PRÓLOGO

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ANNELIZ COLLEMAN

A noite fria caía sobre São Francisco como um manto de mau presságio, e eu, encerrava mais um dia exaustivo, sobrecarregada da papelada que poderia ser feita por outros, mas que deixaram sob minha responsabilidade. Realizar meus sonhos nessa cidade parece cada dia mais distante, devido as atribulações que transformaram minha vida pessoal e o meu trabalho.
O escritório tornava-se cada vez mais solitário a cada hora que passava, mas meu extenuante expediente se estendia, sugando energia do meu corpo que clamava por descanso. Após finalizar todos os tópicos da apresentação da campanha de amanhã, finalmente posso ir para casa, já me vejo sob uma ducha morna e demorada revigorando cada centímetro de pele exaurida dessa luz artificial. Afinal, nada como um bom banho relaxante para pôr os pensamentos em ordem.
Ao entrar no elevador, lembro que sexta-feira será o aniversário da minha filha e mesmo tendo planejado uma festa esse ano, estou decepcionada comigo mesma por não conseguir fazer do jeito que eu queria. Os acontecimentos recentes, roubaram meu tempo para a organização, o dinheiro que pensei em investir e por último, não sei se temos psicológico para comemorações…
Saindo do elevador, me despeço do segurança com um boa noite sem graça e vou andando depressa para a saída lateral do estacionamento subterrâneo. Um aperto em meu peito faz com que tenha pressa, uma pressa sem explicação.
Chegando no pavimento inferior deserto, a iluminação baixa dá um ar fantasmagórico com sombras dançantes que só existem na minha imaginação. É um palco perfeito para a apreensão, apresso o passo, o eco dos meus saltos cria uma sinfonia solitária. Cada passo ecoa como uma batida nervosa, porque se alguém estiver escondido perceberá minha presença.
O ar condensado do espaço subterrâneo parece sufocar, olho ao redor buscando companhia, mas é em vão. O barulho ocasional de uma buzina faz o meu coração disparar. Um ruído, antes imperceptível, torna-se uma ameaça potencial na mente. Chegando ao meu veículo, trêmula de um medo que nunca senti, procuro as chaves na pequena bolsa para desativar o alarme. Devia ter procurado enquanto andava.
— Onde está você? Merda, onde enfiei esse controle? — amaldiçoo até que por fim, consigo encontrar. Rapidamente desativo o alarme e entro no carro. Suando bicas deixo sair o ar dos pulmões em alívio.
Não devia ter ficado até essa hora da noite no trabalho. O trajeto até minha casa é um pouco longo, ainda bem que avisei dona Matilda, para buscar Juliete na escolinha, pois iria me atrasar.
Minutos depois, estaciono em frente ao prédio onde moro. Achava que a pior parte era no estacionamento das empresas Latarge, mas vejo que a rua deserta é ainda mais assustadora.
Antes de sair do carro, dou uma conferida na bolsa para confirmar sobre meu spray de pimenta. Ao sair, fecho o veículo olhando se há movimentação na rua. Andando poucos metros até a entrada do prédio, um zumbido distante de uma lâmpada defeituosa me distrai. O medo aumenta quando noto a solidão da noite ao redor.
A chave do portão treme entre os dedos, um arrepio me alerta para algo errado. Concentrada na tarefa de abrir o portão não percebo a ameaça se materializar ao meu lado.
Das sombras, surge um homem grande, mascarado e meu coração acelera. A voz baixa e ameaçadora me apavora.
— Passa a chave do carro!
Vasculho a bolsa atrapalhada e não encontro a chave.
— Vamos, vadia! Melhor obedecer se não quiser se machucar!
Ele agarra meus cabelos puxando forte, mas antes que o medo tome conta, algo improvável acontece.
A mão no meu cabelo afrouxa o seu aperto e quando me viro em sua direção, vejo meu herói salvador afastando o perigo e transformando o potencial pesadelo em alívio, ao aplicar um mata leão no bandido, largando-o desacordado no chão.
O choque da situação me faz verter as lágrimas como rios e meu corpo começa a tremer violentamente dos pés à cabeça. A bolsa cai no chão espalhando os objetos pessoais na calçada. Ele junta tudo de volta no lugar e abre o portão com segurança.
— Ei, querida! Está tudo bem agora, já passou. Vou levar você para dentro. Se acalme.
Meu salvador, me pega nos braços como se eu não pesasse nada. Observo dois de seus seguranças se aproximando, ele os encara nervoso e logo dispara ordens.
— Berth, dê um jeito nesse infeliz, leve para a delegacia que vou até lá em seguida! Adam, você vem comigo.
