CAPÍTULO 1

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ANNELIZ COLLEMAN

MUITO ANTES DO PRÓLOGO

Enquanto trabalhava concentrada diante a tela do computador, no atual projeto de marketing da empresa, em minha sala, passei as horas do dia planejando como chegar e pedir por uma dispensa ao meu supervisor. Sabendo da antipatia do senhor Jason Anderson por mim, como sua primeira resposta, já imagino um sonoro NÃO.

Mas, para minha filha, faço qualquer coisa que puder, mesmo que para isso tenha que transpor o seu mau humor rotineiro. Juliete é meu tesouro, jamais recuso algo ao meu alcance para educá-la da melhor maneira. Quero criá-la com a inocência de uma criança que possui uma família comum e não em um lar quase desfeito. Juju será uma mulher de caráter e decência assim como fui ensinada a ser.

Enquanto ando em direção a sua sala, penso em Juliete. Minha menina é sonhadora, de alma bondosa e gentil, não tem noção alguma do dilema que é o casamento dos pais. De como Daniel é verdadeiramente.

E quando o aniversário dele se aproximou, ela em toda sua doçura, insistiu em fazer uma surpresa para o papai. Nunca peço nada ao meu supervisor, mas hoje quero pegar Juju na escolinha para fazer esse agrado, mais a ela do que ao meu marido. Ele definitivamente não é merecedor.
Chega por fim, a hora da verdade. Levanto, ajeito a minha roupa:

— Seja o que Deus quiser! — Faço o sinal da cruz e vou em direção a sua sala.

Com passos vacilantes, ergo minha mão trêmula até a maçaneta, olho para frente e leio a placa dourada escrita ‘Jason Anderson’ com a certeza de quanto pode ser duro o homem atrás dela, o que me faz soltar o ar pesadamente antes de bater.

— Entre! — A voz pigarrenta é irritada do outro lado. Como sempre está de péssimo humor.
Obedeço e fecho a porta ao entrar.
— Boa tarde, senhor Anderson. — Tento ser gentil o máximo que posso.
— Fale logo, AnneLiz! Não vê que estou atolado de trabalho?
— Bom, gostaria de sair mais cedo para pegar Juliete no Jardim de infância — o olhar que me é dirigido é fulminante... Merda! São só uns quarenta minutos mais cedo, mas para ele parece um dia inteiro perdido e se tratando de mim é uma ofensa brutal a Jason.
— É aniversário do pai dela e queremos lhe fazer uma surpresa.
— Não entendo, ainda quer agradar aquele traste?
— É o pai dela, senhor, sabe como são as crianças, apegadas e completamente inocentes aos problemas dos pais.
— Ok... — bufa voltando a conferir os relatórios sobre a mesa. — Mas compense os minutos que sair hoje, portanto chegue mais cedo amanhã.
Concordo a contragosto.

Velho muquirana! Como se eu não fizesse horas extras suficientes sem receber quando as vendas estão empacadas.
Ajeito a roupa, agradecendo de forma cordial e saio com um sorriso engessado na minha cara. Se não precisasse tanto desse emprego, já o teria mandado enfiar esse ego machista bem naquele lugar…

Às vezes maldigo minha própria sorte, com meu currículo poderia almejar algo melhor, mas as coisas aconteceram de uma forma tão inesperada, que foi melhor um salário garantido no fim do mês, do que o sonho da graduação em uma carreira que não havia vagas no momento de necessidade.

O que me resta é ser grata pelo emprego que me possibilita criar minha menina. Minha doce Juliete!
De volta a minha mesa, desligo o notebook, pegando a bolsa e o celular apressada em direção ao elevador.
Andando até o veículo que pedi pelo aplicativo, vou remoendo a situação de não ter conseguido comprar um carro para pelo menos trabalhar. Não sobra nada para guardar no final do mês e aquele encosto do Daniel, em vez de ajudar, tira de mim o pouco que consigo economizar.

Faço uma prece silenciosa dentro do veículo a caminho da escola, rogando a Deus um futuro melhor para Juliete, um que ela seja bem sucedida na carreira que escolher e que tenha sorte melhor com um homem decente e gentil, se assim ela desejar.

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