muitas mais.  Hoje temos a nossa filhinha que nos dá força e esperança.

Juliette abraçou-o enquanto lhe dava beijinhos no rosto e pescoço.

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