Subimos o lance de escadas até minha porta, inspiro o perfume que amo assim que escondo meu rosto em seu peito, ele me enche de boas lembranças, os braços fortes me segurando e o calor de seu corpo começam a acalmar meus nervos.
Jamais esperei vê-lo em uma circunstância como esta. Nossa relação está tão fria e casual que ele aqui é surpreendente.
— Já estou melhor, posso abrir a porta — assim que me coloca no chão ao seu lado, limpo o choro um pouco envergonhada.
Ele segura preocupado meu rosto entre as mãos:
— Você está ferida? Aquele merda te machucou, Liz?
— Não, graças a você. Obrigada!
— Onde está Juliete?
— No apartamento da dona Matilda. Falei com a ela antes de sair da empresa.
Entramos em casa com ele nervoso me seguindo sem pedir permissão se poderia ou não fazer essa escolta, começa a andar de um lado para o outro na minha sala minúscula.
— Vou fazer um chá antes de buscar a Juju, preciso me acalmar. Você quer um café? — Sei que deveria estar muito grata, mas por sua atitude, já imagino que vem uma bronca das grandes.
— Quantas vezes conversamos sobre ficar nesse lugar? Não podem morar aqui! E o que deu em você para ficar no trabalho até essa hora, AnneLiz?
Seguro as lágrimas que ameaçam retornar, dentro de mim há um conflito de sentimentos, bons e ruins, esse homem não pode saber a verdade, infelizmente mentir é o que devo fazer. Respiro fundo tentando manter o controle, definitivamente não vou mostrar vulnerabilidade nesse momento. Preciso ser forte para não perder minha filha.
— Acho melhor ir para a sua casa. — As palavras não saem no tom que pretendia. — Obrigada por sua ajuda, mas já estou bem, segura, estou…
— Você não respondeu minha pergunta! Por que ficou até tarde na empresa? Não esconda as coisas de mim!
Deixo uma risada furiosa no ar.
— Não é preocupação comigo, é ciúmes puro e simples. Fiquei terminando a apresentação de amanhã, porque vou precisar sair mais cedo para comprar um bolo no dia do aniversário da minha menina.
Vejo seu olhar suavizando ao se aproximar tentando um contato. Estendo a mão impondo limites e digo friamente:
— Esse é mais um motivo de não estarmos juntos. Você não confia em mim! — ele não se detém e segura minhas mãos.
— Você que é covarde. Pedi para confiar em mim, você confiou?
Desvio os olhos do seu rosto aflito. Não queria terminar, mas não tive outra opção, usariam nossa relação contra mim.
— O que estava fazendo na minha rua? — aproveito para mudar de assunto.
Ele se afasta rapidamente e disfarça pegando uma xícara na parte mais alta do armário.
— Queria te ver, falar com você, e ... cheguei na hora certa, sua ingrata! — Estreito o olhar, meu ex-namorado me segue na surdina, mas não consegue mentir.
— Não sou ingrata! Você não tem mais que se sentir responsável por mim!
— Sempre vou cuidar de vocês, AnneLiz. Não importa se terminamos ou não, entenda isso! Vou deixar Adam vigiando o prédio até resolver essa questão da sua segurança.
Sirvo o meu chá assim que fica pronto, de queixo erguido, encaro os olhos castanhos. O fogo está ali, no olhar quente e intenso.
— Não adianta argumentar com você, né?
— Você sabe que não. Agora preciso ir à delegacia cuidar daquele bandido. Você vai ficar bem?
— Vou, obrigada. Deixe a porta aberta, vou em seguida buscar Juliete.
Com o aceno de sempre, ele sai. Bebo um gole de chá, sorrio melancólica pela conversa dele com o segurança no corredor.
— Você fica de guarda até de manhã, mando um carro te buscar.
— Mas chefe, ainda nem fiz a pausa do jantar?
— Delivery, porra! Mas daqui você só sai se quiser outro emprego.
— Entendido!
— E mais uma coisa. Não ouse ficar de conversinha com a minha mulher, se souber de qualquer coisa diferente além da sua guarda, vai se ver comigo.
— Sim, senhor.
— E Adam? Pode pedir o jantar onde quiser, não se preocupe com os custos, só não deixe ninguém entrar aqui.
— Obrigado, chefe.
Mandão e arrogante como sempre, escondendo o coração gigante de homem justo. É uma pena não ser mais sua mulher. Deus sabe o quanto dói constatar isso.
Se não fosse por ele, eu e Juliete estaríamos na pior. Jamais esperei uma atitude dessas depois da forma que terminamos.
— Meu herói mandão...
A armadilha que o destino armou para nós dois essa noite foi cruel. Vê-lo e conversar com ele é ainda pior. Será mesmo que minha sina é sofrer calada sem poder amá-lo?

ESPERO QUE GOSTEM DESSA AMOSTRA QUE VOU DEIXAR PRA VCS❤️

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