🍒 | capítulo três.

100 15 46
                                    

— Eu quero lançar um livro...

Olhando para o teto branco do quarto, Jisung confessava, quebrando o silêncio profundo que havia se instaurado entre eles desde que chegaram do passeio no festival.

— Sobre poemas?

— Poema é coisa de viado!

— Pior que é verdade né?

— Um viado tipo o Tchaikovsky...

— Nossa, isso é muito real, aposto que ele tinha um caso com Vivaldi.

— É mesmo...

Hyunjin olhou para Jisung e foi encarado de volta, em questão de segundos eles foram tomados por uma onda de risos que evoluíram para gargalhadas e aos fundos se ouvia alguns latidos do  pequeno poodle, que não compreendia nada do que acontecia.

— Obrigado por me tirar de casa, Sam... — Disse por fim quando o silêncio pretendia retornar. — Faz tempos que não me divirto tanto.

— Hm. — Dando de ombros Hyunjin apenas esboçou um pequeno sorriso, não era como se ele estivesse fazendo algo tão grande assim, era só um amigo tentando lembrar ao outro que a vida não para quando algo não dá certo. — O que você achou dela...?

Virando-se sobre a cama, ele se apoiou sobre os cotovelos para olhar melhor o amigo. Jisung tinha seus olhos no teto e os dedos entrelaçados sobre a nuca.

— Dela? — Questionava receoso. — Você diz a garçonete?

— A garçonete tem nome, e ela se chama Felicia!

Jisung apenas ignorou a correção do amigo pensando sobre a noite, sobre ter cantado no café depois de tanto tempo, sobre a forma como Felicia o olhava maravilhada pelos acordes de improviso. Ele pensou sobre como os dias têm sido esgotantes horas de tentativas falhas em criar letras que nunca tinham nexo, nunca fluíam. E sobre como Hyunjin estava coberto de razão quando dizia que se privar de viver sua vida não lhe traria alguma inspiração sequer.

Apenas frustração.

— Eu acho que... queria ter tido mais tempo pra falar com ela.

— Então por que não fala? — Sugeria vendo o olhar do mais velho recair sobre si. Jisung não era bom com os primeiros contatos. — Volta a frequentar o café, vá tocar piano, violão, guitarra... sei lá. Por que você tá se limitando a criar música trancado num quarto ou num estúdio se suas inspirações tão lá fora? Pensa nisso.

— Sinceramente? Não faço ideia, eu só sei que ultimamente me questiono se eu realmente quero isso...

— Como assim?

— Ah, você sabe, me tornar cantor, viver isso. Às vezes eu acho que na verdade me cairia muito bem se eu só tentasse levar uma vida comum, de uma pessoa anônima e aleatória.

Hyunjin não esboçava qualquer opinião sobre aquilo, era um sentimento particular, um conflito interno que seu amigo vinha enfrentando, e para descobrir sua verdade absoluta ele teria de se permitir viver tudo, para que no fim pudesse encontrar sua resposta.

Ele confiava que em algum momento Jisung iria perceber que tudo não passava de um momento ruim mal enfrentado.

— Okay, okay... acho que você tem tempo pra pensar sobre isso. — Dizia enquanto se concentrava em amarrar o cadarço do tênis após se sentar na beira da cama. — Agora eu preciso ir, amanhã cedo vou com minha mãe assistir a apresentação de ballet da Yeji. Inclusive, se você quiser ir com a gente, ela vai gostar de te ver.

— Ah... foi mal, acho que amanhã não rola. Mas vou lembrar de mandar flores a ela!

Hyunjin não contestou, apenas aceitou a resposta enquanto vestia seu casaco caminhando até o espelho. Seu cabelo era longo e loiro, combinava inegavelmente com seus traços, além de lhe dar um charme que ele amava exibir. Estava o ajeitando enquanto olhava pensativo.

𝐅𝐄𝐋𝐈𝐂𝐈𝐀Onde histórias criam vida. Descubra agora