10 - Everybody knows, sweetie

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Mônaco

  Charles observava a vista de Mônaco. Era uma terça feira de manhã, o monegasco tinha acordado se sentindo estranho e inquieto. Ele tentou tocar piano, mas os seus dedos não fluiam nas teclas, ele tentou assistir algo, mas ele não conseguia focar em nada, então ele pegou a sua garrafinha, seus air pods e saiu de casa para correr.

  Correr sempre esvaziava a sua mente. O movimento do seu corpo, o vento batendo, o suor se formando, isso sempre fazia ele se sentir melhor. Além de unir o útil ao agradável, o "estar em forma" e o "gastar toda essa energia acumulada".

  Ao final do seu trajeto, tinha um tipo de mirante, onde de lá de cima, você era capaz de observar tudo o que estava lá em baixo. Quando ele era menor, ele costumava vir aqui com os seus irmãos e o seu pai, eles compravam sorvete, se sentavam nesse mesmo banco e costumavam brincar de "eu vejo com os meus olhinhos", mas eles cresceram e ficaram velhos demais para essa brincadeira, pelo menos era o que o Lorenzo falava, porquê para o Charles e para o Arthur a graça sempre era a mesma.

  Quando o pai deles morreu, os três voltaram sozinhos nesse mesmo ponto, mas dessa vez eles se sentaram em silêncio no mesmo banco e ficaram olhando o mar abaixo deles. Eles ficaram horas só observando a vista, o sentimento fúnebre podia ser cortado com uma faca no ar, Charles se sentia tão perdido que ele nem estava enxergando nada realmente, até que o Arthur abriu a boca primeiro para falar.

– Eu vejo com os meus olhinhos um carro que o papai iria gostar – E quando o Charles olhou para a rua abaixo deles, tinha uma Ferrari Testarossa em perfeito estado andando como se desfilasse.

  Charles sentiu um aperto no peito naquela hora, tudo o que ele mais queria era virar para o seu pai como sempre eles faziam e gritar "olha papá, olha aquele carro", mas ele não estava lá e ele não poderia fazer isso.

  Depois daquele dia, Charles nunca mais sentou nesse banco. Ele passava por aqui, por ser uma boa rota de correr, mas ele nunca mais parou para admirar a vista, para brincar de "eu vejo com os meus olhinhos" ou qualquer coisa que seja. Mas agora o monegasco estava lá e admirava o sol, o mar perfeitamente azul, os barcos e os carros caros que passavam.

  Charles se sentia tão perdido, que ele tinha chego quase de modo inconsciente neste lugar, mas agora ele se sentia melhor, se sentia mais confortável, porquê naquele lugar ele se sentia mais próximo do seu pai. O que mais o monegasco queria fazer agora era abraçar o seu pai e contar pra ele sobre o Carlos, sobre ele estar se descobrindo e pedir conselhos para ele. Charles sabia que o seu pai não era homofóbico e que receberia a notícia de braços abertos, mas ele queria conselhos, os conselhos sábios que só um pai poderia dar para um filho, mas mesmo que Hervé não pudesse falar mais, Charles se sentia de alguma forma acolhido pelo lugar, sentia a presença do seu pai te abraçando e isso já era confortante o suficiente.

  Charles começou a prestar atenção nos detalhes lá em baixo, como se estivesse brincando mais uma vez com os seus irmãos, e ele via diversas coisas que ele nunca tinha reparado, como: a quinta pilastra da esquerda pra direita na área dos barcos estava torta, como se algum cabaço tivesse batido nela, provavelmente bêbado voltando de alguma festa. O restaurante favorito deles que ficava um pouco mais a esquerda, não ali na área dos barcos, tinha mudado a faixada e colocado um novo letreiro. A árvore que o Charles e o Arthur usavam de obstáculo para brincar de pega pega quando era mais novos estava bemmm maior.

  E depois de reparar essas coisas, ele começou a reparar nas pessoas, nas famílias, nas pessoas atrasadas pro trabalho ou para a faculdade, nas pessoas que saiam para caminhar nesse horário também e ele viu uma gama muito variada de roupas de academia naquele dia, mas o que ganhou a sua atenção mesmo foi um casal.

UNTIL THE END - C²Onde histórias criam vida. Descubra agora