🍒 | capítulo um.

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— Droga!

Debruçado sobre a escrivaninha em seu quarto, Jisung suspirava ao olhar as folhas rabiscadas em seu caderno. Talvez já estivesse bem perto de completar um mês que não conseguia tirar de sua mente uma letra sequer para entregar à gravadora.

Não era capaz de decifrar o mistério da sua perda repentina de inspiração e criatividade. Estava com um bloqueio enlouquecedor. Não é hora pra isso, ele pensava. Devia estar com no mínimo três novas canções e até então nada.

Muitos artistas estavam chegando, jovens como ele, entregando tudo que podiam e se preparando para serem lançados a carreira tão sonhada. Ele não entendia seu problema, e estava longe de querer descobrir, ele queria mesmo é fazer música. A todo custo.

— O que eu faço...?

— Você precisa relaxar um pouco, sair mais, ver gente. Talvez respirar com calma e pensar menos. Você pensa demais! Sério, uma hora sua cabeça ainda vai sair fumaça, seus neurônios tão torrando.

O jovem músico olhou para o amigo em sua cama, estava com o cachorro em seu colo mas não o segurava, apoiava as mãos sobre o colchão e o olhava como se tudo fosse simplesmente fácil. Mas para Jisung, nada nunca foi fácil assim.

— Hwang Hyunjin, eu tenho coisa mais importante a fazer do que ficar vendo gente. — O esnobou. — Minha vida não é incrível como a sua, infelizmente eu tô tendo que me desdobrar pra continuar naquele lugar.

— A-ha!! É esse, esse é o seu problema cara! — Apontava. Sua movimentação repentina havia assustado o cachorro que pulou de seu colo para o chão e era acompanhado pelos olhos de Jisung. — Você fica preso nessa ideia de que precisa entregar tudo, que precisa retribuir o investimento e blá blá blá... Han Jisung, como é que você vai encontrar inspiração trancado num quarto e isso quando não é naquele estúdio maldito que tá te sugando.

— O que você quer que eu faça?! Eu disse pros meus pais que isso daqui ia dar certo, eu dei minha palavra e agora...

— E eu volto a perguntar, como é que você vai encontrar inspiração trancado aqui? Eu não sou compositor, mas sou artista como você. Como escreveria poemas, faria pinturas e fotografias se eu me limitasse a quatro paredes? Você tá forçando sua mente a ter picos de criatividade sem alimentar ela. Você é burro ou é idiota?

— Eu não sou burro!

— Ah sim, então é idiota.

— Por que a gente é amigo mesmo?

— Agradece a Deus seu otário. Somos só dois jovens, estamos entrando na vida adulta ainda, você age como se o mundo tivesse acabando hoje, agora.

Hyunjin lançou um travesseiro sobre o amigo ao que viu o revirar dos olhos em desgosto. Aquela amizade nem sempre foi assim.

Quando se conheceram, Jisung parecia difícil de se aproximar, era tímido e mal olhava nos olhos. Mas, a frequência a qual se esbarravam na cafeteria onde Hyunjin amava sentar todas as sextas — para apreciar um bom livro e a manhã em Paris —, o fez se interessar pelo garoto.

Jisung costumava levar seu violão para a praça de frente ao estabelecimento e cantava ali, sendo apreciado pelas pessoas que passavam. Suas melodias eram boas e agradavam a Hyunjin.

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